Conheça a síndrome rara que afeta até 15% das gestações de gêmeos que dividem a mesma placenta

Roberta Manreza Publicado em 23/07/2017, às 00h00

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23 de julho de 2017


Por dr. Javier Miguelez, ginecologista especialista em medicina fetal do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim*

Sucesso do procedimento intrauterino chega a 80% dos casos

A gravidez é sempre um momento de alegria, principalmente quando ela chega em dobro. E para que ela não traga maiores preocupações e sustos nos meses que se sucederão, é extremamente importante que a gestação seja acompanhada de perto pelo obstetra e que os exames sejam feitos na frequência correta.

A gestação gemelar tem peculiaridades ainda maiores, o que requer atenção redobrada. É o caso, por exemplo, da sequência poliúria-oliguria dos gêmeos (nomenclatura utilizada atualmente) ou, como é mais conhecida, síndrome de transfusão feto-fetal, que atinge de 10 a 15% dos casos das gestações gemelares que dividem a mesma placenta.

Existem dois tipos de gestação gemelar: a monocoriônica (20%), quando há apenas uma placenta e um saco gestacional; e a dicoriônica, a mais comum (80%), em que os bebês estão totalmente separados, cada um com sua placenta e em um saco gestacional.

A síndrome da transfusão feto-fetal acontece apenas nas gestações monocoriônicas e é causada pela conexão vascular entre os bebês, por meio de veias ou artérias do cordão umbilical interligadas, fazendo com que o sangue seja distribuído de maneira desequilibrada. “Diferente do que alguns dizem, esse desequilíbrio não está relacionado com a absorção maior ou menor de nutrientes, ou seja, um bebê não “rouba” os nutrientes do outro. O que ocorre na realidade, é que o volume de sangue fica desigual entre os bebês. Um feto torna-se receptor e o outro doador”, explica dr. Javier Miguelez, ginecologista especialista em medicina fetal do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim.

As consequências são diferentes para cada gêmeo, dr. Javier destaca:

Explicada todas essas questões, o ponto de destaque, antes do tratamento, se for necessário, é a importância do diagnóstico no momento certo.

Segundo Dr. Javier Miguelez, o primeiro passo do acompanhamento é identificar qual é o tipo da gestação gemelar, pois é a partir dessa informação que o médico vai determinar a periodicidade de monitoramento da gestante. “O momento ideal para identifica-la é entre 8 e 10 semanas. O diagnóstico também pode ser feito com segurança durante a ultrassonografia morfológica de primeiro trimestre, com 12 semanas. Se for dicoriônica, o especialista acompanhará a parturiente de 4 em 4 semanas, com adaptações se for o caso. Mas no caso de gêmeos monocoriônicos, o sinal de alerta é maior e o acompanhamento será de 2 em 2 semanas”, completa.

A síndrome manifesta-se entre a 16ª e 24ª semana, sendo muito raro aparecer antes ou depois. Esse período é de extrema importância nas gestações monocoriônicas. “É a avaliação cuidadosa que permitirá a identificação do problema. A avaliação da membrana amniótica é o principal critério para fazer o diagnóstico, pois o bebê doador geralmente fica comprimido e a membrana fica grudada, o embala, por conta da menor quantidade de líquido amniótico”, explica Dr. Javier.

É de extrema importância que os exames sejam feitos por um médico especialista em medicina fetal, pois as características podem confundir quem não tem experiência no assunto, podendo acarretar o atraso do diagnóstico e mesmo impossibilitando o tratamento. “Embora seja mais comum o receptor ser maior que o doador, a diferença de tamanho entre os bebês não é um critério do diagnóstico e não tem importância para o prognóstico”, completa o especialista. O importante é distribuição do líquido amniótico.

A medicina fetal é muito importante, pois seu principal objetivo é diagnosticar a normalidade ou a anormalidade do período gestacional e trabalhar na prevenção de doenças da gestação, tanto do feto como na gestante. É importante destacar que o Hospital e Maternidade São Luiz é referência em medicina fetal e no tratamento das gestações de risco, além de que nos centros de diagnósticos, todos os exames durante a gravidez são feitos por especialistas em medicina fetal, com aparelhos de ponta.

TRATAMENTO

Nem todo caso de síndrome da transfusão feto-fetal requer tratamento, há casos em que a distribuição do sangue retoma o equilíbrio, por isso há uma classificação do estágio que a doença está. Com algumas exceções é a partir do segundo estágio que a intervenção deve ser realizada. “Nesses casos, a mortalidade dos fetos é de mais de 90%, caso o diagnostico não tenha sido feito no momento certo e o tratamento correto realizado”. Além disso, nesses casos o nascimento ocorre via de regra muito prematuro, ou ainda, os bebê podem apresentar lesões e sequelas sérias no cérebro.

Antigamente o tratamento que se realizava era a amiodrenagem, que consistia em retirar o excesso de liquido dos sacos gestacionais. Porém era uma intervenção temporária e pouco efetiva, pois não tratava a raiz do problema. Após a punção do líquido, em pouco tempo ele acumula-se novamente, além de ter que “furar” a barriga da mãe diversas vezes durante a gestação. O especialista explica que esse procedimento é ultrapassado, pois além de ser muito incômodo para a mãe, não alivia a sobrecarga do coração de um dos bebês e a falta de líquido amniótico do outro.

O tratamento mais moderno é a intervenção intrauterina chamada “coagulação a laser por fetoscopia”, que além da retirada do excesso de líquido amniótico, coagula os vasos sanguíneos e dicorioniza a placenta, ou seja, a transforma funcionalmente em duas. “A coagulação visa impedir o maior desequilíbrio da circulação sanguínea dos fetos. Os casos de sucesso chegam a 80% das intervenções realizadas”, explica.

*Hospital São Luiz
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