2020: o ano “D” dos relacionamentos

Mariana Kotscho Publicado em 21/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h33

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21 de dezembro de 2020


A pandemia, além das contaminações pela COVID-19, trouxe muitos outros lutos. Foi o luto das visitas, do abraço, dos passeios. Luto pelo espaço, antes delineado e agora excessivamente compartilhado.

Foto: Kelly Sikkema/Unsplash

Os lutos trouxeram confusão e dor, exigiram adaptação e criatividade. Mas algo mais chegou com o Coronavírus: o escancaramento das situações que até então era possível disfarçar, deixar para depois.
Além do prejuízo na saúde psicoemocional, os relacionamentos também sofreram. Falando de casamento, casais perceberam os desníveis, as (faltas de) prioridades, a dificuldade da colaboração. A COVID-19, nesse sentido, foi uma lupa impossível de negar. Só em maio e junho deste ano, o número de divórcios consensuais realizados pelos cartórios de notas do país, aumentou em 18,7%, acréscimo sentido em 24 estados brasileiros.
Mulheres e mães, especialmente, tombaram na loucura de dar conta de tudo. O estresse da mistura de filhos + casa + casamento + home office – não necessariamente nessa ordem simplesmente porque não havia ordem alguma – pôs abaixo muitos “felizes para sempre”.
Maridos e pais que não presenciavam, por exemplo, o cotidiano de uma mulher que cuidava da casa e dos filhos em tempo integral, puderam perceber a rotina. Muitos, entretanto, demoraram para perceber que o momento pedia mudança e que a participação mais efetiva em toda a demanda caseira precisava acontecer. As mães que trabalham “fora” se viram sobrecarregadas com a tripla jornada toda misturada e com interrupções constantes.
No meio do caos, as diferenças sobre a maneira de lidar com o Coronavírus também pesaram. Pessoas mais preocupadas com as medidas de prevenção casadas com outras menos cuidadosas se viram num embate diário, desgastante e, por vezes, desrespeitoso.
Nesse cenário, a violência contra a mulher, que já era severa antes da pandemia, aumentou junto com os casos de abuso sexual infantil.
O lockdown, em todos os sentidos, potencializou as dificuldades já existentes, mas também fortaleceu casais cujo convívio apresentou que havia mais em comum do que supunham. E, assim, fortalecidos em suas escolhas, puderam reafirmar o “sim”.
O fato é que 2020 será inesquecível para todas as famílias, para todas as pessoas. Será sempre lembrado como o ano “D”: desafiador, disparador (aquele que corre sem obedecer às rédeas) e desruptivo. Mas, também, pode ser reconhecido como o ano “R”: reflexivo, reavaliador e renovador.
Nem sempre temos a escolha em nossas mãos. Nesses momentos, a melhor maneira de lidar é deixar seguir. Com a fluidez sábia da vida, com o sentimento de que o melhor sempre acontece, com a garantia de que nada é imutável.
Que venha 2021 com seus novos desafios e conquistas!
*Por Acácia Lima, ONG Somos Mães



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