Roberta Manreza Publicado em 23/01/2017, às 00h00
Por Dra. Priscila Zanotti Stagliorio*, pediatra
O engasgo pode acontecer em uma fração de segundos e isso é muito perigoso, especialmente, em crianças na faixa etária entre 1 e 3 anos de idade, período este em que elas ainda não conseguem controlar a mastigação e deglutição de alimentos por falta dos dentes molares (dos fundos) que contribuem para a trituração dos alimentos. Embora o tema assuste, é necessário estarmos preparados (física e emocionalmente) para saber agir rápido e utilizar as técnicas corretas para salvar a vida de uma criança. Neste texto, hoje, vou falar um pouco sobre o assunto e apontar as possíveis causas e consequências de um engasgo na infância. A ideia é orientar e ajudar pais e mães no cuidado diário de seus filhos com o objetivo de evitar acidentes com objetos, alimentos e líquidos. Fiquem atentos as dicas abaixo:
O que é o engasgo:
O engasgo é caracterizado pela dificuldade de respirar devido a presença de corpos estranhos na garganta. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, “corpo estranho (CE) é qualquer objeto ou substância que inadvertidamente penetra o corpo ou suas cavidades. Pode ser ingerido ou colocado pela criança nas narinas e conduto auditivo, mas apresenta um risco maior quando é aspirado para o pulmão.
Qualquer material pode se tornar um CE no sistema respiratório, e a maior suspeita de que o acidente ocorreu é a situação de engasgo. Isto ocorre quando a criança está comendo, ou quando está com um objeto na boca, habitualmente peças pequenas de brinquedos”.
Faixa Etária de maior incidência:
A idade de maior incidência de engasgo e até mesmo de paradas cardiorrespiratórias por aspiração de corpos estranhos (CE) acontece entre 1 e 3 anos de idade, mais em meninos do que em meninas por possuírem uma “natureza mais impulsiva e aventureira”. Porém, não podemos descartar outras faixas etárias, porque os incidentes também acontecem em crianças maiores – seja por alimentos, brinquedos e líquidos.
Sintomas:
A tosse pode ser o primeiro indício de engasgo após a ingestão do corpo estranho (CE), assim como o aparecimento de chiado súbito no peito em crianças que não apresentam casos de alergia. Falta de ar, lábios e unhas arroxeadas e ronquidão também sugerem este quadro.
Quando a criança apresenta somente a tosse e expele o objeto que provoca a asfixia, podemos caracterizar como engasgo “mais leve”, do qual não necessita de intervenção física (técnicas de desengasgo), mas é importante levá-la o quanto antes para o atendimento médico adequado.
No caso de asfixia total, quando a criança não consegue respirar, tossir, esboçar nenhuma reação, som ou ficar arroxeada é importante intervir imediatamente com técnicas adequadas para desengasgá-la e, após, seguir imediatamente para um pronto atendimento médico.
Objetos e alimentos que mais provocam o engasgo infantil:
Para as crianças é difícil entender ou mesmo ter a consciência de que um brinquedo pequeno, alimento ou bebida possam se tornar um objeto perigoso e até mesmo mortal. Cabe aos pais e seus cuidadores dobrar a atenção sobre as ameaças comuns à segurança dos pequenos.
Brincos, pulseiras, anéis, moedas, imãs e pilhas são comuns ao ambiente das crianças e não são impossíveis de serem ingeridos acidentalmente por elas. Tome cuidado e retire de seu alcança. No caso do uso de brincos e colares nas mulheres, é importante não os usar quando se manuseia a criança para evitar a ingestão acidental por elas em uma brincadeira, por exemplo.
