Escolas e Crianças

Ainda hoje parece haver em algumas escolas certa desinformação, para não dizer ignorância no sentido mais lato da palavra, acerca do que é uma criança, ou o que faz uma criança ser uma criança.

Roberta Manreza Publicado em 10/05/2018, às 00h00 - Atualizado às 09h30

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10 de maio de 2018


Por Prof. Dante Donatelli, educador

Ainda hoje parece haver em algumas escolas certa desinformação, para não dizer ignorância no sentido mais lato da palavra, acerca do que é uma criança, ou o que faz uma criança ser uma criança.

Por séculos nossa civilização viu, e entendeu a criança como um ser menor, inferior aos adultos ou mesmo como um adulto em miniatura, só entre os séculos XIX e XX que um conjunto de ciências e pensadores de muitos matizes entendeu e desenvolveu um punhado de estudos que tornaram claros a nós, hoje o que é ser uma criança. E gostem ou não, Jean Piaget foi o maior deles.

Em um resumo muito simples, a criança é um ser que desde sempre está em aprendizado, o tempo todo, a toda hora, indagando-se, perguntando e imaginando acerca de tudo que rodeia. Ora, a escola deveria entender isso como ninguém, e saber dividir esse conhecimento com as famílias. Mas na prática muitas delas simplesmente desprezam tais conhecimentos e tratam as crianças como pequenos adultos.

Criança nãopode e nem deve frequentar escolas que aplicam provas, que impõe lições de casa gigantescas que tomam horas de trabalho de uma criança ou acreditem que o comportamento é mais importante do que a atitude. Uma boa escola deveria tratar o desenvolvimento infantil como um processo rico no qual se vai transpondo etapas na qual se colocam marcos, e cada uma das crianças avançam conforme se dá o seu desenvolvimento.

Provas, carteiras ordenadas, chamadas e regras rígidas de comportamento meio até eficazes com adolescentes ou pré-adolescentes são profundamente ineficazes com crianças por quê? Porque as crianças não têm predisposições adolescentes, crianças são crianças e precisam de rotinas de aprendizagem que as conduzam para um estado de autonomia concreta.

A observância de rotinas com tempos bem marcados na qual se privilegia o paulatino aprendizado do corpo e da mente de uma criança, propicia que a maioria delas criem no decorrer da infância até as vésperas da puberdade um conjunto de hábitos úteis e inteligentes que serão o alicerce de toda vida adulta.

Ao se combinar escolas ignorantes do que é ser criança com famílias desprovidas de uma rotina consequente com seus filhos alavanca-se a “tragédia” conhecida por muitos, e vivenciada cotidianamente em muitas escolas, crianças com dificuldades profundas de interação ou de prontidão para responder as coisas mais banais da vida escolar.

Saber combinar boas rotinas, hora para tudo, com respeito a condição essencial da infância facilitaria a vida escolar de muitos na escola, desde, é claro, que a escola também tivesse alguma inteligência para lidar com as crianças.