Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, Andreza Cooper já preparou diversas casas e famílias de celebridades nos Estados Unidos para a chegada de bebês. Hoje, ela trabalha para Khloé Kardashian
Maria Cunha* Publicado em 07/07/2021, às 10h27
A brasileira Andreza Cooper trabalha como “newborn care specialist”, ou seja, uma especialista em recém-nascidos, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Apesar de a atividade ainda não ser popular ou regulamentada no seu país de origem, Andreza faz sucesso como uma das NCS, como são chamadas as “newborn care specialists”, mais requisitadas dos Estados Unidos entre os famosos.
Andreza conta que se mudou para os Estados Unidos, porque a mãe morava no país. Quando a NCS chegou, a mãe já estava há seis anos no país.
“Eu fiz faculdade em Portugal e, com cinco anos de visto de estudante em Portugal, na época, você tinha direito à cidadania, aí ao invés de ficar em Portugal, a minha mãe disse que tinha oportunidade, era o último ano que eu podia pegar os documentos daqui [Estados Unidos], então ela ficou: 'Ah, vem pra cá'. E eu não queria. Mas, ela falou: 'Vem e qualquer coisa você pode escolher, você vem pega o daqui e qualquer coisa você pode ter a oportunidade de escolha'."
Andreza, então, foi para os Estados Unidos, mas o processo da documentação demorou mais do que o esperado e ela foi ficando.
Eu nunca fui aquela pessoa de ficar sem fazer nada e como não tinha minha documentação aqui, a única coisa que você pode fazer são trabalhos, assim, tipo, cuidar de criança, ser “babysitter” ou limpar casa. Agora, tem Uber, tem isso tudo, mas na época não existia, faz mais de 11 anos.
É importante explicar a diferença de “babysitter” para babá. Enquanto a “babysitter” só vai esporadicamente, quando as pessoas precisam, a babá tem uma carga horária e trabalha tempo integral.
Então, logo no primeiro mês, apareceu para Andreza uma vaga de “babysitter” de três crianças, o primeiro contato da NCS com esse tipo de trabalho, já que ela nunca tinha desempenhado função parecida.
“Eu consegui um emprego para cuidar de um bebê de 10 dias e do irmão de três anos de idade. Foi aí o meu primeiro contato com recém-nascido. Esse meu trabalho foi muito difícil, mas eu aprendi bastante coisa, a mãe tinha depressão pós-parto, só que eu não sabia o que era isso, eu nunca tive contato, então, você não sabe, não tem informação. Ela não ficava com a criança, ela me tratava muito mal, jogou livro pra mim e disse assim: 'Te vira!'”, conta Andreza Cooper.
E foi assim que a NCS começou, lendo o livro. Ela relata que, como a mãe não pegava na criança, ela tinha que fazer tudo e era uma pressão muito grande, mas, ao mesmo tempo, queria ajudar aquela criança.
“Eu não tinha escolha, sabe? Eu não ia chegar e pedir minhas contas e também eu não ia abandonar aquela criança. Pra mim, eu pensava que ela era uma má mãe, mil coisas, aí depois, com informação, eu fui saber que eu deveria ter ajudado mais, dado mais suporte emocional para ela”.
No segundo emprego de Andreza, o bebê tinha apenas um mês, mas, aos finais de semana, ela começou a fazer diversos cursos.
“Fiz o curso de “newborn care specialist”, que são só quatro dias, só que você tem que fazer 1200 horas para poder ter o certificado. Então, eu fiquei trabalhando no tempo integral, mas nos finais de semana eu fazia curso de amamentação, workshop de sono, sempre que eu podia, eu fazia os meus cursos”.
Por ser muito dedicada, outras oportunidades foram aparecendo e, nos finais de semana e nas folgas, passou atrabalhar meio período com bebês ou cobrindo outras colegas que já trabalhavam há mais tempo com isso. Então eu fui fazendo isso. Depois de três anos, Andreza deixou de ser babá e começou a ser uma NCS (newborn care specialist) em tempo integral.
