Como a divisão de tarefas em casa influencia o futuro do seu filho

Roberta Manreza Publicado em 01/06/2015, às 00h00 - Atualizado às 08h25

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1 de junho de 2015


Quebra de estereótipos de gênero é importante para que as crianças experimentem e escolham a profissão que as fará feliz. Quem disse que menina não pode ser engenheira?

Por Luiza Tenente – Crescer

Na sua casa, você e seu companheiro dividem as tarefas domésticas? Enquanto um passa o aspirador, o outro prepara o almoço da família? Saiba que esse revezamento traz efeitos positivos para as crianças. Uma pesquisa organizada pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, concluiu que as filhas de casais que repartem os afazeres da casa tendem futuramente a seguir carreiras que fogem do estereótipo feminino (como engenharia ou economia) e a ser bem remuneradas no trabalho.

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Para chegar a esse resultado, os cientistas analisaram 326 crianças, de 7 a 13 anos. Perguntaram a elas e aos pais sobre quem ocupa o papel de limpar a casa, lavar a louça, cozinhar e cuidar dos filhos, por exemplo. Também questionaram sobre as aspirações infantis quanto à profissão – o que querem ser quando crescer? Nas famílias em que há uma distribuição mais igualitária de tarefas, as meninas expressaram interesse em trabalhar fora de casa e ter ocupações que fujam dos padrões designados para a mulher, como professora ou enfermeira.

O que explica essa consequência nas crianças é a cultura em que crescem. “Até 10 anos, o exemplo é a forma mais poderosa de educar. Elas observam o que é feito, não só o que é dito. O domínio de interpretar atitudes é mais desenvolvido do que o de entender palavras”, explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP). Portanto, quando seu filho ainda é pequeno, não adianta se limitar a fazer discursos sobre a liberdade de escolha. Ele vai prestar atenção à dinâmica da casa. E isso também vale para os meninos, afinal, podem desenvolver interesse por seguir a carreira de chef de cozinha de tanto observarem os pais preparando o jantar para a família. Mas claro: o revezamento de afazeres domésticos precisa ser um consenso amigável entre o casal. “Se o marido só estiver ajudando porque está desempregado e demonstrar revolta, a divisão não surtirá efeitos”, afirma Sonia Maria Gonçalves, psicóloga do Hospital São Luiz Jabaquara (SP).

Outra forma interessante para estimular a quebra dos estereótipos é apresentar aos filhos alguns filmes que levantem a discussão. A partir dos 10 anos, a criança terá discernimento e maturidade intelectual para observar as ideias de Mulan, por exemplo. Ela terá contato com uma história em que a protagonista é menina, mas quer cumprir papéis que são designados aos homens. Em A Pequena Sereia, a personagem principal não aceita ser quem o pai quer que ela seja. Depois de assistir aos filmes, converse sobre o assunto com as crianças, pergunte o que elas entenderam e chame atenção para a quebra de papéis – uma mulher pode ser muito feliz ao seguir a profissão de lutadora, por exemplo.

Liberdade de escolha

Se você e seu companheiro seguem profissões típicas de cada gênero, não se preocupe. Há outras formas de transmitir a igualdade dos sexos na rotina: o marido pode fazer compras no supermercado e levar os filhos ao médico. Também não há problema caso, apesar de você dividir as tarefas em casa, sua filha sonhe em seguir alguma carreira tipicamente feminina. “O importante é não aprisionar as crianças. As vontades e habilidades delas precisam ser respeitadas”, afirma Calegari. Por isso, se o seu filho manifesta interesse em cozinhar, jamais o intimide. Chame-o para preparar a salada com você ou façam um bolo juntos. Se ele pedir um jogo de panelas de brinquedo como presente de aniversário, não há problema algum. Principalmente até 6 anos, as crianças terão vontade de viver experiências novas.

E se o colegas da escola hostilizarem o seu filho por conta de suas preferências, converse com ele: “Nesse momento, é melhor falar a verdade e explicar que os amigos estão sendo preconceituosos”, aconselha Calegari. Diante da reação de estranheza da turma, pode ser que o menino prefira guardar as panelinhas em casa e só brincar com elas ao estar sozinho. Tudo bem, você precisa entender que é difícil não ser aceito e que essa foi a estratégia de defesa que ele encontrou. Porém, se o quadro se agravar e houver bullying, converse com a escola. Cada vez mais as instituições têm quebrado estereótipos – oferecem aulas de culinária e de marcenaria para todos, independentemente do gênero.

Tanto a escola quanto a família precisam colaborar para que a criança fantasie e sonhe. Tenha em mente que as vontades da criança não necessariamente representam a profissão que ela seguirá no futuro. Por exemplo: se a sua filha diz que vai ser cantora, mas você percebe que ela desafina, não a critique. Ou, se quer ser jogadora de futebol, mas não leva tanto jeito para o esporte, também evite desanimá-la. Diga apenas que fica feliz que esteja se preocupando com o futuro e fazendo planos. Aos poucos, ela perceberá quais são seus talentos. Não cabe aos pais nem aos professores tentar interferir precocemente nas aspirações infantis.

Se você for flexível e permitir a experimentação, seu filho crescerá sabendo que o importante é tentar. Mais tarde, na época do vestibular, pode não gostar tanto do curso e trocar de profissão. Nessa fase, sim, você poderá ajudá-lo, mostrando sugestões de carreiras, por exemplo. “Precisamos ser felizes. Um adulto que faz suas escolhas sem interferências, pensando em seu bem-estar, será mais dedicado e, consequentemente, mais bem sucedido”, afirma Calegari.

Abaixo, confira uma propaganda da empresa de comunicações Verizon, dos EUA. O vídeo mostra a história de uma menina que tem interesse por ciências e engenharia. Mas, toda vez em que ela tenta se divertir com planetas ou furadeiras, é impedida pelo pai. Se brinca com os animais na areia, é alertada para que não suje o vestido. De acordo com a campanha, 66% das crianças, no quinto ano, gostam de matemática e ciências – mas somente 18% dos alunos das faculdades de engenharia são mulheres. #ficaadica




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