YouTube tira canal do Papo de Mãe do ar após prestarmos nosso essencial serviço jornalístico
Mariana Kotscho* Publicado em 26/12/2020, às 00h00 - Atualizado em 15/01/2021, às 11h15
Atualização: Por volta das 21 horas deste sábado, 26 de dezembro, o Youtube reativou o Canal Papo de Mãe.
Entidades se manifestam em apoio ao Papo de Mãe.
Atualização das 17h50: O Youtube entrou em contato com o Papo de Mãe e informou que está verificando o caso.
O Papo de Mãe foi pego de supresa na última sexta-feira com o seguinte comunicado do Youtube:
“Revisamos seu conteúdo e encontramos violações graves ou recorrentes das nossas diretrizes da comunidade. Por isso, removemos o seu canal do Youtube”.
Assim, sem maiores explicações, foi retirado do ar o canal Papo de Mãe, que há 11 anos presta um importante serviço jornalístico à sociedade, com programas e vídeos sobre maternidade, paternidade e a vida em família.
Permanece no ar apenas o Canal Papo de Mãe da TV Cultura, com os programas realizados para aquela emissora de TV. Porém, o Canal original de Mariana Kotscho e Roberta Manreza, com conteúdo exclusivo, foi removido.
O Papo de Mãe já entrou com um recurso, que foi negado pelo Youtube em novo comunicado:
“Agradecemos por recorrer da suspensão da sua conta. No entanto, decidimos manter sua conta suspensa com base nas diretrizes da comunidade e nos Termos de Serviço.”
O Papo de Mãe gostaria de entender qual foi a diretriz que infringiu ao fazer uma denúncia relevante, que repercutiu em todo o país causando indignação. A população tem o direito de estar bem informada e a imprensa, o dever de informar. O Papo de Mãe já entrou em contato com a assessoria de imprensa do Youtube, que retornou com a seguinte mensagem:
“Obrigada pelo contato. Nós, do time de comunicação, não temos acesso a dados do seu canal. Vou precisar fazer uma apuração interna com outras equipes, então peço que aguarde meu retorno.”
O Papo de Mãe até entende os ataques ao canal por causa dos vídeos do juiz e em defesa dele, porque há grupos radicais o apoiando nas declarações que ele faz. Mas retirar o canal inteiro do ar? Um canal com vídeos de ginecologistas, pediatras e reportagens sobre inclusão de crianças deficientes? Que fala sobre educação, comportamento e saúde dos nossos filhos em todas as idades? Que diretrizes do Youtube isso está ferindo?
Na última semana, o Papo de Mãe revelou em seu canal 5 vídeos do juiz Rodrigo de Azevedo Costa numa audiência de Vara de Família em São Paulo em que ele desdenha da Lei Maria da Penha. Vídeos de outras audiências também foram divulgados – desta vez já no canal de Universa-UOL, pois o Canal Papo de Mãe estava sendo duramente atacado por grupos (alguns se dizendo contra o feminismo).
Mas mesmo tirando o Canal Papo de Mãe do ar, os vídeos do juiz desdenhando da lei Maria da Penha continuam nas nossas reportagens, agora hospedados no UOL Mais.
Notas em apoio ao Papo de Mãe
YouTube retira do ar canal com matérias sobre juiz e ABI protesta.
O YouTube retirou do ar o canal “Papo de Mãe”, de Mariana Kotscho, contendo cinco vídeos com trechos de audiências em que, na Vara de Família de São Paulo, o juiz Rodrigo de Azevedo Costa afirma que não se importava com a Lei Maria da Penha.
Dentre outras coisas, disse ainda o juiz:
“Uma coisa eu aprendi na vida de juiz: ninguém agride ninguém de graça.” “Qualquer coisinha vira Lei Maria da Penha. É muito chato”. “Ele pode ser um figo podre, mas foi uma escolha sua e você não tem mais 12 anos”.
O site Uol aceitou veicular os vídeos agora censurados, mas o trabalho de 11 anos de Mariana, com mais de mil matérias, está de posse do YouTube e nem mesmo a autora está tendo acesso a ele.
A Corregedoria do Tribuna de Justiça de São Paulo está apurando os fatos aqui relatados.
A ABI se solidariza com Mariana, lembra que a Constituição não permite censura e informa que envidará todos os esforços para pôr fim a este atentado à democracia e à liberdade de expressão.
A ABI vai entrar em contato com o presidente da Google no Brasil, que controla o YouTube, para protestar contra a censura e o arresto das demais matérias de Mariana.
Mais detalhes podem ser conhecidos no site UOL.
Paulo Jeronimo – Presidente da ABI
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP foi informada que o Canal “Papo de Mãe”, das jornalistas Mariana Kotscho e Roberta Manreza foi sumariamente removido da plataforma Youtube sem explicações que justifique tal ato.
Há dois Direitos fundamentais atingidos em tal remoção: O primeiro, o da Liberdade de Expressão e de informação; o segundo, atinge as mulheres pela relevância do canal ao universo feminino.
A liberdade e os direitos das mulheres são fundamentais aos Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos não pode quedar-se em silêncio diante de fato que resvala na censura, que é tema vedado na Constituição Federal do Brasil.
Diante do exposto, a Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP ,vem se manifestar contra qualquer tipo de censura, ao mesmo tempo, pede esclarecimentos sobre as razões da exclusão dos mais de 1000 vídeos do importante canal.
