A Flipocinhos acontece até domingo, 25, e traz bate-papos com autores de livros infantis, como Eliandro Rocha
Sabrina Legramandi* Publicado em 23/07/2021, às 11h36
Era uma vez, um principezinho que cansou de ser chamado apenas de “príncipe encantado”, como na maioria das histórias de contos de fadas. Ele queria ser reconhecido pelo seu verdadeiro nome e teve que quebrar toda a tradição real para descobrir, realmente, o que ele queria ser: um estilista.
Quando cresce, o príncipe se casa com uma princesa tão “diferente” quanto ele. Ela não queria fazer uma trança para jogar os seus cabelos – porque não queria ninguém puxando o cabelo dela – e não queria usar salto, um sapato tão desconfortável. O que a princesa Sofia queria, na verdade, era ser arquiteta de castelos.
Os dois, porém, tiveram um filho que acabou quebrando todas as expectativas: ele, sim, queria ser um príncipe encantado. É na “escola de príncipes indecisos”, em meio a tantas aulas e tanto conteúdo, que o principezinho indeciso precisa decidir o que será quando crescer.
É essa a história que permeia a trilogia de “Escola dos Príncipes Encantados”, “Escola de Princesas Recatadas” e “Escola de Príncipes Indecisos”, escrita por Eliandro Rocha, autor que, aos 10 anos, descobriu a literatura.
Eliandro conta, ao Papo de Mãe, que nunca imaginou que iria se tornar escritor. Quando criança, ele não tinha livros em casa, mas hoje tem dez livros publicados e participará da Flipoços, o festival literário internacional de Poços de Caldas, em Minas Gerais, que abrange a Flipocinhos, o evento voltado para o público infantil.
Eu achava que eu ia ser piloto de avião, piloto de foguete, trapezista, mas nunca pensei que eu seria escritor. Mas aí eu descobri que, sendo escritor, eu posso ser palhaço, piloto de avião, de foguete: é só inventar uma história.” (Eliandro Rocha)
Os livros de Eliandro Rocha falam, de forma natural, sobre questões como diversidade e papéis de gênero. De acordo com ele, a literatura tem um papel importante na transformação do ser humano: ela é capaz de ensinar a criança a amar aquele que é diferente dela.
“As crianças são ensinadas a odiar. E, se elas são ensinadas a odiar, elas também podem ser ensinadas a amar”, diz. O autor afirma que seus livros não são pedagógicos e não apresentam nenhuma “lição de moral”: eles apenas são provocadores de diálogo.
A trilogia dos príncipes e da princesa surgiu através de conversas com leitores que, curiosos, perguntavam sobre a história da princesa e do filho dela, o principezinho indeciso. O primeiro livro, “Escola de Príncipes Encantados”, já foi traduzido para o maltês e o último, “Escola de Príncipes Indecisos” ainda será lançado.
O segundo, “Escola de Princesas Recatadas”, traz, como protagonista, uma princesa negra e questiona padrões de gênero. “Ele traz um diálogo sobre esse padrão de ‘bela, recatada e do lar’ que, na verdade, nunca refletiu o que as meninas são”, conta.
As histórias já geraram, até mesmo, atividades escolares que questionavam os papéis exercidos por homens e por mulheres. Em uma delas, as meninas fizeram uma exposição de maquetes de castelos e os meninos fizeram vestidos para elas desfilarem.
Eliandro enxerga o seu papel como autor como uma forma de fazer com que as crianças, no futuro, cresçam como adultos que conseguirão ler de forma crítica. “O que a gente quer é desenvolver o pensar. E, por querer isso, a gente vai contra a maré, porque vai contra o que a maioria dos nossos governantes desejam”, relata.
Karine Pansa, ex-presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e diretora de duas editoras que estarão presentes na Flipocinhos, a Girassol e a Callis, conta que, para as crianças, a leitura serve como uma maneira de imaginar um final feliz, tão importante em um contexto tão difícil como o que o mundo está vivendo.
A criança visualiza nas histórias aquele sonho tão almejado e o tão desejado desfecho feliz e, assim, ela consegue imaginar isso na vida dela. Em momentos de angústia, isso é uma coisa benéfica.” (Karine Pansa)
No caso dos adultos, a leitura também pode servir como forma de “se desligar” da realidade e gerar sentimentos positivos depois. “Eu enxergo muito o livro como pílulas de terapia em momentos tão angustiantes como os que estamos passando hoje em dia”, diz Karine.
A Flipoços acontecia, todos os anos, na cidade de Poços de Caldas, mas este ano será totalmente virtual por conta da pandemia da Covid-19. Ela começou na quarta-feira, 21, e vai até o domingo, 25.
O bate-papo com Eliandro Rocha acontecerá amanhã, dia 24, às 16h30. Além disso, diversas atividades para o público infantil, como a oficina de massinha e uma conversa com Regina Drummond também estão previstos na sala Flipocinhos.
Para acessar a programação completa, tanto da Flipoços quanto da Flipocinhos, basta clicar aqui. Confira abaixo os bate-papos mediados por Claudia Leonardi, do blog Mãe Literatura:
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe
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