Roberta Manreza Publicado em 20/08/2016, às 00h00 - Atualizado em 23/08/2016, às 13h58
Por Renata Velloso*, mãe de adolescente
Na premiação de final de ano da escola da Juju, a minha filha de 12 anos, todos os pais estavam orgulhosos sentados no auditório da escola para assistir à entrega de medalhas aos alunos que mais se destacaram em cada atividade da escola: esportes, artes, línguas e assim por diante. Entre os premiados, estava o grupo que participou de uma competição extracurricular de robótica. Até então, todas as premiações estavam bem equilibradas, mas em robótica, das dez pessoas que subiram no palco, apenas uma era menina.
Nós sabemos que a tecnologia está impulsionando os avanços da humanidade neste século. Praticamente todas as grandes inovações recentes vem dessa área. Por que será então que continuamos tendo tão poucas meninas interessadas no assunto? E mais importante, o que podemos fazer para mudar esse cenário?
O que a gente observa é que o interesse por ciências e tecnologia é semelhante nas crianças do sexo feminino ou masculino, mas é no início da adolescência que as meninas começam a se desinteressar pelo assunto. Eu acredito que isso acontece por diferentes razões.
A primeira é que nós temos pouquíssimas “musas inspiradoras” para as meninas. Enquanto os meninos querem ser como Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg ou Elon Musk, não existem muitas mulheres de destaque nessa área.
Outra questão importante é que muitas meninas acreditam que são menos capazes do que os meninos em exatas, e pior, os professores também costumam endossar esse estereótipo e cobram menos das meninas do que dos meninos das aulas de matemática[1]. Mas a verdade é que não existe nenhuma razão biológica que explique essa diferença. Inclusive em alguns países, como nos escandinavos, onde esse preconceito não está tão presente, a performance em matemática de meninas e meninos é semelhante.[2]
Por fim há também a motivação de cada um. Quando optam por carreiras ligadas às ciências, as meninas acabam preferindo as chamadas “ciências da vida”. Por isso, na medicina, química e biotecnologia a diferença entre os sexos é bem menor do que nas exatas. Isso acontece porque muitas meninas enxergam pouca utilidade em matérias como física ou matemática. O ensino dessas matérias acaba sendo muito teórico e desconectado da prática fazendo com que as garotas não percebam tanto valor nelas.
No final das contas, independentemente dos motivos, o resultado é que precisamos de mais mulheres nas ciências exatas e na tecnologia. As garotas têm um olhar diferente dos meninos, e quando estamos buscando soluções inovadoras para problemas complexos, quanto mais diversidade de olhares tivermos, melhor.
Por esse motivo é muito importante nós, como pais de adolescentes, ajudarmos a quebrar esses estereótipos, incentivando as nossas filhas a experimentarem mais nas áreas de exatas e de tecnologia. Claro que pode ser que elas não gostem e ninguém aqui está propondo obrigar uma jovem a fazer engenharia contra sua vontade. Por outro lado, é uma pena desperdiçarmos talentos importantes por puro preconceito.
[1]http://www.slate.com/blogs/xx_factor/2015/02/10/teacher_bias_in_math_new_study_finds_teachers_grade_boys_more_generously.html
[2]http://www.doctorbrunner.com/groundbreaking-study-finds-boys-are-not-naturally-better-than-girls-at-math-but-your-daughter-may-be-more-anxious-about-math/
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* Renata Velloso é mãe da Luiza (15), da Julia (12) e da Clara (10). É formada em Administração e Medicina e mora desde de 2011 no Vale do Silício (EUA). É autora do livro “Criando Unicórnios”, um manual de empreendedorismo para jovens a adolescentes que pode ser baixado gratuitamente no site http://www.criandounicornios.com.
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