12 doenças perigosas para a gravidez

Roberta Manreza Publicado em 03/02/2016, às 00h00 - Atualizado às 09h52

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3 de fevereiro de 2016


Seu corpo dá sinais quando algo está errado. Durante a gestação, fique atenta aos sintomas das infecções mais comuns para proteger você e seu filho

Por Cida de Oliveira e Maria Clara Vieira Crescer Online

Foto: Thinkstock

Um mal-estar aqui, febre ali, dor acolá. Não importa se os sinais são brandos: eles podem indicar a presença de fungos, bactérias, vírus ou protozoários que prejudicam tanto a mãe como o bebê durante a gravidez. Todo cuidado é pouco. O corpo e o sistema imunológico feminino sofrem alterações que facilitam a proliferação dos micro-organismos causadores de doenças, inclusive aqueles capazes de atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento do bebê. É por esse motivo que, após a primeira consulta dopré-natal, a mulher sai com uma lista enorme de exames para fazer: desde sorologia para HIV, toxoplasmose e rubéola até coleta de urina para detectar infecções no trato urinário.O período da gestação em que elas ocorrem faz toda diferença: quanto antes, pior. No terceiro trimestre, o bebê já está formado e é menos vulnerável, embora também possa sofrer sequelas. Mas nem sempre a criança é infectada quando a mãe adoece. Felizmente, caso haja o contágio, hoje é possível tratar ou controlar a maioria dessas infecções. Entre as mais frequentes estão a urinária, a candidíase e a vaginose. Porém, todas merecem atenção. Veja a seguir quais são, saiba como evitá-las e conheça os tratamentos disponíveis.

1. Infecção urinária

Desconforto, dor e ardência ao fazer xixi: se você é mulher e nunca teve, a chance de que isso aconteça em algum momento é grande. Metade das mulheres contrai a doença pelo menos uma vez na vida e, se você for gestante, está no grupo de maior risco. Entre as infecções causadas por bactérias, as de urina são as mais comuns, segundo a literatura médica. “Alterações funcionais e anatômicas dos rins e das vias urinárias durante a gravidez facilitam infecções, assim como o histórico prévio e diabetes”, explica Reynaldo Augusto Machado Junior, ginecologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Apesar de não causar alterações fetais, se a infecção não for devidamente curada restringe o crescimento do bebê e leva até ao parto prematuro. Em casos muito graves que não são tratados, pode haver morte de mãe e filho. Em algumas situações, a doença deve passar despercebida: a chamada bacteriúria assintomática não apresenta sintomas e, justamente por isso, é maior o risco de evoluir para quadros graves. O problema é detectado com exame de urina, que deve ser feito pelo menos duas vezes no pré-natal. Para tratar, são usados antibióticos.

2. Doença periodontal

A periodontite é uma infecção causada pelo crescimento de placa bacteriana por baixo da gengiva, o que origina uma inflamação da membrana que envolve o dente. A gengiva fica inchada, avermelhada, sangra, apresenta mau cheiro e, em situações mais críticas, a pessoa pode perder os dentes. Ao observar os sintomas, a mulher deve procurar logo a ajuda de um periodontista. É que, se não for tratada, pode desencadear outras infecções por todo o organismo, além de acelerar o trabalho de parto. Entre as suas causas estão o aumento de hormônios durante a gravidez, a tendência individual a esse tipo de problema e a falta de cuidados higiênicos. Um estudo realizado pela Unicamp com 334 gestantes de baixa renda revelou que 47% delas tinham a infecção. O alto índice foi atribuído ao estado precário da higiene oral da população pesquisada. Para manter a saúde bucal, a mulher deve visitar o dentista a cada seis meses e pelo menos uma vez durante a gravidez.

