Crianças com altas habilidades na pandemia

Como atender as necessidades especiais dos pequenos com superdotação durante o isolamento e aulas remotas?

Roberta Castro* Publicado em 25/06/2021, às 14h02

Filippo, de 4 anos, possui altas habilidades e está sem aula presencial há um ano e meio -

“Mãeeeee, quanto é seven by five?”

E assim começo mais um dia de home office com meu pequeno Filippo, de 4 anos, que possui altas habilidades e está sem aula presencial há um ano e meio, devido a pandemia de Covid-19. Ele me exige demais, são operações matemáticas, formação de palavras em inglês (me corrige na pronúncia, inclusive) e muita interação com brinquedos de raciocínio lógico, como blocos de montar e quebra-cabeças. Passo praticamente o dia inteiro me dividindo entre ser mãe de um filho com desenvolvimento acima da média e profissional. Separada, não tenho como dividir as tarefas domésticas e de rotina geral com ele. Quando consigo ajuda, é um alívio porque sei que ele está feliz brincando com alguém e colocando em prática seus aprendizados.

Assista ao vídeo do Filippo resolvendo contas de matemática. 

Penso que, assim como eu, muitas famílias estão tendo que se desdobrar para poder prestar assistência aos filhos com Altas Habilidades fora da escola. Esse perfil de criança exige um trabalho educacional muito mais dinâmico e muitas vezes não é possível de realizar, dada a condição da família e desafios diários da vida em tempos pandêmicos.

Eu mesma, me sinto muito mal em não poder acompanhar e ajudá-lo nesse crescimento tão fundamental, mas enquanto as aulas não retornarem e eu não encontrar uma escola especializada com valor justo que possa, de fato, atender às necessidades dele, será complicado manter esse ritmo de desenvolvimento por aqui.

Números da superdotação no Brasil

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 3,5% a 5% da população brasileira é superdotada, com isso estima-se que o número seja de 2 milhões de pessoas em idade escolar. No entanto, de acordo com o último censo (INEP/MEC), apenas 16 mil crianças possuem o diagnóstico de superdotação no país, enquanto 12 mil têm atendimento de educação especial.

Em 2020, matriculei Filippo em uma escola perto de casa. É a que eu podia pagar. Com 3 anos, ele já sabia todas as cores, o alfabeto e as formas geométricas em inglês, além de diversas palavras em italiano. Ao avisar a coordenação sobre esse diferencial, percebi que fui ignorada. Ele demorou a se adaptar, teve muitas dificuldades e a pandemia o afastou da escola dois meses depois disso.

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Agora, eu mesma incentivo atividades em casa. Compro livros, brinquedos pedagógicos que são os preferidos dele e jogos de montar. Filippo é apaixonado por inglês desde bebê. Hoje, ele não assiste nenhum desenho em português em casa e isso é uma luta quando um amiguinho vem assistir com ele. O lado bom é que ele chegou a incentivar uma coleguinha do prédio a gostar da série da BBC “Numberblocks”. Foi assim que ele aprendeu as operações matemáticas e agora ensina a amiga de 6 anos.

Assista ao vídeo do Filippo falando em inglês. 

Minha luta hoje é conseguir um registro desse diagnóstico de Altas Habilidades (o custo do teste chega a R$3.000,00 em clínica particular) para tentar uma bolsa em algum colégio que atenda essa necessidade especial dele, já que não consigo financiar por conta própria.

Seguirei na luta, como muitas outras mães com filhos nesse perfil, prestando toda a assistência, para que ele não desmotive.

Altas Habilidades e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB)

O conceito de altas habilidades/superdotação só passou a fazer parte da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a educação no país, em 2013. Naquele ano, foi promulgada a lei nº 12.796, que altera a LDB e estabelece "atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino".

Dois anos depois, em 2015, a lei 13.234 foi promulgada para tornar obrigatório identificar, cadastrar e atender estudantes com estas características. O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê em sua meta 4 matricular todas as crianças de 4 a 17 anos com deficiências, transtornos de comportamento ou altas habilidades ou superdotação e ofertar atendimento especializado até 2024. Mas, segundo o observatório que monitora o andamento das metas, faltam pesquisas e indicadores que apontem se o objetivo está sendo cumprido.

Filippo, de 4 anos, e Roberta. 

*Roberta Castro, relações públicas. 

Instagram: @robertacastro80

Assista ao Papo de Mãe sobre altas habilidades.

Inclusãoaltas habilidadessuperdotação

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