Feminicídio: a outra pandemia

Mariana Kotscho Publicado em 29/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h20

-
29 de dezembro de 2020


Artigo do advogado Arnobio Rocha, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP sobre feminicídios no país

Arnobio Rocha*

A quantidade de mulheres mortas por seus ex-maridos, namorados, companheiros, se tornou explosiva e trouxe à luz, nesses últimos dias, uma realidade cruel que bestifica a sociedade brasileira.

O Feminicídio contém uma mensagem explícita de que o machismo não aceita a libertação das mulheres, nenhuma mudança de comportamento e/ou empoderamento das mulheres será tolerado.

O feminicídio é amplo e plural, atinge as raças e as classes, é uma imposição de gênero, a força do patriarcado, que vai da periferia aos palácios, é força do macho, a crueldade passada de geração a geração, que cresce quando no poder existe uma clara ordem de que as mulheres devem se submeter aos homens, as mensagens religiosas retrógradas transformadas em política, por ação ou omissão.

O feminicídio é a expressão menos sutil do machismo, é a exposição última de um poder exercido pela força, no dia a dia, nas relações humanas, em que prevalece o homem, no trabalho, na escola, na política, e, por óbvio, nos lares.

Essa relação de força transforma muitas mulheres em sobreviventes, “mortas em vida”, pois esse poder é exercido não apenas pelo companheiro, como também pelas instituições que revitimizam as mulheres e não lhes dão a menor chance de defesa.

A baixa presença da mulheres na política, no judiciário, é uma das razões de menor resistência, mesmo quando chegam, muitas vezes, as imposições masculinas não lhes permitem mudar a realidade, algumas se adaptam ou se adequam às instituições, não produzindo mudanças estruturais tão urgentes e necessárias.

A reflexão é de um homem, pode ser desconsiderada, não é nosso lugar de fala, não busca protagonismo algum, apenas se colocar como aliado, se acharem conveniente, e que busca dia a dia combater a praga genética do machismo.

*Arnobio Rocha, advogado, membro da Comissão de Direitos Humanos OAB/SP




Violência DomésticaFeminicídiocomissão de direitos humanoslei maria da penha pandemiaoab sp