Ao meu querido pai

Roberta Manreza Publicado em 13/08/2016, às 00h00 - Atualizado às 00h14

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13 de agosto de 2016


A falta que você me faz: órfã de pai

Por Roberta Manreza*

Mesmo após a morte do meu pai, em 24 de dezembro de 2011, véspera de Natal, nunca me senti órfã de pai. Meu pai sempre foi muito importante em minha vida e continua sendo. É que logo após perdê-lo subitamente, em um infarto fulminante, ouvi de uma psicóloga que eu precisaria me acostumar com uma nova condição: a de órfã de pai.

Faz mais de 4 anos que meu pai faleceu e este será o quinto dia dos pais sem ele. Não escrevi mais sobre o neurocirurgião Prof. Dr. Luiz Alcides Manreza, desde o meu texto de despedida, na época. Mas hoje resolvi prestar uma nova homenagem. Além de dia dos pais, dia 15 será aniversário dele. Comemoração dupla. Mas por que eu fiquei tanto tempo sem falar sobre o meu pai? Não publiquei nenhuma linha sequer em anos… Durante, e após o luto, a gente passa por diferentes fases. E espero, contando aqui sobre elas, ajudar outras pessoas que estão sofrendo a ausência recente de um pai nesta data. Situação difícil.

Minha família e meus amigos me viram enfrentar diversas batalhas internas. Sentimentos que foram mudando ao longo do tempo. E o poder do tempo é mesmo surpreendente, só vendo para crer, ou melhor, só vivendo para crer. Todo mundo dizia, insistia, e eu custava a acreditar. Em um primeiro momento, briguei com Deus e depois fiz as pazes com Ele. Natural. “Por quê? Por quê?” Em seguida, a minha raiva se voltou contra o meu próprio pai. Meu próprio pai!?! Como se a culpa fosse toda dele e ele fosse capaz de evitar o inevitável, escapando, assim, da própria morte. “Como você me deixou? Como você pôde?”

Ferida aberta, exposta e uma dor imensa; a gente acha que não vai conseguir sobreviver e sobrevive. O tal do tempo. O buraco vai cicatrizando e o choro que era compulsivo, interminável, termina. Nestes últimos tempos, não consigo mais chorar. Estranho, né? Antes eu não conseguia parar de chorar. Era só abrir a boca para contar algo sobre ele e buáááá.  Olhava para outras pessoas e buáááá. Entrava em um consultório médico e buááá. Meu pai não saía da minha cabeça. Se eu não conseguia dormir, lá estava ele em meus pensamentos. E mesmo quando eu dormia, ele aparecia nos meus sonhos, frequentemente.

Com o passar dos dias, dos meses e, finalmente dos anos, essa presença sufocante dele foi se atenuando. Ficando mais leve, não tomava mais conta do meu dia a dia, apenas fazia e faz parte dele. Como eu já disse, atualmente eu não me sinto órfã de pai, o meu pai continua vivo em mim, lembro dele sempre, todas as horas, mas, agora, de uma forma boa, não mais ruim, com muita saudade e feliz de tê-lo como o meu pai. Muito orgulho e privilégio de ter sido criada e muito amada por ele. E ter podido demonstrar toda a minha gratidão e amor por ele também.

Ele poderia ter sobrevivido ao infarto? Poderia. Poderíamos ter tido mais anos maravilhosos juntos? Poderíamos. Mas não foi assim que aconteceu e cabe a mim aceitar e homenagear esse ser humano que serviu de exemplo para muitas pessoas. Não é o profissional Dr. Manreza, tão competente e querido pelos pacientes que eu quero destacar aqui, e sim um dos maiores legados que o meu pai me deixou: o de amar a vida acima de tudo. Um médico que amava a vida e salvava vidas. Um ensinamento que ele desfrutou com maestria, apesar dos percalços dessa nossa aventura. Obstáculos que ele sabia driblar como ninguém. Podia ser em um pronto-socorro lotado, em uma cirurgia complicada ou em casa com a família. Ele estava sempre de bem consigo mesmo, em paz e acreditava nele e nos outros.

Ju (minha filha), Luiz (meu pai) e Bia (minha sobrinha)

Nossa! Quanta falta você me faz. Gostaria de ouvir de você agora um conselho dos muitos que você costumava me dar.  Receber um abraço apertado que curava o incurável, me dava força e a certeza de que tudo vai dar certo. Sem você aqui não tem sido nada fácil encarar os grandes e os pequenos problemas, mas nós temos feito isso mesmo assim. A mamãe tem assumido vários dos seus papéis e tem dado conta do recado. A Tatty e o Guto também têm lutado bravamente. Citando o nome de um filme que a gente amava, de um ator que a gente adorava, o Marcello Mastroianni: “Estamos todos bem”. Vida que segue, com amor e esperança, sempre!

Feliz dia dos pais.

*Roberta Manreza é mãe, jornalista e apresentadora do Programa Papo de Mãe.




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