AMIZADES: Ter amigo imaginário é normal e saudável! #Dicas

pmadmin Publicado em 08/08/2012, às 00h00 - Atualizado em 19/09/2014, às 19h31

8 de agosto de 2012


AMIGO INVISÍVEL OU IMAGINÁRIO

Por Roque Theophilo*

Fonte: www.psicologia.org.br

É comumos pais surpreenderem seus filhos em solilóquio (fala de alguém consigo mesmo) e muitos o chamam “amigo invisível” ou “imaginário” com o qual a criança passa o tempo a brincar e a conversar, contando-lhe todos os seus problemas.

Muitos pais acham que somente o filho único tem o “amigo invisível” ou “imaginário”.

Muitas crianças, quando estão brincando sozinhas, gostam de imaginar que tem um amigo invisível, e para isso falam com ele, riem e até chegam a ficar zangadas e ficarem dias “de mal”.

Quando os pais verificam que o seu filho está falando sozinho costumam ficar preocupados.

Mas, na primeira infância não há motivos para estas inquietações, pois as crianças com estas idades precisam imaginar e criar o seu mundo de fantasia e o mundo da criança é recheado de fadas, duendes e outras homéricas imaginações fantásticas, e é isso que lhe dá felicidade e prazer em crescer.

Se perceberem que uma criança fala com alguém invisível ou com o coelhinho de pelúcia que ganhou na Páscoa, escutem a conversa, e aprendam a estimar essas personagens do “faz de conta” dos seus filhos.

Dos dois anos aos quatro de idade, as crianças vivem uma das fases da vida que se apresenta cheia de encantos. Todos os dias nos surpreendem com novas conquistas, novas proezas. E é também a idade da entrada nas nossas casas dos amigos imaginários.

Muitos pais já devem ter sido confrontados com a obrigação de mudar de cadeira à mesa, porque naquele lugar vai se sentar o amiguinho Tonico, um amiguinho virtual do filho, também denominado “amigo invisível” ou “imaginário”, e obrigam a que se coloque um jogo de refeição com prato, talheres e copo, porque o Tonico quer jantar.

Outros pais se depararam com uma criança que interage animadamente com um objeto como, por exemplo, o travesseiro que usaram quando eram bebês, ou mesmo uma fralda, um cobertor da sua vida de berço, ou qualquer outra coisa.

Os amigos imaginários podem surgir de dois modos: amigos invisíveis (que ninguém pode ver) e objetos personificados (com os quais a criança interage como se fossem humanos). Um amigo imaginário pode ser qualquer coisa, e até não ser nada de concreto – simplesmente estar ali para a criança.

Algumas crianças usam brinquedos que vão das bonecas aos cubos. Existem crianças que brincam com personagens que só existem na sua cabeça. O “fazer de conta” permite à criança sentir-se como dona da situação, pois ela é que dá ordens ao amigo invisível, ser por uma vez o responsável, ou chefe: ela pode ensinar, falar, mandar nos seus amigos imaginários de uma maneira impensável, em relação aos seus amigos de carne e osso, ou aos membros da sua família.

Apesar de alguns pais ficarem algumas vezes perplexos perante tal fato, isto pode ser um modo positivo e criativo que a criança arranjou para lidar com o seu mundo de sonho e fantasia, podendo estar sozinha ou não. Na maioria dos casos, trata-se de um recurso valioso para a criança e importante para o seu desenvolvimento, quando surge de modo natural, servindo como fator compensatório.

Um amigo imaginário tem muitas vantagens. É alguém que está sempre disponível para brincar, que gosta de todas as idéias da criança, que coopera e que nunca lhe tira os brinquedos. Por outro lado, estes amigos também são frequentemente usados para a criança se livrar de sentimentos negativos, e lidar com eles, ou para atirar as culpas de algum erro para cima deles.

Mas porque é que as crianças arranjam este tipo de amigos?

As crianças começam a brincar de “era uma vez” ou “faz de conta” desde muito cedo, por volta dos dois anos. E fazem-no repetidamente, imitando frases e atitudes dos adultos. Inicia-se assim um ritual. De certa maneira, nesse novo contexto, no qual surge o amigo imaginário, a criança controla os acontecimentos, sentindo-se importante e especial, sensação esta que pode não encontrar na sua vida familiar, ou na escolar, ou social.

Este tipo de “amigo invisível”, ou “imaginário” ajuda as crianças a lidarem com as ansiedades normais do seu crescimento. Pode ser uma grande ajuda, desde que não se ultrapassem certos limites.

