Amamentação pode proteger contra dor crônica após cesariana

Roberta Manreza Publicado em 14/09/2017, às 00h00

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14 de setembro de 2017


Por Moises Chencinski*, pediatra

A amamentação por mais de 2 meses protege contra a dor pós-cesariana crônica, com um aumento de três vezes no risco de dor crônica se a amamentação for mantida somente por 2 meses ou menos

A amamentação, após uma cesariana, pode ajudar a administrar a dor após a cirurgia. Mães que amamentaram seus bebês durante pelo menos 2 meses após a operação apresentavam três vezes menos probabilidade de sofrer dor persistente, em comparação com aquelas que amamentaram por menos de 2 meses, de acordo com uma nova pesquisa apresentada no Congresso Euroanaestesia, deste ano, em Genebra.

As cesarianas representam cerca de um quarto de todos os nascimentos no Reino Unido, EUA e Canadá. A dor crônica (que dura mais de 3 meses),  após a cesariana, afeta 1 em cada 5 mães. É amplamente aceito que o leite materno é a nutrição mais importante e adequada no início da vida, e a OMS, o Departamento de Saúde do Reino Unido e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA recomendam a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade. “Mas até agora, pouco se sabia sobre o efeito da amamentação na experiência de dor crônica das mães após a cesariana”, afirma o pediatra Moises Chencinski, criador e incentivador do movimento “Eu apoio leite materno” (#EuApoioLeiteMaterno).

O estudo, de Carmen Alicia Vargas Berenjeno e colegas do Hospital Universitário Nossa Senhora de Valme, em Sevilha, Espanha, incluiu 185 mães que foram submetidas a uma cesariana no hospital, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. As mães foram entrevistadas sobre os padrões de aleitamento materno e o nível de dor crônica no local cirúrgico, nas primeiras 24 e 72 horas após a cesariana, e novamente 4 meses depois. Os pesquisadores também analisaram o efeito de outras variáveis ​​sobre a dor crônica, incluindo técnica cirúrgica, dor nas primeiras 24-72 horas, educação, ocupação materna e ansiedade durante a amamentação.

Quase todas as mães do estudo (87%) amamentaram seus bebês, com mais de metade (58%) relatando aleitamento materno por dois meses ou mais. “Os resultados mostraram que cerca de 1 em 4 mães (23%) que amamentaram durante dois meses ou menos ainda experimentaram dor crônica, no local cirúrgico, 4 meses pós-operatório, em comparação com apenas 8% daquelas que amamentaram por 2 meses ou mais. Essas diferenças foram notáveis, ​​mesmo após o ajuste para a idade da mãe. Outras análises mostraram que as mães com educação universitária eram muito menos propensas a sofrer de dor persistente em comparação com as que tinham menos escolaridade.  Os pesquisadores também descobriram que mais de metade (54%) das mães que amamentaram relataram sofrer de ansiedade”, diz o pediatra, autor do blog #EuApoioLeiteMaterno.

Os autores concluem: “esses resultados preliminares sugerem que a amamentação por mais de 2 meses protege contra a dor pós-cesariana crônica, com um aumento de três vezes no risco de dor crônica se a amamentação for mantida somente por 2 meses ou menos. O estudo fornece outra boa razão para incentivar as mulheres a amamentar. É possível que a ansiedade durante a amamentação possa influenciar a probabilidade de dor no local cirúrgico 4 meses após a operação”.

Atualmente, os autores estão analisando dados adicionais das mulheres entrevistadas, entre novembro de 2016 a janeiro de 2017, que, quando combinados com dados de todas as outras mulheres, mostram que a ansiedade está associada à dor cesariana crônica de forma estatisticamente significante.

*Dr. Moises Chencinski, pediatra, é criador e incentivador do movimento “Eu apoio leite materno”.

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