Um convite de Ariela Doctors para pensarmos nos ciclos da natureza para quebrarmos o ciclo monótono que a pandemia tem nos obrigado
Ariela Doctors* Publicado em 24/03/2021, às 00h00
Estamos todas e todos confinados, ou semiconfinados. Desgastados, num estado emocional e físico fragilizados. Parece que quanto mais tempo passamos nessa situação, mais longe vislumbrarmos um fim. A inércia dos nossos corpos provoca mal estar e pensamentos confusos. A insegurança geral toma conta da nação.
Temos passado horas e horas em frente a telas, trabalhando, vendo notícias, lendo artigos e, às vezes, até fazendo cursos on-line. Mas tudo isso, por tanto tempo e continuamente, cansa o corpo e a mente.
Para sairmos desse ciclo, mesmo sem sairmos de nossas casas, minha proposta é AÇÃO.
Trago aqui um importante tema que podemos usar como gatilho para mudanças em nossas casas nesses tempos de reclusão e que podem ajudar a criar novos hábitos importantes para nós e para o planeta.
Num momento em que o mundo parece desconectado, é preciso refletir sobre o nosso bem estar, sobre a maneira como nos relacionamos com o outro e com o meio ambiente, do ponto de vista social, político, econômico e ambiental. Aos poucos deixamos de cuidar da nossa saúde, das nossas relações pessoais e do meio ambiente.
Que tal passarmos a nutrir melhor nossos corpos, nossas relações e o meio em que vivemos?
A comida pode ser nosso ponto de partida. Porque por meio dela, não só contamos a nossa história, como precisamos nos alimentar para sobreviver. A comida para humanidade sempre foi e é cultura, nunca apenas natureza. Podemos aproveitar o momento e mostrarmos para a nova geração questões culturais que precisamos transformar ligadas ao consumo, a geração de resíduos e ao desperdício.
O desperdício de alimentos é um problema global. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) realizou em 2013 uma pesquisa e concluiu que no mundo são desperdiçados, anualmente, 1,3 bilhão de toneladas de alimentosbons e próprios para consumo.
Reduzir as perdas e o desperdício de alimentos pela metade até 2030 é uma meta dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
As perdas e desperdícios acontecem em várias etapas da cadeia agroalimentar, que vai do plantio até nossas mesas. Parte considerável dos alimentos é desperdiçada ainda no campo ou durante o escoamento da safra. Quando a comida chega finalmente às famílias, hábitos que podem levar ao desperdício, acabam por agravar o problema. Infelizmente, tais hábitos estão muitas vezes enraizados na cultura de muitos povos. Mas, isso não significa que eles não podem ser mudados. Todos nós temos um papel a desempenhar, como cidadãos conscientes.
Envolver as crianças na discussão desses problemas ajuda não apenas fomentar o consumo sustentável nas novas gerações, mas também é uma forma de fortalecer a cidadania e a responsabilidade coletiva.
● Dar preferência a alimentos frescos e procurar usá-los integralmente (cascas, talos, folhas – muitas vezes são comestíveis, procure saber).
● Fazer uma lista de compras antes de sair, observando o que já tenho na geladeira e no armário/despensa
● Optar por comprar em feiras livres, instituições ou direto do produtor
● Comprar frutas e legumes imperfeitos (o sabor será o mesmo e evitamos o desperdício)
● Plantar temperos em casa (se não tiver muito espaço, use vasinhos nas janelas! As crianças adoram cuidar diariamente).
● Evite jogar fora as sobras, invente novas receitas com elas
● Separe o lixo orgânico do reciclável
● Que tal um minhocário em casa para compostar as sobras? (É um ótimo instrumento para as crianças entenderem o ciclo dos alimentos e de tudo que é vivo no nosso planeta!)
● Aprenda novas receitas, aventure-se na cozinha, convide as crianças e se entreguem à fantasia deliciosa de criar e compartilhar juntas e juntos! Aqui vai mais uma receita (pensando no não desperdício) para sua coleção!
● 1 xícara (chá) de arroz-cateto integral
● 1⁄2 de xícara (chá) de arroz selvagem
● 1 cebola picada
● 1 dente de alho picado
● azeite de oliva à gosto
● 2 xícaras(chá) de talos de agrião, salsinha e couve picados
● sal a gosto
● pimenta-do-reino à gosto
● Coloque o arroz cateto integral e o selvagem para cozinhar em 3 1⁄2 xícaras (chá) de água com uma pitada de sal por 35 minutos.
● Numa panela média, refogue a cebola e o alho no azeite. Adicione os talos picados, refogue por mais 2 minutos e apague o fogo.
● Misture o arroz cozido aos talos e tempere com sal e pimenta.
Você pode acessar outras receitas no site Comida e Cultura e conhecer mais do nosso trabalho no @projetocomidaecultura e no canal de youtube Comida e Cultura
*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe
Assista ao programa do Papo de Mãe sobre alimentação:
Por que 99% das crianças não consomem a quantidade recomendada de fibras?
Podcast: as crianças no preparo dos alimentos
O alerta da ONU para as mudanças climáticas: o que as crianças têm a ver com isso?
Celebração da natureza: com participação de Maria Gadú, Palavra Cantada lança música sobre a fauna e a flora brasileiras
Como é o lá fora que a gente quer?