Concepções da Primeira Infância

Mariana Kotscho Publicado em 29/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h21

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29 de dezembro de 2020


Artigo de Rogério Morais: “Investir na Primeira Infância pode tornar a empresa um lugar melhor para trabalhar e aumentar a retenção e, consequentemente, a produtividade dos talentos, dos pais e mães funcionários”

Por Rogério Morais*

O título deste artigo é polissêmico. Alguns dos seus sentidos precisam ser estimulados, desenvolvidos e amadurecidos. É absolutamente inquestionável o crescimento da pauta da Primeira Infância em todo o mundo e no Brasil. Desde o Prêmio Nobel de Economia dos anos 2000, James Heckman, estudos e intervenções se multiplicaram, fortemente lastreados em evidências científicas que comprovaram que este era o melhor investimento que um governo poderia fazer.

Melhor investimento porque, segundo Heckman, “para cada dólar investido, o retorno chegaria a 14 centavos ao ano”. Investir em cuidados com a saúde, em condições de higiene e em educação infantil, no começo da vida (do zero aos seis anos de idade), pode fazer com que a criança se torne um adulto mais saudável, com maior escolaridade e com menor propensão a cometer delitos; o que traz um bônus ao estado, visto que pode demandar, assim, menos gastos sociais com hospitais ou controle de polícia.

Logo, assim também começam a pensar alguns empresários. Investir na Primeira Infância pode tornar a empresa um lugar melhor para trabalhar e aumentar a retenção e, consequentemente, a produtividade dos talentos, dos pais e mães funcionários. A lógica do retorno impulsiona a adoção de benefícios, como o aumento das licenças maternidade e paternidade, a disponibilidade de lactários, entre outros.

No entanto, passado esse momento inicial de deslumbre com o poder de informações novas, vencendo os estágios iniciais de uma curva de advocacy para um tema que carecia de maior popularidade e de institutos básicos para regulamentação e incentivos, parece ser importante iniciar um movimento de ponderações fundamentais para uma consciência mais amadurecida sobre o assunto.

O investimento em Primeira Infância, antes de qualquer impacto econômico, tem um impacto social, de garantia de direitos básicos para qualquer ser humano. Antes de combater a desigualdade, permitindo uma “igualdade na largada”, atende muito mais às condições de vida digna, além de qualquer mito de ascensão meritocrática.

Está mais que na hora de trazer para o debate que crianças não são recursos, matérias-primas, produtos em desenvolvimento. Um dia, todos nós já fomos crianças; hoje, muitos exercemos o papel de cuidador e sabemos que o afeto por um ser que amamos é incondicional, não costuma esperar nada em troca.

Esse também deve ser o papel do cidadão, quando, como diz o provérbio africano, “uma aldeia inteira” busca educar o semelhante. Antes de qualquer argumento, é preciso construir uma sociedade que deseje o bem comum, que perceba que também há evidências científicas de que quanto mais justiça social, mais felicidade para o outro, mais felicidade para mim. Sustentabilidade vai além da esfera econômica ou ecológica, surge quando somos menos egocêntricos e percebemos a coletividade.

*Rogério Morais é diretor executivo do PIPA (Primeira Infância, Plantar Amor)




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