3. Vaginose bacteriana

Trata-se de um distúrbio que afeta a flora vaginal: ele diminui os lactobacilos que protegem a região e eleva a quantidade de bactérias, como a Gardnerella vaginalis. O resultado é um corrimento de cheiro forte. Uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz revelou que 30% das gestantes estudadas apresentavam vaginose. “Essa infecção está associada com a ruptura da bolsa e o trabalho de parto prematuro”, diz o ginecologista Gutemberg Leão Filho. A doença é diagnosticada por meio de análise do material coletado da vagina. O tratamento acontece por via oral ou vaginal – por não ser uma doença sexualmente transmissível, não é necessário tratar o parceiro. Não há como prevenir, porque ela aparece na gravidez devido, principalmente, à baixa imunidade. Acredita-se que o estresse também contribua para o surgimento do quadro.

4. Rubéola

Na mulher, a doença é simples de tratar com analgésicos e antitérmicos – os sintomas são parecidos com os da gripe. O grande perigo é o vírus invadir a placenta e infectar o bebê, porque pode provocar anomalias graves, surdez e problemas na visão. No caso de infecção durante a gravidez, o acompanhamento médico é imprescindível. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), quando a mãe tem rubéola, o risco de contaminar o bebê chega a 80% nos primeiros três meses de gravidez. O Togavírus, que causa a doença, altera a reprodução de todas as células. Pode ser letal nas primeiras semanas ou desencadear prejuízos que só serão percebidos mais tarde, muito depois do nascimento. A contaminação se dá por via respiratória, por meio de gotículas expelidas no ar. Os médicos recomendam que, antes de engravidar, a mulher faça a sorologia para saber se está imune. Se não estiver, deve tomar a vacina tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola), disponível na rede pública de saúde, três meses antes de engravidar. Estudos recentes mostram que o imunizante, feito com o vírus atenuado, não compromete a formação do bebê. Mas a maioria dos médicos ainda não indica tomar durante a gravidez – para evitar inseguranças maternas, e, como as evidências científicas não dão 100% de certeza, descartar a possibilidade de que ela seja a causa de algum problema no feto.

5. Toxoplasmose

Disparada por um protozoário, a infecção se manifesta com sintomas diversos, desde os que se confundem com os da gripe até vômitos e gânglios pelo corpo. Uma das formas mais comuns de transmissão é pelas fezes dos gatos, ainda que eles não aparentem estar doentes. Por isso, os médicos recomendam que as gestantes evitem fazer a limpeza da caixinha ou entrem em contato com gatos desconhecidos. Além disso, deve-se evitar a ingestão de carne crua ou malpassada e lavar muito bem frutas, legumes e verduras. O risco de transmissão para o recém-nascido é de até 2,5%. Quando a infecção acontece no primeiro trimestre,15% dos casos terminam em aborto ou sequelas graves. Se ocorrer no segundo, 25% dos bebês podem manifestar problemas sérios, como os oculares.

6. Citomegalovírus

Esse micro-organismo da família dos vírus da catapora e do herpes é transmitido por transfusão de sangue, via respiratória (como a gripe) ou da mãe para o bebê. Ele afeta entre 0,4% e 6,8% dos recém-nascidos no Brasil. Durante a gestação, pode ser combatido com antivirais que diminuem, porém não zeram, o risco de complicações para o feto. Como o vírus ataca os tecidos cerebrais, causa malformações no sistema nervoso central. Também é capaz de provocar surdez, dificuldades de aprendizado e, se for grave, pode matar.

7. Hepatite B

O vírus por trás da doença, o VHB, está associado à cirrose hepática e ao câncer no fígado. Para se prevenir, basta estar em dia com a vacina – são três doses e ela pode ser tomada durante a gravidez. A transmissão ocorre pelo contato com sangue infectado, por relações sexuais e durante o parto, da mãe para o filho. É possível ter parto normal. Logo em seguida, no entanto, o bebê deve tomar um banho, para reduzir a exposição ao sangue materno, e receber a vacina contra a doença. A Organização Mundial de Saúde não contraindica a amamentação caso a mãe esteja infectada.

