Boa mãe é a que tem dúvida, erra, volta atrás, pede desculpa e sempre segue em frente tentando ser uma pessoa por inteiro!

Os estereótipos maternos, quer na televisão, no cinema ou na literatura são, em geral, cruéis e aprisionadores, além de caminharem na contramão da realidade, da saúde mental de mães e filhos e da qualidade de vida de todos!

Dra.Artenira da Silva e Silva* Publicado em 08/06/2021, às 12h28

O que é ser uma boa mãe? -

Ser mãe de crianças ou adolescentes em um mundo globalizado e interconectado, em uma sociedade cada vez menos inclusiva, intolerante e que cultiva valores predominantemente pautados no individualismo, no egoísmo, em julgamentos morais e no materialismo exagerado não é tarefa fácil, certo?

Penso que a nossa primeira grande questão a ser enfrentada é decidir que características relacionais e de personalidade queremos que nossas filhas e filhos reproduzam. O que de fato consideramos importante que elas e eles aprendam para crescerem saudáveis e felizes? Uma vez que tenhamos chegado a respostas, mesmo que parciais, para a primeira questão, podemos passar para a segunda grande reflexão a ser enfrentada: nós nos comportamos de modo coerente em relação ao que queremos ensinar para nossas filhas e filhos a partir da convivência delas e deles conosco?

Após chegarmos a respostas sinceras para essas duas grandes questões iniciais podemos começar a rever nossas atitudes cotidianamente observadas por nossas filhas e filhos, mesmo à distância ou até depois que não estivermos mais materialmente vivas! O que elas e eles tiverem vivenciado, vivenciarem ou virem a vivenciar em interação conosco é o que será internalizado nelas e neles de modo a podermos afirmar que assim como cada filha e filho está em nós, estaremos sempre em cada um delas e deles.

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Queremos filhas e filhos disciplinados, mas que não sejam algozes de si mesmas/os? Então talvez precisemos nos exigir um pouco menos, certo? Se elas e eles perceberem que nós cansamos, que choramos, que podemos não estar bem, que precisamos ter um tempo para sorrir com amigos e que nem sempre estamos disponíveis provavelmente aprenderão a não exigir de si mesmas/os e daqueles com quem se relacionam que não errem, que não cansem e que estejam sempre disponíveis.

Dra.Artenira gravou um vídeo pro Papo de Mãe

Queremos que nossas filhas e filhos entendam que likes não são afeto e que as interações virtuais, apesar de reais, não podem substituir a leitura de livros, um bate papo olho no olho, um abraço acolhedor, bem como a demonstração de cuidado e de afeto. Assim sendo, concluímos que nossas/os filhas e filhos precisam vivenciar que nós não estamos de olho no celular quando estamos comendo pipoca e assistindo um filme com elas e eles, precisam vivenciar que valorizamos dar o ombro a amigas e amigos quando precisarem, precisam que fiquemos em silêncio quando elas e eles precisarem de um aconchego para chorarem e precisamos demonstrar com atitudes que valorizamos e muito a humanidade que habita em nós, certo?

Queremos educar filhas e filhos para serem solidários ou egoístas? A depender da resposta precisamos novamente avaliar como demonstramos na prática esses valores para elas e eles. Em um mundo ainda sexista, no qual homens e mulheres são tratados e percebidos de modo muito diferente, precisamos estar especialmente atentas em relação à forma que interagimos com nossas meninas e como estamos ensinando nossos meninos a tratarem meninas.

Queremos que no futuro elas e eles possam escolher vivenciar o amor com pessoas inteiras, com quem vão compartilhar cumplicidade, companheirismo, tolerância e apoio ou queremos que elas vivenciem o amor com meros provedores e que eles vivenciem o amor com mulheres que estejam sempre abrindo mão de si mesmas para os agradarem? A depender da resposta precisamos atentar para que valores defendemos no dia da dia com nossas filhas e filhos. Educar meninas para serem batalhadoras, independentes, inteligentes, não submissas e livres e educar meninos para serem sensíveis, solidários, companheiros e afetuosos é um desafio necessário de ser enfrentado no curso desse século, ou não?

A psicóloga Artenira da Silva e Silva

Enfim, se pararmos para avaliar se, como mães e mulheres que somos, precisamos estar sempre atentas para espelhar as figuras femininas com as quais nossas filhas e filhos vão espelhar e se relacionar em curto, médio e longo prazo, sem descuidarmos dos valores que elas e eles precisam desenvolver para serem felizes, seguiremos firmes e sempre que possível sorridentes rumo a nos constituirmos como pessoas inteiras, tendo na maternidade um dos nossos papéis centrais e mais importantes, mas jamais o único, pois só assim elas e eles exibirão a complexa capacidade de serem seres relacionais emocionalmente empáticos e potencialmente realizadas/dos, mesmo nos seus momentos de perdas, dor ou sofrimento.

Que nossa maternidade potencialize e não apague nossos demais papéis sociais. Que a maternidade defina um sorriso no nosso rosto quer longe ou perto de nossas filhas e filhos. Que possamos de fato confiar que como mães não apenas intentamos estar presencialmente próximas de nossas filhas e filhos, mas sim estamos internalizadas nelas e neles para muito além dos papéis sociais aprisionadores de exercermos a maternidade, mas que, acima de tudo e reiteradamente, estamos impressas e internalizadas em nossas filhas e filhos nas mais diferentes formas de SER MÃE!!

*Dra. Artenira da Silva e Silva: docente e pesquisadora do mestrado em direito e instituições de justiça da Universidade Federal do Maranhão e consultora em violação de direitos humanos de mulheres.

Assista à entrevista do Papo de Mãe sobre exaustão materna:

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