6 medidas de baixo impacto e 6 soluções para a educação

Roberta Manreza Publicado em 17/07/2015, às 00h00 - Atualizado às 09h54

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17 de julho de 2015


Relatórios da Pearson analisam impacto de políticas educacionais na aprendizagem e sugerem ações para qualificar o ensino

POR MARINA LOPES – PORVIR

Dias letivos mais longos, classes com menos alunos e pagamento dos professores de acordo com o desempenho. Apesar de bem intencionadas, algumas das principais políticas de reforma adotadas por governos nos últimos 20 anos podem não gerar tanto impacto na aprendizagem dos alunos. Em dois novos relatórios encomendados pela Pearson, o professor e pesquisador John Hattie, diretor do Instituto de Pesquisas em Educação da Universidade de Melbourne, na Austrália, avalia essas estratégias com base em dados disponíveis sobre o que funciona e o que não funciona na educação.

De acordo com Hattie, muitas medidas populares para melhorar a educação agem apenas como uma política de distração. Embora custem bilhões de dólares aos governos, elas não apresentam resultados muito expressivos e desviam o foco do que realmente importa: garantir que os alunos tenham o progresso de pelo menos um ano para cada ano de empenho. Para isso, ele aponta que incentivar o trabalho conjunto entre os professores e investir na personalização do ensino podem ser estratégicas mais eficazes.

Crédito: JumalaSika ltd / Fotolia.com

No primeiro relatório, O Que Não Funciona Na Educação: a Política da Distração, a partir dos dados contidos no seu estudo Aprendizagem Visível (Visible Learning, do inglês), o professor de Melbourne apresenta algumas políticas de distração amplamente difundidas, porém, com baixo impacto:

1. Escolha da escola

Ao invés dos sistemas concentrarem esforços nas diferenças entre as escolas, um problema abordado no relatório é a variabilidade dentro de uma própria escola, mais especificamente as disparidades entre classes e professores. O pesquisador defende que a turma que um aluno estuda é mais importante e tem mais impacto na sua aprendizagem do que a escola como um todo. Dentro de uma mesma instituição podem ter turmas com desempenhos muito diferentes.

2. Formar turmas menores

Diminuir o tamanho das turmas pode agradar pais, professores e até mesmo líderes escolares. A estratégia traz uma sensação de atenção para as crianças, menos estresse para os professores e mais recursos para a escola. No entanto, os dados das pesquisas mostram que turmas menores apresentam pouco impacto na aprendizagem porque em geral os professores não mudam a sua maneira de ensinar. Para o pesquisador, a redução da classe deveria ser alinhada com investimento na especialização de professores para trabalharem de um jeito novo com turmas menores.

3. Investir mais dinheiro

Existe um apelo comum para que seja investido mais dinheiro na educação. Porém, o relatório aponta que há pouca relação entre mais dinheiro e a melhoria de resultados. O professor de Melbourne diz que o importante não é a quantidade do dinheiro, mas a forma como ele é gasto. A questão chave é como gastar o dinheiro de forma eficaz.

4. Pagar professores de acordo com o desempenho

Parece óbvio imaginar que oferecer incentivo para os professores ajuda a elevar o seu desempenho e isso tem impacto sobre o aprendizado dos alunos. No entanto, o estudo mostra que o efeito pode ser oposto. Isso aumenta o nível de estresse do profissional e diminui o seu entusiasmo. Ao invés do desempenho, Hattie diz que é melhor investir em remuneração para o aumento de qualificação do docente.

5. Usar a tecnologia como mágica

Mesmo com uma geração de nativos digitais, o pesquisador defende que os computadores, os smartphones e o armazenamento de arquivos na nuvem só poderão apresentar um impacto transformador na educação quando os métodos de ensino forem transformados, usando a tecnologia para produzir conhecimento.

6. Aumentar dias ou anos letivos

No relatório, o professor Hattie avalia que aumentar o dia ou ano letivo é uma correção educacional bastante popular e cara, mas que traz pouca diferença nos resultados educacionais. Ao estabelecer uma comparação entre a pontuações no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e o tempo médio de horas de instrução, ele mostra que é possível obter uma correlação negativa, deixando claro que apenas a adição de tempo faz pouca diferença.

E o que funciona na educação?

Após apontar os fatores de distração, no segundo relatório, intitulado O Que Funciona Melhor na Educação: a Política da Qualificação Colaborativa, o professor e pesquisador John Hattie propõe tarefas que diminuem as discrepâncias dentro de escolas e melhoram a qualificação dos professores. Entre elas:

1. Trabalhar em conjunto

Fazer com que todos os alunos consigam um ano de progresso para um ano de empenho exige um trabalho coletivo. Hattie diz que é preciso mudar o foco da narrativa, já que o debate atual é muito centrado no professor. Ele diz que isso atribui muita responsabilidade individual, enquanto a educação envolve um trabalho de pais, alunos, educadores, dirigentes e políticos.

2. Ter expectativas

Em suas pesquisas sobre educação, o professor da Universidade de Melbourne descobriu que quando um professor incentiva os alunos a terem altas expectativas sobre seus desempenhos, eles também têm boas expectativas e tendem a serem mais bem sucedidos para conquistar seus objetivos de aprendizagem. Ele diz que alguns professores nos ajudam a superar nossa própria expectativa.

3. Fornecer feedback a partir de ferramentas de avaliação

O relatório aponta que é necessário ter mais pesquisas sobre como interpretar os resultados de avaliações. De acordo com Hattie, as avaliações não devem ser utilizadas apenas para medir desempenho, mas para que o professor consiga direcionar melhor o seu ensino a partir dos dados.

4. Medir o impacto

Os líderes escolares devem trabalhar de forma contínua com a sua equipe para que possam avaliar o impacto na progressão dos alunos diante de todo o trabalho que fizeram. O pesquisador também afirma que eles devem compartilhar essas informações com os pais e os próprios alunos.

5. Considerar o que já deu certo

Muitos educadores já contribuíram para o desenvolvimento de estratégias e construíram conhecimentos ricos. De acordo com Hattie, seria tolice simplesmente ignorar isso. O pesquisador aponta que os professores devem ser encorajados a usarem abordagens e ideias que já foram provadas como bem sucedidas.

6. Mapear professores que geram impacto

O relatório sugere criar um sistema onde os líderes identificam os seus professores de mais impacto para que eles possam compartilhar suas estratégias e táticas de ensino entre a comunidade escolar, auxiliando outros professores que estão com mais dificuldades para obter resultados.

Dica: Papo de Mãe sobre Métodos de Ensino 




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