Há vários fatores que podem influenciar o aparecimento destes “amigos especiais”. Eles podem aparecer quando a criança passa por momentos de estresse ou de ansiedade, como, por exemplo, quando um amigo muda de escola ou vai morar em outra cidade, e então a criança pode substituí-lo por um amigo imaginário.

No caso das saudades de um ser querido, poderá substituí-lo, durante algum tempo, por um amigo imaginário, que contribuirá para que a angústia da separação não seja tão brusca e traumática, deixando que o tempo faça o resto.

Muitos pais que tem filho único que fala com o “amigo invisível” ficam desesperados, pensando em arranjar um irmãozinho, pois isso é um ledo engano, já que muitas crianças, quando nasce um irmão, podem inventar um “amigo” por não estarem interessadas no nascimento do bebê. Termina sendo um recurso compensatório.

Nestas situações de estresse, ou de grandes mudanças, ou perdas importantes, como um divórcio, ida para casa ou escola novas, a perda de um ente querido, ou o nascimento de um irmão, a criança, por não encontrar suporte para enfrentar sozinha o problema, arranja um “amigo invisível”, ou “imaginário”. Também há de se realçar que são as crianças mais sensíveis e inteligentes que desenvolvem este tipo de recurso.

Quando os pais “expulsam” a criança do quarto do casal sem o uso de tato, pode ocorrer que a mesma, para compensar a perda da companhia, crie o “amigo invisível”. Ocorre o mesmo quando a criança é levada para a escola e, quando volta pode começar o solilóquio dos acontecimentos que vivenciou na escola perguntando, ao “amigo invisível” se gostou da professora e dos coleguinhas.

Os comportamentos da criança, e de seu “amigo invisível” são pitorescos e não se trata, como muitos pensam, que ela é solitária.

Quantas vezes pais convidam coleguinhas do colégio para fazerem companhia e a criança manda os pais esperarem porque ele vai consultar o seu “amigo invisível” para ver se está de acordo.

Os “amigos invisíveis”, ou “imaginários” também ajudam a criança a lidar com a solidão. O “amigo”, ou um objeto de conforto, ajuda a criança a fazer face quando sente os medos infantis, que são as situações que mais angustiam a criança, como o escuro, a solidão, o abandono.

Nessas situações, este amigo lhe faz companhia, preenchendo um pouco o vazio que se instala na vida infantil, reduzindo a ansiedade. Assim, pode fazer com que não perca o controle, uma vez que vai conversando com o amigo e ouvindo a sua própria voz, a qual, entre outras coisas, o acalma. Estes amigos servem, ainda, para a descarga das emoções contidas, que as crianças não conseguem canalizar adequadamente.

Lembretes para os pais de crianças com “amigos imaginários”:

·         Os pais não devem dar muita importância a este acontecimento. Se ele persistir até à pré-adolescência então, nesse caso, é interessante consultar um profissional de saúde.

·         Os pais devem saber que ter “amigos imaginários” é algo perfeitamente comum entre crianças de 3 aos 6 anos de idade.

·         Os pais devem saber que esta é uma demonstração das capacidades da criança para explorar e expandir a sua imaginação e criatividade.

·         Os pais devem saber que, muitas vezes, estes amigos são usados para lidar com sentimentos como a raiva ou a inveja.

·         Os pais devem saber que as crianças podem usar estes amigos para praticarem o que é ser e ter um amigo.

·         Os pais devem saber que uma das grandes vantagens destes amigos especiais é que, se os pais ouvirem as conversas das crianças com eles, poderão ser capazes de descobrir alguns dos medos das crianças e alguns conflitos.

·         Os pais devem saber que uma vez que o amigo imaginário também é um confidente, a criança fala com ele dos seus medos, por exemplo, o receio de que alguém a maltrate, ou que não simpatize com ela, ou de algum tipo de inadaptação, ou perda que ninguém tenha notado e que era tão importante para a criança.

·         Os pais devem saber que a descoberta precoce deste, e de outro tipo de acontecimento, poderá ser determinante para proteger ou ajudar a criança.

·         Os pais devem saber que quando a criança pratica o solilóquio e ficar mais exacerbada devem estar atentos e falar com a criança, acalmando-a.

·         Os pais devem saber que é bom temporariamente perguntarem às crianças se realmente acreditam que estes amigos existem.

·         Os pais devem saber que quando uma criança defende vigorosamente a sua existência, no fundo, saberá que é uma brincadeira.

·         Os pais devem saber que tudo tem de ter certos limites, mas não há dúvidas de que estes amigos são importantes para as crianças. E, perante elas, devemos tratá-los com respeito.

·         Os pais devem saber que não vale a pena lutarem contra isto, pois que, não ajuda e pode fazer com que a criança se isole e se sinta diferente, o que não é benéfico.