Atenciosamente,
Ana Amélia Mascarenhas Camargos vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP
Na entrevista, a promotora de justiça Nathalie Malveiro fala da importância das medidas protetivas, da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio, Lei da Alienação Parental. A CNN cita a reportagem do Papo de Mãe e a promotora comenta:
“O Canal do Youtube do Papo de Mãe saiu do ar, um canal de informação jornalística que está censurado neste momento, está fora do ar neste momento. Temos que avaliar esta questão de como colocamos esta mulher numa situação de violência doméstica. É preciso um curso de reciclagem de todo o sistema de justiça criminal e de justiça de família. Não dá para separar violência doméstica de um processo de família. ”
A Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de São Paulo, após ter ciência da retirada de todos os vídeos do canal Papo de Mãe das jornalistas Maria Kotscho e Roberta Manreza, pelo You Tube, requer de Vossas Senhorias a justificativa para tal ato, que por certo, manifesta-se em total afronta aos preceitos tidos como fundamentais e previstos em nossa Constituição da República no artigo 220, em especial do Liberdade de Imprensa.
Ressaltamos que nos últimos dias temos nos deparado com inúmeros casos de flagrantes violações e violências contra às mulheres.
Somente entre os dias 24 a 26/12, foram 04 feminicídios.
Antes disso, os casos emblemáticos ocorridos com a Deputada Isa Penna , o envolvendo o Juiz Rodrigo Azevedo demonstram a importância de um veículo de mídia comprometido com as referidas pautas e que se destine a garantir a efetiva informação à sociedade de forma qualificada.
Dessa forma, impedir e retirar sumariamente do You Tube, todos os 1000 vídeos do Canal Papo de Mãe, além de configurar evidente afronta à Liberdade de Imprensa , de igual modo demonstra o quanto a violência de gênero não conhece limites a ponto de silenciar as vozes de mulheres , como as das jornalistas Mariana Kotscho e Roberta Manrezza, que se erguem para dar visibilidade as violências cometidas contra todas as mulheres!
Dessa forma, é lamentável que um veículo de mídia virtual possa espelhar e sobretudo naturalizar as violências expressões de gênero e o pior culpabilizar as mulheres por essas práticas!
Nos casos citados, que são apenas uma breve amostra do que cotidianamente ocorre no Brasil, observa-se uma prática sistêmica e sistemática desse conjunto de violências direcionados por essas instituições às mulheres.
No ensejo de que haja uma mudança de postura da parte dessa renomada empresa, com o imediato retorno do Canal Papo de Mãe e de todos os 1000 vídeos ao ar, a demonstrar um efetivo compromisso pela igualdade de gênero e pelo enfrentamento à violência contra às mulheres,
COMISSÃO DA MULHER ADVOGADA
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
SEÇÃO SÃO PAULO
Na noite de quinta-feira, 17 de dezembro, o Papo de Mãe publicou reportagem revelando a conduta de um juiz numa audiência de Vara de Família em São Paulo. Sem levar em consideração que um das partes é vítima do ex-companheiro num inquérito que apura violência doméstica, o juiz afirmou que não está nem aí para a Lei Maria da Penha e fez outras afirmações inaceitáveis. Veja abaixo algumas transcrições de momentos retirados da audiência, que durou 3 horas e meia.
Juiz : “Vamos devagar com o andor que o santo é de barro. Se tem lei Maria da Penha contra a mãe(sic) eu não tô nem aí. Uma coisa eu aprendi na vida de juiz: ninguém agride ninguém de graça”. (Advogadas tentam interromper e ele não deixa)
Juiz : “Qualquer coisinha vira lei Maria da Penha. É muito chato também, entende? Depõe muito contra quem…eu já tirei guarda de mãe, e sem o menor constrangimento, que cerceou acesso de pai. Já tirei e posso fazer de novo”.
Juiz : “Ah, mas tem a medida protetiva? Pois é, quando cabeça não pensa, corpo padece. Será que vale a pena ficar levando esse negócio pra frente? Será que vale a pena levar esse negócio de medida protetiva pra frente?
Juiz : “Doutora, eu não sei de medida protetiva, não tô nem aí para medida protetiva e tô com raiva já de quem sabe dela. Eu não tô cuidando de medida protetiva.”
Juiz: “Quem batia não me interessa”
Juiz: “O mãe, a senhora concorda, manhê, a senhora concorda que se a senhora tiver, volto a falar, esquecemos o passado….”
Juiz: “Mãe, se São Pedro se redimiu, talvez o pai possa…..”
F.: “Eu tenho medo”
(vamos lembrar aqui que F. já sofreu violência doméstica e o juiz insiste numa reaproximação dela com o ex)
Juiz: “Ele pode ser um figo podre, mas foi uma escolha sua e você não tem mais 12 anos”
(No trecho acima, ele insinua mais uma vez culpar a vítima pelas agressões sofridas, reafirmando a declaração de que “ninguém apanha de graça”)
Veja a repercussão do caso aqui.
“É estarrecedor que numa Vara de Família no contexto de uma audiência sobre processo de alimentos com guarda e visitas aos filhos um Juiz faça declarações tão constrangedoras e vexatórias como essa! Para além do lamentável, a questão nos causa indignação e, ao mesmo tempo, agrava a preocupação que eu já trago desde o momento que eu iniciei a minha militância. Da violência doméstica à violência institucional, após 37 anos do meu caso e dos 14 anos da Lei 11.340/06, observamos que ainda falta sensibilidade jurídica, consciência cidadã e respeito por parte de muitos magistrados no sistema de justiça no Brasil. Destaco que há sim profissionais desse mesmo sistema que são profissionais humanos, coerentes, justos e leais à causa dos direitos humanos das mulheres.”
*Mariana Kotscho é jornalista do Papo de Mãe
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