Será que estamos lutando pela felicidade dos nossos filhos ou pela nossa?
Vinicius Campos* Publicado em 26/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 20h34
Muita gente me pergunta o que espero para meus filhos e eu sempre respondia: que sejam felizes.
Natural, não é mesmo? Afinal felicidade é um sentimento ou uma espécie de oásis, pelo qual todos lutamos para conquistar. Desde pequenos escutamos os contos de fada que no final dizem: e foram felizes para sempre. Crescemos acreditando que a felicidade existe, que é um objetivo a se alcançar, e se possível, que seja rápido.
Mas o que imaginamos quando dizemos felicidade? Pensamos que alcançaremos esse sentimento ideal e viveremos assim, pra sempre, como nos contos de fada? Uma espécie de céu na novela “A viagem”, todos de branco, em paz, sem contas pra pagar.O poeta diz que a tristeza não tem fim, mas a felicidade sim. Ou seja, tem gente que acredita que é apenas um sentimento efímero, que acaba, que se esfumaça.
Em nome dessa suposta e idealizada felicidade muitos pais, e me incluo neles, lutamos e discutimos, e brigamos, e nos preocupamos. Porque queremos que nossos filhos sejam felizes, mas a felicidade, além de não ser um estado real e duradouro, também é subjetiva. Ou seja, para mim felicidade é uma coisa, e pra você é outra, e para os nossos pequenos, outra.
É justo e correto influenciar nossos pequenos numa direção de felicidade sabendo que a tal da felicidade é tão pessoal quanto gostar ou não de brócolis? Quanta energia nós pais depositamos em que nossos filhos estudem determinada profissão, ou façam alguns cursos, ou comam alguma comida, ou se apaixonem por determinada pessoa, ou por determinado sexo. Um desgaste enorme para tentar que nossos filhos sejam felizes desde a nossa perspectiva, sem termos nem ao menos a certeza de que a tal da felicidade realmente exista.
Um dos meus filhos ama jogar videogame. Só que sempre que ele joga acaba ficando nervoso, gritando com o adversário, ou até mesmo com a tela da tv. Eu fico pentelhando, dizendo que ele jogue menos, que aquilo faz mal, que não é bacana. E um dia ele me perguntou por que me incomodava tanto que ele jogasse e percebi que o que me incomodava é que não o via feliz. Não parecia que ele estava curtindo, mas sim sofrendo com aquilo tudo.
Acredito que nós pais devemos afastar nossos pequenos daquilo que os faz sofrer. Mas será que como pai estou preparado para deixar de lado aquilo que acredito ser felicidade e disposto a olhar o mundo sob a perspectiva da felicidade dos meus filhos?
Será que tenho coragem e desprendimento o suficiente para deixar minha necessidade de felicidade de lado, e apoiar meus filhos em seu projeto pessoal de felicidade. É um exercício difícil e complicado, porém cada vez mais estou convencido que pra se conquistar a tal da felicidade é fundamental ser livre. Não há espaço para realizações e conquistas se não há liberdade. Não há espaço para reflexão e sorrisos se não há liberdade.
Então, agora, quando me perguntam o que eu espero para meus filhos, eu respondo: que eles sejam livres, e se tiverem sorte, viverão muitos e belos momentos de felicidade.
*Por Vinicius Campos, escritor e pai de 3 adolescentes – Colunista do Papo de Mãe.
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