Amamentar na primeira hora é mais importante do que se imagina 

A primeira hora de vida do bebê com a mãe, logo após nascer, tem sido chamada por especialistas de “golden hour” (hora de ouro). De acordo com a recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS, todas as rotinas com o bebê tais como lavá-lo, pesá-lo e enrola-lo em campos estéreis devem ser evitadas até o bebê mamar, durante a primeira hora de nascimento (transcrito das recomen...

Roberta Manreza Publicado em 30/07/2019, às 00h00 - Atualizado em 05/08/2019, às 11h41

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A primeira hora de vida do bebê com a mãe, logo após nascer, tem sido chamada por especialistas de “golden hour” (hora de ouro). De acordo com a recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS, todas as rotinas com o bebê tais como lavá-lo, pesá-lo e enrola-lo em campos estéreis devem ser evitadas até o bebê mamar, durante a primeira hora de nascimento (transcrito das recomendações da OMS). 

30 de julho de 2019


Pelo Prof. Dr. Claudio Basbaum*, Introdutor do Parto Leboyer  e da técnica Shantala  no Brasil

No mês de agosto é celebrada a Semana Mundial da Amamentação para lembrar da importância desse gesto, que contribui para salvar a vida do bebê


A primeira hora de vida do bebê com a mãe, logo após nascer, tem sido chamada por especialistas de “golden hour” (hora de ouro). De acordo com a recomendação da Organização Mundial de Saúde – OMS, todas as rotinas com o bebê tais como lavá-lo, pesá-lo e enrola-lo em campos estéreis devem ser evitadas até o bebê mamar, durante a primeira hora de nascimento (transcrito das recomendações da OMS).

“Na minha atividade como médico obstetra influenciado pelas ideias do médico francês Frederick Leboyer (1974), precursor e defensor da humanização do nascimento através do nascimento menos violento para o bebê, sempre observei ao longo dos anos a paz e o prazer que experimentavam os recém-nascidos ao contatar o corpo da mãe e ao lamber ou sugar seus mamilos, já nos primeiros minutos de sua vida extrauterina”, relata Prof. Dr. Claudio Basbaum, Introdutor do Parto Leboyer (“Nascimento sem violência”) e da técnica “Shantala” (Massagem para bebês)  no Brasil.

“A partir dessas observações, desde 1974 alterei radicalmente o ritual do nascimento e passei a incluir na minha prática médica a amamentação ainda na sala de parto, mesmo nos casos em que era realizada uma cesariana”, acrescenta Dr. Claudio Basbaum, ginecologista e obstetra, com especialização na Universidade de Paris-França

Segundo o médico, além de contribuir para salvar a vida de muitos bebês, o aleitamento materno na primeira hora ajuda a mulher a ter leite mais rapidamente e auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia pós-parto. Para a mãe, oferecer a pele e o seio ao bebê logo após o nascimento, proporciona intensa gratificação emocional, faz desencadear no seu organismo amplo processo fisiológico que inclui a liberação de endorfina, ocitocina e prolactina. Essas substâncias promovem, pela ordem: a endorfina, sensação de bem-estar e maior tolerância as contrações uterinas; a ocitocina, contração uterina, aumento de atividade das glândulas mamárias e intensificação do sentimento maternal, por isso se chamada de “hormônio do amor” (Michel Odent), diretamente associado ao vínculo afetivo mãe-bebê, a ocitocina contribui ainda para a expulsão fisiológica da placenta e para o controle do sangramento uterino; e a prolactina estimula a produção e liberação inicial de uma verdadeira “vacina”, que é o colostro.

O colostro, líquido viscoso amarelo-dourado que precede a saída do leite, é 20 vezes mais rico em anticorpos do que o sangue da mãe (por exemplo, nos teores de gamaglobulinas) bem como mais concentrado em proteínas, vitaminas, sais minerais, entre outros. Ademais, propicia ao recém-nascido uma imunidade passiva que durará pelo menos seis meses, momento a partir do qual ele já estará apto a produzir seus próprios anticorpos. O líquido é liberado num volume médio de 3-5 ml por mamada, durante cerca de uma semana, quando começa a produção do leite de transição, mais abundante, que já tem a aparência do leite que conhecemos, sendo mais calórico e mais rico em gorduras, vitaminas e lactose. O colostro é também a única substância capaz de eliminar todos os resíduos de mecônio do intestino do bebê, prevenindo o aparecimento de alergias, infecções e diarreia, graças ao adequado controle e equilíbrio na colonização das bactérias que ali se desenvolvem. No dia do parto, o colostro se apresenta ainda mais rico.

Semana Mundial da Amamentação de 1 a 7 de agosto

Segundo a UNICEF, a amamentação na primeira hora- Golden Hour- pode evitar a morte de um imenso número de crianças em países em desenvolvimento, já que mais de um terço da mortalidade infantil ocorre durante o primeiro mês de vida. Tendo em mente esta triste realidade, em 1991 foi criada a Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA) com o objetivo de defender a amamentação como direito das crianças e das mulheres, a ser respeitado por todas as sociedades por meio de ações de proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno.

A primeira Semana Mundial da Amamentação aconteceu em 1992 em mais de 150 países, coordenada pela WABA até 1998. A partir desta data passou a ser responsabilidade, no Brasil, do Ministério da Saúde e realizada anualmente de 1 a 7 de agosto.

As campanhas do Ministério da Saúde na “Semana Mundial do Aleitamento Materno” (SMAM) trazem o alerta de como amamentar faz bem à saúde da mãe, do bebê e também do planeta. O tema da “Semana Mundial de Aleitamento Materno 2018”, foi definido pela WABA, “Aleitamento materno: a base da vida”. Visou também, chamar atenção das pessoas sobre as metas de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de lembrar que ainda morrem quase 10 milhões de crianças com menos de cinco anos no mundo todos os anos.

Já o tema definido para 2019 é “Capacite os pais e permita a amamentação, agora e no futuro” e tem como objetivo enfatizar a importância do envolvimento de todos os familiares próximos, e não apenas da mãe, para que seja possível o aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida e de forma complementar até os dois anos de idade.

Às mães não cabe a culpa de, por vezes, não conseguir amamentar o quanto seria desejável. Mas acho bom lembrar que todas têm o direito de exigir informações e condições para que tanto o parto quanto a amamentação sejam de fato momentos seus e do seu filho. Além da nutrição da primeira hora, o bebê quer ser tocado, abraçado e sentir-se bem recebido. Desses primeiros momentos ele vai extrair os alimentos para a sua autoestima futura e seu desenvolvimento saudável.

Fontes: UNICEF/ OMS  

Pour une Naissance sans Violence – LEBOYER, F. –1974  Birth Reborn-  Odent, M. – 1984


*Cláudio Basbaum é médico com especialização na Universidade de Paris-França. Professor-Doutor em Ginecologia e Obstetrícia, pioneiro da laparoscopia no Brasil (1967), Introdutor do Parto Leboyer (“Nascimento sem violência”) e da técnica “Shantala” (Massagem para bebês) no Brasil e defensor de técnicas menos agressivas à mulher e ao bebê.

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