Andreza Cooper explica que, normalmente, as pessoas contratam uma NCS quando estão de seis a oito meses de gravidez e o trabalho dela é fazer um planejamento com a família, não só em relação ao quarto, mas também se a mãe pretende amamentar, por exemplo.
“Tem pessoas que decidem que não querem [amamentar] logo no início, por muitos motivos: tiveram bebê antes e não tiveram uma boa experiência, foi traumática e não querem amamentar; tem também a barriga de aluguel, que aqui é muito comum, não são todos os estados em que é legalizada a barriga de aluguel nos Estados Unidos, mas aqui na Califórnia é, então eu já estive com os bebês, o processo é diferente, a mãe pode escolher ter o leite materno enviado pelo correio ou então dar fórmula logo”.
Quando chega mais ou menos a uma semana da data suposta de nascer, Andreza e mais uma pessoa com quem trabalha vão para a casa da cliente.
“Faz cinco anos que eu trabalho com a minha mãe, ela é enfermeira aqui e trabalha com isso também. Então, nós vamos juntas para conhecer a família, conhecer um irmão que tenha, a dinâmica da família, conversar sobre regras da casa e nós esterilizamos tudo uma semana antes da data do parto e quando a criança nasce, ela passa normalmente de 30 a 48 horas no hospital e aí a gente espera na casa”.
A NCS conta que é comum que os médicos façam recomendações de amamentação e também se há algum problema respiratório ou qualquer outra coisa que a criança apresenta, o trabalho começa ali. Andreza Cooper conta que entre suas funções também está o “sleep training”, que é o condicionamento de sono.
“Antes, era um serviço à parte, mas para mim é muito mais fácil pra eu terminar os meus contratos que, normalmente, são de três a seis meses. A gente não fica mais de seis meses, embora sempre peçam para a gente ficar, mas é muito mais fácil sair quando o bebê está dormindo 12 horas por noite, principalmente para mães e pais que os dois trabalham. Imagina você chegar em casa, passar a noite toda ainda acordado e ter que trabalhar no dia seguinte, então [o condicionamento de sono] é muito importante”.
Atualmente, Andreza Cooper trabalha para Khloé Kardashian, celebridade que acumula 126 milhões de seguidores no Instagram.
“Nesse meu trabalho atual, eu estou fazendo papel de babá, com certeza, mas eu comecei como “newborn care specialist”. Como a gente viaja bastante internacionalmente, eu também faço o acompanhamento do sono dela, porque tem muito fuso horário, então, para mudar, eu sempre viajo com ela quando é internacional. Se são só três dias, eu mantenho o horário de Los Angeles, se for mais de três dias, o fuso horário localum pouco atrasadinho”, conta a NCS.
Andreza conta que grande parte dos seus clientes são confidenciais, mas que já foi NSC da atriz Jordana Brewster, da saga Velozes e Furiosos, e de Kevin Hart, rapper, apresentador de TV e um dos maiores comediantes dos Estados Unidos.
“Eu até voltei para o segundo filho, ele tem quatro filhos, dois do primeiro casamento e dois do segundo, mas os dois mais novos, a gente fez os dois bebês”.
Um momento memorável para Andreza é quando foi com uma atriz para a Casa Branca e sua cliente estava amamentando.
“Eu pensava que eu não iria, que eu ficaria no hotel porque essa é a vida, todo mundo pensa que é muito glamurosa, mas é uma vida de hotel, de quarto de hotel no escuro. Eu pensava que não ia sair, você não vê a cidade quando você viaja normalmente. Foi a primeira vez que eu fui para Washington, eu estava super feliz, super empolgada”
O que ela não sabia era que também entraria na Casa Branca, o que a deixou extremamente feliz.