·         Os pais devem saber que é bom tratar o tema com naturalidade e até tomar parte desse mundo da criança. Incluí-los na vida familiar, como se tratasse de um jogo. Sempre respeitando a faixa etária da criança, os pais não podem frustra-la, chamando-a de tola, maluca, etc. Devem brincar acreditando que o “amigo imaginário” e mais um ser da família. É uma excelente maneira de chegar à criança e estreitar os laços entre pais e filhos.

·         Os pais devem saber que quando a criança se sente mais segura e madura, algo que deve acontecer até aos sete ou oito anos, diz adeus a estes “amigos imaginários”, momento em que guardará uma lembrança carinhosa dessa sua etapa etária.

·         Os pais devem saber que a ajuda de um Psicólogo deve ocorrer quando a criança apenas quer estar sozinha com esse seu amigo imaginário, evitando o contato com os outros, ficando limitada e criando conflitos, isto é, alterando o seu normal inter-relacionamento com o meio e com os outros, algo de que a criança precisa para o seu desenvolvimento.

Segundo Jerome L. Singer, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, a imaginação é uma capacidade básica da espécie humana para criar imagens, fantasias e pensamentos. O estudo de crianças de brincar de “faz de conta” dá pistas valiosas acerca da arquitetura básica da mente infantil, uma vez que se trata de uma manifestação da capacidade para transcender o pensamento do que é o mundo aqui e agora, e pensar no mundo tal como poderá ser.

Outros especialistas afirmam que, assim que esta fase começa, as crianças também são capazes de reconhecer o “faz de conta” nos outros. E mostram um rico e mais variado vocabulário, uma habilidade crescente para se distraírem.

Por isso, se um for encontrada a criança brincando, ou tomando as refeições animadamente com “alguém” sentado à frente dela, relaxe, não se sente no lugar dessa “pessoa”, não desfaça nem diga que não existe. É perfeitamente natural. O “fazer de conta” é sinal de que a criança está desenvolvendo a sua imaginação. Num mundo imaginário, a criança testa os seus limites. E isso quer dizer que está crescendo de um modo saudável.

A maioria das crianças reconhece a diferença entre fantasia e realidade sem a ajuda dos pais. E não faz mal incentivar o desenvolvimento da imaginação dos mais pequenos.

Especialistas em Desenvolvimento da Criança dão algumas ideias aos pais.

·         Comprem brinquedos e materiais versáteis, que possam ser usados de maneiras variadas.

·         Proporcione-lhes material para desenvolverem as suas fantasia. Quando estão brincando de fazer comidinha ou de ser o dono de uma mercearia, por exemplo, precisam ter sacolas e algumas caixas de comida vazias.

·         Forneça-lhes fita adesiva em quantidade. É indispensável para construir casas com cartões e caixas.

·         Encoraje-os a brincar com massinha de boa qualidade que não seja tóxica, argila e areia. Estes materiais maleáveis têm um efeito calmante. As crianças podem usá-los todos os dias, de modo diferente, para criarem e controlarem as suas brincadeiras de “faz de conta”.

·         Não controle as brincadeiras, deixe que sejam crianças.

·         Não insista em intervir nas brincadeiras das construções infantis.

·         Se as crianças pretendem construir uma fortaleza debaixo da mesa da sala de jantar, os pais, de forma cautelosa e sem quebrar-lhe a inspiração, devem sugerir que a construa num lugar que não importunará ninguém, principalmente se tiver necessidade de permanecer por alguns dias.

·         Não comprem muitos brinquedos.

·         Comprem-nos com a presença da criança sem impor-lhe o brinquedo. Quando as crianças têm de procurar objetos para as suas brincadeiras, a imaginação voa.

·         Comprem brinquedos em épocas certas, isto é aniversário, dia da criança e festas de fim de ano. O abuso na compra gera consumismo e o valor educativo do brinquedo perde o efeito.

Muitos pais, quando eram crianças de família pobre, não podiam ter brinquedos a vontade e quando adultos compram brinquedos sofisticados, muito mais para eles adultos brincarem do que seus filhos. É um erro crasso.

Ensinar a criança a preservar o brinquedo e a tê-los em ordem, arranjando-lhe um local e recipiente apropriado para guarda.

Lembrar-se que o brinquedo é como o remédio, que tem o seu uso certo, na idade correta e adequada.

 * Prof. Dr. Roque Theophilo  “in memoriam” – Psicólogo e Jornalista Profissional,  autor do título « O Amigo Psicólogo ® ». Presidente das Academia Brasileira de Psicologia e Academia Internacional de Psicologia, e um dos pioneiros da Psicologia no Brasil. Site www.psicologia.org.br.




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