A ‘’culpa” das mães que trabalham fora

Roberta Manreza Publicado em 24/08/2017, às 00h00 - Atualizado às 10h06

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24 de agosto de 2017


Por Claudio Henrique dos Santos*, jornalista, escritor e palestrante 

Um dos dilemas mais presentes no cotidiano das mulheres que trabalham fora é o sentimento de culpa que a maioria expressa por não poder acompanhar tão de perto o crescimento dos filhos. Claro que isso não as faz serem menos mães. Mas é triste ver que, além dessa culpa permanente, muitas ainda se queixam de serem julgadas o tempo por outras mães que não trabalham fora.

Fui um dono de casa em tempo integral entre 2011 e 2013, depois de ter largado uma sólida carreira de executivo e empresário para apoiar a carreira da minha mulher. Uma mudança tão radical que resolvi contar isso num livro. Enquanto escrevia, achei importante fazer um balanço dessa experiência. Meu saldo era positivo, pois apesar da interrupção da carreira, tive a oportunidade de acompanhar de perto todos os dias da minha filha naquele período. Eu ainda poderia trabalhar no futuro, mas minha mulher jamais poderia trazer aqueles dias de volta.

Achei que seria injusto que minha esposa lesse isso apenas quando o livro fosse publicado. Eu precisava saber o que ela pensava (e claro, incluir isso no livro). Antes dessa conversa, abri uma garrafa de vinho para amaciar os ânimos. No final, para meu alívio, a conclusão dela também era positiva. Amava o que fazia, batalhou a vida inteira por uma carreira internacional. A culpa de não estar perto da filha também a consumia. Mas ela ficava tranquila porque sabia que a segunda melhor pessoa que poderia cuidar da Luiza estava sempre por perto.

Conto isso agora porque depois de ficar em casa por três anos, eu me vi no mesmo dilema. Minha filha cresceu. E o livro abriu uma possibilidade de começar uma nova carreira como escritor e palestrante. Só havia um pequeno detalhe: teria que trabalhar no Brasil, mesmo morando no exterior. Me deparei com a situação de ter que montar um plano para que eu também pudesse trabalhar. Aos pouquinhos, encontramos a melhor solução para que as minhas ausências não prejudicassem a carreira da minha mulher e o desenvolvimento da minha filha.

Na primeira vez que entrei num avião para viajar ao Brasil quase voltei para a casa com mala e tudo, sem contar que chorei copiosamente o voo inteiro. Doeu demais, principalmente para alguém que havia pegado na mão da filha, todos os dias, sem exceção, durante 1005 dias ininterruptos. Acredite, sei exatamente o que é o sofrimento de cada uma das mães que sofre por se ausentar da presença dos filhos.

Ainda usando o exemplo da minha casa, minha mulher sempre viajou muito e tinha longas jornadas de trabalho. Mas é admirável ver como ela sempre procurou ter seus momentos com nossa filha. Se estivesse dormindo em casa, era ela que colocava a Luiza para dormir. Aquele era um momento sagrado, só das duas. Até hoje, procura manter o computador desligado (nem sempre é possível, com tanta responsabilidade) e o celular fica no modo silencioso e longe das redes sociais. Observando-a, posso concluir que nem sempre é possível ser mãe 100% do tempo, mas é perfeitamente viável ser 100% mãe.

Nenhuma mãe deveria sentir-se culpada por trabalhar. A vida é feita por escolhas, e muitas vezes não podemos sequer nos dar um luxo de escolher. Embora os filhos sejam a coisa mais importante da nossa vida, um prato de comida não chega sozinho à mesa. E, infelizmente, precisamos criá-los no mesmo momento em que estamos construindo a base financeira da nossa vida. Eles crescem, saem de casa, ganham o mundo. E nós ainda temos pela frente mais 30, 40, com sorte, 50 anos ou mais do que isso.

Mas enquanto eles estão debaixo das nossas asas, esqueça as críticas de quem não tem o que fazer e lembre que sempre dá para ser 100% mãe.

*Cláudio Henrique dos Santos é jornalista, escritor, palestrante e autor dos livros “Macho do Século XXI” e “Mulheres modernas, dilemas modernos”. Participou do Papo de Mãe sobre ‘homens que são donos de casa’.