“Como ela [a cliente] estava amamentando, ela foi para um lugar privado, ela é uma pessoa pública, então colocaram a gente no Cabinet Room que é onde os ministros e as reuniões bem importantes acontecem. Então, eu já fiquei assim: Meu Deus, estou no Cabinet Room. Eu pensei que ia ficar lá de novo e não pensava que iria entrar no Salão Oval”.
Mas, quando a cliente de Andreza foi chamada, a atriz se virou para ela e perguntou: Vamos?
“Aí você tem que ficar com aquela cara de que nada está acontecendo. No Salão Oval, eu fiquei tentando ver absolutamente tudo o que estava ao meu redor, eles estavam conversando e rindo, quando o presidente Barack Obama chegou e perguntou: 'Jovem, você quer tirar uma foto também?'. Eu fui, tirei uma foto com ele e me senti realizada, de verdade”.
Andreza Cooper conclui contando que esse foi um trabalho muito difícil que fez por conta da rotina da cliente, que trabalhava e ainda trabalha muito, mas a foto com Barack Obama fez tudo valer a pena.
Andreza Cooper relata que assim como um salário em São Paulo é diferente de um em Natal, por exemplo, o custo de uma NCS depende da geografia.
Eu moro em Los Angeles, a terceira cidade mais cara do país, mas aqui custa, em média, de 35 dólares por hora até 100 dólares. Tem até algumas pessoas que cobram mais de 100 por hora. Então, é bastante alto o custo, porque aí você multiplica por 24 horas, 4 dias por semana e aí três meses.
Andreza trabalha no mínimo três meses, com a justificativa de ver resultado do próprio trabalho e também para ter uma estabilidade de renda, porque não é um trabalho em que ela fica com a mesma pessoa por anos. Além disso, para ter estabilidade na carreira, os contratos são um atrás do outro.
“Então, para poder fazer assim: só trabalhar uma semana aqui, dois dias lá, é muito complicado. Eu tive que fazer essas regras para mim mesma, de poder ter no mínimo uns três meses de contrato e também, entre um contato e outro, colocar de duas semanas a um mês, dependendo da saúde da mãe e porque pode ser um bebê prematuro, pode nascer antes e eu estar com outra família.
Para se tornar uma “newborn care specialist”, Andreza conta que o primeiro passo é fazer o curso básico, de quatro dias, e depois tentar achar uma mentora, que normalmente tem no próprio curso. Essa mentoria será como um intercâmbio, a futura NCS segue uma especialista que está trabalhando há mais tempo ou é aceita por uma família recebendo um salário mais baixo.
Você trabalha 1800 horas de prática e, depois disso, faz um teste e você recebe o certificado da associação, a Newborn Care Specialist Association (NCSA). Com isso, você é uma NCS, mas normalmente as pessoas fazem sempre mais que isso, mais cursos que esse. O que vale mesmo, na verdade, é a prática com a informação que você teve, porque se você tiver só informação e não tiver prática e você tiver prática sem informação, também não funciona.
Andreza Cooper completa contando que na própria associação eles dão outros cursos e também organizam um encontro anual com workshops e atualização das informações.
A NCS conta que no Brasil, a doula mais conhecida é a de parto, porque tem dois tipos de doula: a doula de parto e a doula de pós-parto. Enquanto a doula de parto, normalmente, acompanha na gravidez e no parto, a doula de pós-parto que, nos Estados Unidos, só fica 15 dias, é mais focada no pós-parto da mãe.
“A NCS ajuda a mãe, mas ela está mais focada no desenvolvimento do bebê. A NCS não pode diagnosticar um bebê, mas a gente tem que saber identificar se está tudo bem, se ele está respirando bem, dormindo bem. Essa é a diferença da doula para uma NCS, a doula passa bem menos tempo e elas são, também, treinadas na parte de alimentação na amamentação, NCS não faz”, pontua Andreza Cooper.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe
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