Ariela Doctors nos traz uma deliciosa história de família que envolve afeto e comida com as receitas da vovó Anita. Aprenda a fazer biscoitos de nata
Ariela Doctors* Publicado em 03/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h05
Será que na sua casa existe um caderno de receitas?
Não? Que tal começar um?
Esse será, com certeza, um grande legado para seus filhos e filhas!
Sabe quando você chega numa festa, almoço ou jantar, num lugar que você nunca esteve antes e reconhece o ambiente, os objetos, a comida que está sendo servida e sente-se em casa? Dá aquela sensação gostosa de pertencimento?
Ou, por outro lado, quando chegamos num outro ambiente e vemos muitas coisas novas, cheiros e cores diferentes, dá aquela aguçada nos nossos sentidos e uma curiosidade de conhecer novos sabores e jeitos de viver?
Pois é, para mim, a alimentação é um portal. Uma das maneiras mais deliciosas que temos de conhecer a cultura e história das nossas famílias, do nosso povo e também de outros povos!
Quando pensamos na trajetória de um alimento, podemos reconstruir a história humana sob uma perspectiva diferente e abordar os deslocamentos e a ocupação dos territórios de um jeito diferente. Da mesma forma, quando pensamos nos modos de fazer e preparos de uma receita, podemos reconhecer saberes e sabores que atravessam nossa existência.
Portanto, acredito que os cadernos de receitas deveriam tornar-se verdadeiros patrimônios de família. Eles funcionam como catalisadores de memórias. Neles, além de podermos observar a história daquela família, suas tradições e comensalidade, podemos analisar o objeto em si, o tipo de papel, da escrita, enfim, temos vários elementos para tentar entender como esse grupo vivia. Uma verdadeira herança cultural!
Assim como os cadernos de receita, outras formas de preservação das gastronomias locais deveriam tornar-se políticas públicas, com selos de denominação de origem, de qualidade ou de preservação cultural. A gastronomia de um grupo, de um povo, assim como suas tradições são um patrimônio imaterial.
Sem essa possibilidade de preservação e se não supervalorizarmos nossos saberes de família e ancestrais, corremos o risco de diluirmos nossas identidades locais e nos tornarmos uma só massa globalizada, fadada a alimentar-se de uma dieta monotemática e sem graça, proveniente da superprodução da indústria da alimentação.
O apagamento das culturas humanas não são nosso único risco, nossa saúde também está comprometida, num acesso ilimitado à produtos cada vez mais processados, mais baratos e com menos nutrientes.
Apesar da globalização, somos oriundos de diversos territórios. Devemos respeitar e valorizar as diferentes identidades, práticas e costumes!
Isso não implica em opor-se a novas criações e elaborações. Mas, para novas inspirações, em qualquer linguagem que seja, faz-se necessário um profundo conhecimento da linguagem original e primária, que está na construção histórica e cultural de cada povo.
Com tudo isso, convido vocês nesta semana a buscarem receitas de família! Que tal deixarem nos comentários uma receita que conta a história da sua família para nós conhecermos?
Aqui vai uma receita super tradicional da minha avó paterna, Anita, que para mim carrega doces lembranças e um gostinho de infância feliz! Uma delícia de fazer com as crianças!
● 230 gr de nata (pessoas com restrição ou intolerância a lactose podem substituir por creme de soja)
● 03 xícaras de amido de milho (maisena)
● 02 xícaras de açúcar (mascavo, demerara ou refinado)
● 100 gr de manteiga em temperatura ambiente (pode substituir por ghee)
● 1⁄2 xícara de óleo vegetal
● 02 colheres de chá de fermento químico em pó
● 02 ovos inteiros
● 02 colheres de sopa de essência de baunilha
● 01 pitada de sal
● quanto baste de farinha de trigo (separe umas 500 gr – pode substituir porfarinha de arroz)
Você pode acessar outras receitas no site Comida e Cultura e conhecer mais do nosso trabalho no @projetocomidaecultura
*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe
Assista ao programa do Papo de Mãe sobre alimentação:
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