Bullying: o perigo mora ao lado

Roberta Manreza Publicado em 29/09/2017, às 00h00 - Atualizado às 11h39

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29 de setembro de 2017


No Brasil, 45% das crianças ou adolescentes já sofreram algum tipo de agressão emocional ou física 

Por Camila Cury*, psicóloga

O fenômeno bullying tem causado preocupação entre os pais e educadores. Trata-se da violência física e verbal (humilhação, discriminação, deboche, exclusão, apelidos pejorativos) entre crianças e adolescentes. O bullying pode gerar transtornos psíquicos capazes de trazer consequências para a vida toda.

Em uma sociedade excludente, o bullying cresce a cada dia. No Brasil, 45% das crianças ou adolescentes já sofreram algum tipo de agressão emocional ou física. São números assustadores. A agressão acontece em diversos ambientes frequentados pelos jovens, mas especialmente no que deveria ser o mais protegido: dentro das escolas. E recentemente vem ocorrendo via internet, com a popularização de comunidades como o Facebook, gerando o cyberbullying. Esse tipo de violência nem sempre fere o corpo, mas invariavelmente machuca a psique, destrói os sonhos, asfixia a autoestima, a liberdade e o encanto pela vida.

Chamar uma criança ou um adolescente de baleia, elefantinho, botijão de gás, por estar acima do peso, é uma brutalidade sem tamanho. Cabeção, narigudo, magricela, branquela, negrinho são palavras cortantes. Não há “brincadeiras” inocentes quando se diminui, se inferioriza ou se humilha uma pessoa, seja quem for. Jamais um jovem deveria ser feito de palhaço ou menosprezado por características físicas, psíquicas, culturais ou religiosas.

Pais e professores precisam dar atenção especial a essa agressividade. Uma criança sofria de grave miopia, o que a obrigava a usar óculos. Os colegas constantemente a humilhavam, chamando-a de “quatro olhos” e “ceguinha”. Como se já não bastasse o constrangimento dos apelidos maldosos, esses mesmos colegas passaram a retirar os óculos da menina no horário do recreio, isolando-a assim dos outros. Ela ficava sozinha na sala de aula, vivenciando rejeição e solidão. Seus pais e professores não se deram conta das mudanças que se operavam, fazendo com que a menininha crescesse insegura, frágil, hipersensível e depressiva. Sutis agressões mudaram sua história.

Essa agressão causa enormes prejuízos no desenvolvimento emocional e às vezes cognitivo, no funcionamento da mente e na percepção da realidade. Vários estudos relatam que crianças que são objeto de zombaria quando pronunciam palavras erradas na frente de colegas têm enorme dificuldade para falar em público espontaneamente. Mesmo adolescentes considerados “gênios” desenvolvem insegurança, depressão ou até fobia social quando são desprezados por alguma anomalia física ou de comportamento. Jovens intelectualmente brilhantes, mas que foram humilhados pelo desempenho deficiente em algumas provas escolares, tornam-se vítimas do sentimento de incapacidade e bloqueiam sua capacidade de raciocinar. Alguns jovens que saem assassinando colegas de escola e assombrando o mundo com sua agressão foram frequentemente assombrados pelo bullying ao longo da sua história.

Um dos maiores erros educacionais é investir na prevenção das agressões, descuidando de fortalecer os jovens para que se tornem capazes de se proteger dos ataques. É fundamental aprender a proteger-se emocionalmente, e esse é um aprendizado que deve ser intensamente trabalhado em casa e na escola.

Preocupo-me muito em preparar os jovens para a vida. Proteger a emoção é apenas uma das ações necessárias. Entre outras, destaco pensar antes de reagir, expor e não impor ideias, trabalhar perdas e frustrações, resiliência, raciocínio esquemático, cidadania, espírito empreendedor, responsabilidade ambiental.

Alguns podem achar que a tentativa de trabalhar essas funções no psiquismo da juventude parece um grito no deserto, algo distante de qualquer possibilidade de realização. Para mim, é meu grande sonho. Sonho em dar uma humilde contribuição para formar pensadores, atores sociais saudáveis e autores da própria história. O futuro da humanidade depende dos jovens de hoje.

*Camila Cury é Psicóloga e Diretora da Escola da Inteligência, Programa Educacional idealizado pelo renomado psiquiatra, escritor e pesquisador, Augusto Cury, que tem como objetivo desenvolver a educação socioemocional no ambiente escolar.

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