- Chiado
Roberta Manreza Publicado em 27/02/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h15
Beatriz Vichessi
Colaboração para o UOL, em São Paulo
O antropólogo inglês Montague Francis Ashley-Montagu (1905-1999) dizia que o recém-nascido humano –diferentemente de outros mamíferos que nascem adaptados ao meio onde vivem– chega ao mundo bastante imaturo e é expulso do útero materno antes de desenvolver habilidades básicas.
De acordo com essa ideia, os três primeiros meses de vida da criança seria o “quarto trimestre” ou exterogestação, período necessário para que ela se adapte à realidade fora do útero. A fase é a explicação, para muitos médicos, da ocorrência do choro inconsolável
“O cérebro infantil nasce pronto apenas para realizar atividades primitivas, que não são controladas conscientemente, como respirar e digerir. A maioria das habilidades é desenvolvida após o nascimento”, explica Monica Picchi, neonatologista e pediatra no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Para Teresa Uras, coordenadora do Centro de Medicina Fetal e Perinatal do Hospital Samaritano de São Paulo, e Waldemir Rezende, obstetra da mesma instituição, embora o feto se encontre em condições adequadas para a vida fora do útero, a maturidade dos sistemas nervoso central, auditivo, digestório, imunológico e da visão só ocorrem na vida extrauterina, em decorrência de estímulos que somente acontecem no meio ambiente, principalmente no primeiro ano de vida.
Atualmente, a teoria de Montagu tem força por conta de sua divulgação –com algumas modificações– feitas pelo pediatra norte-americano Harvey Karp. Ele é famoso por desenvolver um método para acalmar as crianças durante seus três primeiros meses de vida com base nas ideias do antropólogo inglês.
“O objetivo é proporcionar sensações conhecidas e vividas pelos bebês quando estavam na barriga da mãe, para que eles se acalmem”, diz a neonatologista Monica.
Aconchego
Para os especialistas que defendem a existência do “quarto trimestre”, é importante compreender que os bebês sentem muita necessidade do contato físico com a mãe –e realmente precisam tê-lo.
A neonatologista e pediatra Monica Picchi explica que eles querem se sentir aconchegados e protegidos, como acontecia antes do parto. Chorar, nessa fase inicial da vida, não significa manha ou rebeldia contra algo.
Segundo a médica, a criança apenas se sente muito insegura e angustiada por não estar mais na posição fetal, bastante encolhida, coberta por uma dupla camada de um “cobertor” macio e maleável –o útero materno–, o tempo todo ouvindo sons do organismo da mãe e balançado de um lado para outro.
“Como não somos cangurus e não podemos colocar o bebê de volta no útero, dá para entender o porquê de, ao reproduzirmos algo parecido com a vida intrauterina, acalmarmos o pequeno”, fala a neonatologista.
Lígia Kleim, pediatra da Clínica Alameda da Serra, em Belo Horizonte, ainda sugere muito contato pele a pele. “O tempo da amamentação é perfeito para isso. Além disso, abraçar, beijar e fazer carinho no bebê são atitudes de extrema importância.”
No caso das cólicas, a pediatra diz que elas são comuns, pois a flora intestinal ainda está em formação. Teresa e Rezende ainda explicam que é preciso considerar que existe um tempo para à adaptação da pega do mamilo pelo bebê para sucção ideal do leite materno, sem deglutir ar. Quando a criança começa a mamar corretamente, para de acumular gases, que provocam as cólicas.
TÉCNICA DE CINCO PASSOS ACALMA RECÉM-NASCIDOS (clique para assistir).
Dicas para lidar com o “quarto trimestre”