Essa pandemia na verdade colocou muita coisa no lugar certo, colocou a família no centro e nos fez ver de novo a fragilidade da vida, a necessidade que as pessoas têm em estar juntas e se ajudando.
Roberta Manreza Publicado em 06/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h34
Por Erica Mantovani*, psicopedagoga
A pandemia começou em março de 2020 e nunca imaginamos que duraria o tempo que está durando. Em nenhum registro se tem relato de tanto tempo de crianças afastadas da escola, dos amigos, familiares e isoladas de suas atividades diárias.
Entramos em outubro e só agora que começamos a ter uma abertura, ainda que pequena e nos perguntamos quais as consequências emocionais de tanto tempo de afastamento social, como está a saúde mental de nossos jovens e de suas famílias. E com receio de um vírus ainda desconhecido, percebemos que muitos apresentam pânico ao imaginar o retorno ao convívio escolar.
É sempre bom lembrar que toda situação vivida nos traz ganhos e perdas e não foi diferente com essa experiência que ainda estamos vivendo. Na contramão de tudo que já passamos na vida, nos trouxe momentos de muita angústia e também experiências prazerosas.
Muitas vezes temos a tendência de achar que uma situação como essa só nos traz sofrimento e experiências ruins, pois ela é envolvida pelo sentimento real do medo. Afinal é uma doença grave e muito contagiosa, que sem sombra de dúvida foi uma parada brusca em um planeta dinâmico que por décadas estava em um crescimento aceleradíssimo e absolutamente globalizado. Abruptamente perdemos a liberdade de ir e vir e isso nos abalou emocionalmente.
Qual é então o lado positivo de tudo isso?
É entendermos que talvez esse crescimento acelerado, essa falta de parada, nos fez esquecer de coisas muito importantes do nosso dia a dia. O isolamento social imposto pela pandemia, nos fez repensar sobre nossos valores e necessidades e, assim, pensar na saúde mental de nosso planeta. Nos colocou uma lente de aumento em questões que só estavam debaixo do tapete nesse mundo frenético que parou frente ao inesperado e teve de repensar suas condutas.
Então, vamos pensar no que ganhamos com isso em relação às nossas novas gerações e como vamos ajudá-los em suas questões emocionais.
Ganhamos tempo para ouvir, olhar, observar e brincar.
Pudemos conhecer mais nossos filhos, participar da vida escolar deles, entender a importância do professor, ver a grande parceira que é a escola, entender que nosso filho é uma pessoa e o aluno que ele se mostra pode ser outro. Que o filho corajoso, pode ser um aluno tímido; que o filho bagunceiro, pode ser um amigo líder, organizado e muito proativo. Que a vida é cheia de possiblidades e que como família posso contar com uma rede de pessoas na educação desta criança. Que as relações são humanas e que se o filho entende isso, aprende a respeitar seus amigos e entende que na hierarquia da vida tem que admirar e respeitar seu professor, seus avós e as pessoas mais velhas.
Essa pandemia na verdade colocou muita coisa no lugar certo, colocou a família no centro e nos fez ver de novo a fragilidade da vida, a necessidade que as pessoas têm em estar juntas e se ajudando.
E com esse espírito que temos de voltar a convivência cuidando uns dos outros, usando máscara, lavando as mãos, não se aglomerando, mas lembrando que está na hora de se encontrar, que o ser humano é social. Que as crianças precisam correr, gastar energia, com cuidado voltar a ir à escola e falar sobre os medos.
Precisamos agora fazer uma rede segura de convivência. Voltar a vida está se tornando emocionalmente tão importante quanto se cuidar da Covid. As consequências do Isolamento social, são tão graves quanto a consequência da doença, vamos pensar sobre isso.
* Érica Mantovani, psicopedagoga e coordenadora pedagógica do Colégio Mater Dei