Roberta Manreza Publicado em 02/06/2015, às 00h00 - Atualizado às 13h54
Maria Laura Albuquerque – Do UOL, em São Paulo
Blocos virtuais de construção. É mais ou menos assim que se pode definir o Minecraft, game adquirido pela Microsoft em 2014 por 2,5 bilhões de dólares. O jogo permite criar casas, edifícios, monumentos e até naves espaciais, tudo em escala real. A diversão de muitas crianças e jovens já chegou a diversas escolas e está sendo usada para trabalhar conteúdos de ensino em cerca de 40 países.
Trata-se um jogo do gênero “sandbox”, quer dizer, de cenário aberto, que tem como princípio uma dose de interatividade. “É um jogo inspirado no Lego. Os personagens e cenários digitais do Minecraft são construídos por peças em formato de cubo, o que lhes conferem um aspecto 3D. E cada avatar constrói suas narrativas dentre as histórias possíveis”, explica Cláudio Lúcio Mendes, professor do Departamento de Educação da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) e autor do livro “Jogos Eletrônicos: Diversão, Poder e Subjetivação” (editora Papirus).
Criado em 2011, o game vendeu mais de 54 milhões de cópias até a metade do ano e possui uma versão exclusiva para educadores, o MinecraftEDU, criado por professores para ser usado em sala de aula, com ferramentas específicas para ensinar conteúdos escolares.
Embora seja um jogo de competição, o Minecraft requer a colaboração entre os jogadores. Também são colocadas em cena a criatividade, a necessidade de planejamento de ações futuras e a importância de disciplina para obter sucesso.
“É necessário jogar com regularidade, seguindo procedimentos específicos e regulares, pois, caso contrário, o avatar poderá ‘morrer’, fala Mendes.
Quem entende de tecnologia e educação garante que a ideia de usar o Minecraft para ensinar a criançada funciona e dá bons resultados. Desde, é claro, que os professores definam seus objetivos de ensino e planejem bem como empregar o jogo de forma articulada com o conteúdo do currículo escolar.
“A partir dos cinco ou seis anos, as crianças podem brincar com o jogo, que não é violento nem estimula a competição exagerada”, diz Mendes. Nessa idade, segundo ele, o ser humano já tem abstração suficiente para avançar no game e, consequentemente, o Minecraft colabora para o desenvolvimento cognitivo.
Na escola, a partir dessa faixa etária, podem ser trabalhados temas ligados à geografia (porque a ferramenta explora certa noção espacial), à matemática (por trabalhar raciocínio lógico abstrato) e também questões ligadas às habilidades manuais (constrói-se o tempo todo).
No Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, os estudantes lidam com projetos usando o MinecraftEDU no terceiro, quarto, quinto e nono anos do ensino fundamental.
“Resolvemos usar essa plataforma de criação porque ela requer um nível interessante de engajamento do aluno”, diz Rodrigo Assirati Dias, coordenador de tecnologia educacional da unidade do Panamby da escola.
Na instituição, as crianças estavam estudando a ópera “Anel do Nibelungo”, de Wagner. Então, de acordo com Dias, a turma foi desafiada, de forma colaborativa, a planejar e a construir o castelo onde se passa a ópera.
Para outras turmas, foram propostos a construção e o gerenciamento de fazendas e plantações. “O engajamento é muito grande, os alunos se preocupam muito em serem fiéis à realidade, pesquisam e estudam muito”, declara o educador.
Também aproveitando o interesse e a paixão das crianças e jovens pelo Minecraft, o Colégio Bandeirantes, em São Paulo, está investindo no uso do game para ensinar. Eva Turin, professora de história e integrante da oficina de games da escola, desenvolveu uma proposta de remontar a capital paulista na década de 1930.
“Ele foi usado como uma ferramenta para entendermos a história. A turma teve de pesquisar muito”, diz ela. Ainda foram exploradas habilidades matemáticas – para o estudo de questões como perspectiva e proporção. “O game é um meio, não uma finalidade para aprender coisas novas. Com ele, é como se o aluno entrasse em um livro e participasse ativamente do que é pesquisado.”
Os predicados do Minecraft são tantos que até a ONU (Organização das Nações Unidas) também está fazendo uso dele. Até 2016, a ideia da instituição é fazer a revitalização de cerca de 300 espaços urbanos e áreas abandonadas com o game. Por meio do projeto “Bloco por Bloco”, jovens serão convidados a modificar os espaços na tela de computadores. Depois do desenho virtual no game, os locais serão revitalizados. Para começar o projeto, foi escolhido um parque no Quênia.
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