Alimentos como amendoim, pipoca, frutas e vegetais crus, peixes e frangos, balas e chicletes, uvas, carnes, azeitona, salsicha e leites (especialmente vitaminas) devem ser preparados adequadamente para evitar a ingestão indevida e provocar o engasgo nas crianças, especialmente àquelas que ainda não possuem os dentes molares (dos fundos) que ajudam na trituração. Para alguns alimentos, é importante cortá-los em pedaços muito pequenos e ou amolecidos (cozidos) para ajudar a ingestão. Evitá-los e seguir as orientações da pediatra é outra dica infalível para não sofrer por teimosia.
Quando acontece o engasgo como agir:
Em primeiro, os pais ou responsáveis no momento em que acontece um engasgo devem manter a calma para agirem de forma correta e, assim, não colocarem a vida da criança em risco. Depois, identificar se o quadro é caracterizado por engasgo leve ou crônico, como já indicado neste artigo. E aí sim iniciar as técnicas apropriadas para ajudar na asfixia por ingestão de corpo estranho – seja ele qual for (estado liquido ou sólido).
Conheça as diferentes técnicas de desengasgo e suas indicações de aplicação:
A manobra de Heimlich é indicada para todos os quadros de engasgo por introdução de corpo estranho, em todas as faixas etárias, inclusive em adultos. O que muda é a forma como e aplicada na vítima e os cuidados após.
Em crianças menores de um ano: é importante realizar a manobra de Heimlich que consiste em virá-la de bruços com cabeça em altura mais baixa do que o quadril, apoiando-a nos braços para garantir a segurança necessária e, também, colocar os dedos de uma das mãos apoiadas entre as bochechas do bebê, com cuidado, e após “dar” cinco tapas fortes na região das costas, entre os ossinhos da costela, para que o corpo estranho seja expelido. Caso isso não ocorra, é necessário partir para a segunda etapa da técnica, da qual vira-se o bebê de barriga para cima e com os dois dedos maiores da mão, aperta o diafragma (próximo à altura do estomago) cinco vezes até que o objeto seja expulso ou a criança demonstre reação e seja possível a retirada do que provoca o engasgo, com cuidado para não a machucar e ou empurrar novamente para dentro da garganta. Veja a técnica na foto:
(5 vezes) (5 vezes)
Em crianças maiores de um ano: a manobra de Heimlich é aplicada de maneira diferente. Consiste em abraçar a criança (ou adulto) por trás, com uma das mãos em forma de punho fechado (como de um soco) e a outra sobre ela para comprimir a região abaixo das costelas (no diafragma – altura da boca do estomago) em sentido para cima, até que o objeto seja deslocado da via aérea para a boca e jogado para fora, permitindo o retorno dos sentidos e da respiração. Em seguida, leve a vítima imediatamente para um pronto atendimento adequado. Caso ocorra desmaio, é necessário solicitar ajuda emergencial – pelo telefone e fisicamente – para evitar fatalidades. Veja a técnica apresentada na foto abaixo:
Dicas importantes:
Como já dito, a ocorrência de engasgo em crianças é alta e possível em qualquer faixa etária. Para evitar que isso ocorra, sempre é bom que os pais evitem deixar por perto delas objetos de potencial risco, alimentos crus e ou em tamanhos inapropriados – cozidos, desfiados ou triturados – e bebidas sem a supervisão deles. Veja na imagem abaixo informações sobre os dentes molares, essenciais para o auxilio na alimentação dos pequenos.
Dra. Priscila Zanotti Stagliorio* é médica pediatra há mais de dez anos, atua na zona norte de São Paulo, em consultório particular, no Pronto Socorro do Hospital São Camilo – unidade Santana, e na rede Dr. Consulta – unidades Tucuruvi e Santana. Em seu currículo possui diversas participações em congressos, cursos de especialização e atuações em prontos socorros, clinicas e ambulatórios médicos da grande São Paulo – Capital. Também oferece curso personalizado para gestantes e mamães com recém-nascidos, com o objetivo de ajudá-las na mais importante missão de suas vidas: ser mãe – com dicas de cuidados, bem-estar e rotina nos primeiros meses.
Site: http://pediatraonlinedicasdepediatraemae.blogspot.com.br
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