"Parques, sim, fazer compras, não"! O ator e escritor Vinicius Campos fala dos momentos de lazer em família que realmente valem a pena
Vinicius Campos* Publicado em 20/08/2021, às 10h04
Segunda-feira passada foi feriado aqui na Argentina, onde moro. O dia estava lindo. Apesar de ser inverno e a gente conviver com temperaturas baixas, tinha saído um sol bonito e era possível caminhar pelas ruas apenas com uma jaqueta leve. Meu bairro, Palermo, um bairro cheio de lojinhas e restaurantes, estava abarrotado de famílias que passeavam com seus filhos felizes, tomando sorvete e carregando sacolas.
Fui invadido por um sentimento gostoso e comecei a me lembrar dos momentos em família que tive quando era criança. Lembrei da gente viajando, indo ao clube de campo, visitando a família, indo ao cinema (íamos ao cinema uma vez por ano, nas férias de julho, e era nesse mesmo dia que depois comíamos no McDonald's - sim, só tinha um Big Mac por ano na minha casa).
Tentei me lembrar dos momentos quando saíamos de fazer compras e em minha memória apareceram discussões, gente enfezada, minha mãe reclamando dos preços, meu pai bravo por conta das longas filas, minha irmã demorando horas experimentando roupa e não gostando de nada, um verdadeiro inferno.
Não encontrei nenhum momento sequer de compra feliz com minha família em toda a infância.
Pensei automaticamente em como é minha relação com as compras hoje. Sempre que preciso de alguma coisa, ou meus filhos precisam de roupa, armo uma verdadeira operação relâmpago. Fazemos uma lista com o que precisamos, vamos até uma loja ou um shopping, o mais perto possível para evitar carro e estacionamento, geralmente outlet porque me recuso a pagar tão caro por roupas que terão duração curta, e rapidamente encontramos as peças que estamos procurando, provamos, pagamos e tchau. Ah, obviamente toda a operação acontece num dia de semana, não tenho paciência pra enfrentar a presença de tanta gente.
Claramente compras para mim não são um momento de prazer. Não aprendi assim, e não ensino assim. E sou muito grato a meus pais por tantas lembranças ruins.
Ora, muitas famílias fazem do momento das compras um passeio, com direito a sorvete, foto, brincadeiras. E então as crianças crescem acreditando que para serem felizes, ou para terem lindos momentos familiares, precisam sair para fazer compras, e vamos transformando nossos pequenos em consumidores sem controle.
Compras não são passeio. Não deveriam ser. Compras são um trâmite, uma necessidade, algo sem graça que fazemos como ir ao banco pagar uma conta.
Passear é ir a parques, ao cinema, comer num lugar gostoso, conhecer um museu, assistir a uma peça de teatro, fazer trilha, ir à praia, visitar a família. Nossos pequenos precisam de lembranças divertidas que não estejam relacionadas ao ato de comprar.
Sei que muita gente trabalha a semana toda e no fim de semana precisa unir compras e passeios para agilizar as coisas, porém é importante tentar separar. Sei lá, domingo de manhã vamos a um parque lindo e à tarde iremos rapidinho comprar uma coisa que estamos precisando, sem sorvete nem balão, porque sorvete e balão já teve de manhã no parque.
Poxa Vini, mas gosto tanto de comprar.
Continue comprando, mas não perca a chance de passear de verdade com seus filhos e construir lembranças sem uma quantidade enorme de sacolas cheias de produtos. Curta o ar livre, os espaços para crianças dos grandes shoppings são uma armadilha para que tenhamos a sensação de que lá nossos pequenos são felizes. Vivemos num mundo onde o consumo está ao alcance de um click, dar aos nossos filhos a sensação de que comprar traz a felicidade, seria muito cruel para seu desenvolvimento, e talvez um grande problema para seu futuro.
Bom fim de semana e que façam passeios inesquecíveis em família.
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