8. Aids

Segundo o boletim epidemiológico de 2013 do Ministério da Saúde, no Brasil, 718 mil pessoas vivem com o vírus HIV, causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Sintomas como febre, manchas e dores pelo corpo às vezes surgem poucas semanas após a contaminação. “O parto vaginal pode ser feito se a quantidade de vírus no organismo – a carga viral – for menor do que mil cópias por mililitro. Do contrário, a mulher deve ser submetida à cesariana antes que entre em trabalho de parto, para não infectar o bebê”, indica Philippe Godefroy, coordenador do serviço de Tocoginecologia do Hospital Estadual dos Lagos (RJ). Ao nascer, a criança é banhada imediatamente, para reduzir o contato com o sangue materno, e logo recebe a primeira dose do AZT xarope, droga antirretroviral. O bebê não pode ser amamentado no peito, porque o HIV está presente no leite.

9. Candidíase

Coceira na vagina, ardor, corrimento esbranquiçado e dor durante as relações sexuais podem ser indícios da doença, que é engatilhada por fungos. O problema aqui é o desconforto que a mulher sente, já que a infecção não acarreta males ao feto propriamente. A candidíase é detectada por meio de exame clínico ginecológico e está associada à baixa imunológica pela qual toda gestante passa. A mulher deve se submeter a tratamento por via vaginal, com pomadas antifúngicas receitadas pelo especialista. Um levantamento da Universidade de Buenos Aires concluiu que, de 493 gestantes pesquisadas, 28% apresentavam a infecção pelo fungo Candida albicans, que vive no nosso trato intestinal.

10. Sífilis

A doença se manifesta com manchas no corpo, lesões, verrugas e úlceras na vagina. Caso o micro-organismo passe pela placenta nos três primeiros meses de gestação, pode provocar aborto. “O risco de morte fetal cai a partir da metade da gravidez, mas permanece a chance de haver trabalho de parto prematuro”, aponta Philippe Godefroy. A infecção acontece por transfusão sanguínea ou relação sem o uso de preservativo. A cura, tanto da gestante como do bebê que nasce, se dá pelo uso de antibiótico por via endovenosa.

11. Herpes genital e catapora

O tipo 2 do vírus da família do herpes é o que causa lesões genitais. Ele é transmitido por atrito com a ferida. Se a infecção acontece durante a gravidez, é preciso cuidado, pois o primeiro contato com o vírus costuma ser o mais grave. Com o bebê, a preocupação é na hora do nascimento: se a mulher teve lesões nos 30 dias que antecedem o parto, é recomendável fazer cesárea para não expor a criança ao vírus. O tipo 3 (varicela-zóster), da catapora, contamina por via respiratória. Quem nunca teve a doença nem foi imunizada deve se vacinar antes de engravidar. Caso seja infectada, o tratamento apenas alivia os sintomas. Se o vírus passar para o feto, pode haver sequelas na pele e no cérebro e até risco de aborto.

12. Zika

Febre baixa, dores leves nas articulações, coceira, manchas vermelhas pelo corpo. Aparentemente, a doença causada pelo vírus Zika, que é tranmsitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, parece mais inofensiva que a dengue, já que seus sintomas são mais brandos. No entanto, no caso das gestantes, a doença pode ter efeitos graves sobre o feto. Ainda não se sabe ao certo de que forma o vírus Zika, que consegue atravessar barreira placentária, é capaz de afetar o desenvolvimento neurológico do bebê. O fato é que, ao que tudo indica, ele pode causar microcefalia, uma má-formação que está associada com retardo mental em 90 % dos casos, e outras síndromes como a de Guillain Barré. Ainda não se sabe a prevalência dessas síndromes nas gestantes que contraíram a Zika e nem existe por enquanto uma vacina capaz de prevenir a doença. A recomendação, portanto, é evitar ao máximo o contato com o mosquito, com a utilização de roupas de tecidos claros que cubram braços, pernas e pés e uso de repelentes próprios para gestantes nas áreas expostas.

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