pmadmin Publicado em 01/03/2016, às 00h00 - Atualizado às 11h50
Por Solange Melo*, psicóloga
Crianças devem crescer, florescer e se tornar independentes sob a nossa proteção. Dar responsabilidade aos filhos é algo que deve acontecer gradativamente. Se acontecer rápido demais as crianças podem se assustar e o efeito é contrário: podem se tornar introvertidas ou se agarrar desesperadamente aos pais.
Desde sempre, estimule seu filho a falar, converse com ele, peça sua opinião, o ajude a fazer coisas sozinho como comer, se vestir, tomar banho, sempre respeitando sua faixa etária.
Sabemos bem que o perfil da família mudou. Os filhos saem de casa cada vez mais tarde e a mulher entrou com tudo no mercado de trabalho. Mesmo assim, vemos que são muitos os filhos que em nada ajudam em casa, nem sequer arrumando as suas coisas pessoais. E por outro lado, muitas mães, embora sobrecarregadas, assumem todas as tarefas de uma família inteira. A consequência mais provável desse comportamento é, no futuro, uma enorme frustração por fazer tudo sozinha. E, inevitavelmente, elas acabarão por cobrar isso da família como um todo, mesmo sem perceber.
Para as crianças é mais importante aprender com modelos, ou seja, de nada adianta mandar mil vezes o filho arrumar o próprio quarto se os pais têm o seu próprio desarrumado.
As tarefas têm que ser concretas. Não mande seu filho arrumar o quarto, pois a criança não saberá por onde começar. Mande-o arrumar seus brinquedos, forrar sua cama, guardar seus brinquedos, suas roupas, seus sapatos, seu material escolar.
Colocar e tirar a mesa para as refeições, lavar a louça, alimentar os animais domésticos, tirar o pó dos móveis, varrer a casa, recolher o lixo, lavar a louça, forrar as camas são algumas das atividades que as crianças podem realizar dependendo da sua idade.
Realizando tarefas em casa, a criança aprende o valor do esforço, valorizará o trabalho das outras pessoas e se tornará um adulto mais proativo, além de se sentir importante e valorizado, o que contribui para o aumento da sua autoestima.
Muitas adolescentes reclamam que seus irmãos são mais privilegiados que as garotas, o que realmente acontece injustamente. Vale lembrar que as regras devem valer para todos os filhos, e que poupar os garotos das tarefas domésticas traz como consequência futura homens que associam as tarefas domésticas como obrigação exclusiva das mulheres.
Outros muitos adolescentes reclamam que para que seus pais permitam que eles façam o que desejam, precisam antes realizar algumas tarefas em casa. A dica então é: definir um horário para fazer essas tarefas. Isso, se eles não querem ouvir que não vão poder ir ao shopping por não terem dobrado e guardado a roupa.
É importantíssimo fazer os filhos não se sentirem apenas doadores, mas também receptores de ajuda, com a qual espera-se que contribuam. Isso ensina a criança que o forte ajuda o mais fraco e os maiores ajudam os menores (ex: pedir ao irmão mais velho que ajude o menor a escovar os dentes).
Os pais devem tratar os filhos como filhos e não como substitutos de um dos cônjuges. Frases do tipo “agora você é o homem da casa” ou ” tome conta da sua mãe” devem ser terminantemente erradicadas, em especial em famílias de pais separados. Filho é filho, não pode e nem deve assumir um papel que não lhe pertence.
Ao pedirmos para os nossos filhos ajudarem, devemos ter bem claro duas questões:
– esse pedido visa tornar essa criança mais independente, organizada, madura e responsável
– dar essa tarefa à criança não visa esquivar o adulto de suas próprias responsabilidades
A cada idade uma tarefa. A partilha das tarefas, quando realizada em conjunto, une mais a família e dá aos menores a ideia de responsabilidade. E tal partilha deve sempre privilegiar as aptidões pessoais.
Acontece de, muitas vezes, a criança querendo ajudar, acabar “atrapalhando”. Nesses casos, os pais devem se armar de muita paciência e ajudarem seus filhos a fazer corretamente as coisas. Sugerimos nunca fazer as coisas no lugar deles, pois isso fará com que percam a autoridade sobre eles.
Crianças que ajudam em casa não devem ficar com a ideia de que estão fazendo um favor aos pais. Família é como um time de futebol onde cada um tem sua posição e sua importância, visando todos um mesmo objetivo.
*Solange Melo é psicóloga clínica, de formação psicanalítica, atende adultos, adolescentes, crianças, casais e famílias em São Paulo/SP . Contato: solangemelopsicologa@gmail.com
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