Roberta Manreza Publicado em 01/09/2016, às 00h00 - Atualizado às 07h31
Por Roberta Manreza,
Entre os meus vários grupos de WhastApp, um bem ou um mal necessário hoje em dia, tenho um dos meus amigos da escola. Sim, amigos de muitos anos atrás, não preciso dizer quantos, né? São pessoas que estudaram comigo durante 11 anos no colégio, quase 150 integrantes mandando mensagens e pensando de forma diferente.
Tudo isso para contar que, recentemente, eu dei os parabéns para uma amiga do grupo e no final do dia dezenas de outras pessoas fizeram o mesmo. Conclusão: dois participantes saíram, acho que se sentiram incomodados com o agito, a movimentação. Bom, isso me fez pensar. Nesse mesmo grupo já tivemos discussões sobre alguns assuntos que deveriam ficar de fora para não criarmos desentendimentos entre as pessoas. Política, por exemplo, foi umas das questões levantadas e respeitadas. E aí, depois de tanto vai e vem de mensagens, dar os parabéns no dia do aniversário virou um problema. O administrador, que teve sucesso em juntar tanta gente tanto tempo depois, ficou apreensivo, não queria perder mais adeptos. E sugeriu não cumprimentarmos o pessoal pelo grupo e sim pelo Facebook, já que seriam inúmeros aniversários para comemorarmos através do WhastApp.
Eu também mandei uma mensagem para essa amiga, a aniversariante, através do Facebook, mas senti que ali, no nosso grupo específico, seria uma atitude mais intimista, mais carinhosa, justamente por estarmos entre o nosso grupo restrito de amigos da escola. Aliás, adoro quando fazem isso porque desta forma não esqueço nenhum aniversário. Sim, o Facebook avisa também aos esquecidinhos, mas acesso mais o WhatsApp. E outra coisa, lógico, as diversas mensagens atrapalham, sim! Mas, na minha opinião, basta colocar o grupo específico na opção mudo e lê quem quiser. Não sou dona da verdade e justamente por isso, sei que as pessoas podem ver de outra maneira e não concordar.
Refletindo sobre esse fato, resolvi entrevistar outra amiga, que eu tenho certeza, tem muitos, muitos grupos. É que eu fiquei curiosa. Esses grupos são uma nova ferramenta para a nossa geração e todos nós estamos aprendendo a lidar. Sim, muitas regras de etiqueta, de uma convivência saudável e respeitosa, são as mesmas no mundo real e no virtual. Mas tem muita coisa inédita para a gente. E vamos errar e aprender juntos.
A maioria dos pais administra a vida dos filhos hoje através do celular. Além de todos os nossos compromissos diários, organizamos as agendas e as correrias do dia a dia das crianças e dos adolescentes pelas mensagens. Eu tenho vários grupos do trabalho; de diferentes áreas, outros tantos grupos das amigas; de cada fase da vida e até de uma vida toda, grupos da família e da Juliana então, é grupo que não acaba mais. A Juliana é filha única e já está com 13 anos, mas acumulo também os grupos dela do colégio, do teatro, do basquete e por aí vai. Isso tudo sem contar os grupos temporários, aqueles que são criados para determinadas festas, jantares, viagens e eventos.
A empresária Ana Leite, 46 anos, é a pessoa mais ativa nos grupos que eu participo. Ela não se contenta em responder todas as mensagens que recebe. Ana tenta resolver todos os problemas. Sempre vem com uma solução para tudo. E olha que ela ainda soma diversos trabalhos. Isso mesmo, ela não está à frente de uma ou duas empresas apenas, ela dá expediente em várias outras instituições, entidades e mais sei lá o que. A Ana se envolve em tudo e mais um pouco. Tem três filhos e uma família grande. Como ela dá conta? Como jornalista fui perguntar e descobrir o que ela acha dessa nova tecnologia na vida das famílias brasileiras.
Para terminar: fui incluída há poucas semanas no grupo das amigas da minha mãe. Brincamos que as filhas invadiram o grupo delas. Dizem que o WhatsApp cria uma falsa intimidade. Bom, se é falsa ou não eu já me sinto mais próxima das amigas da minha mãe e vejo coisas boas nessa nova forma de se relacionar. E olha que elas gostam de mandar bastante mensagens. Se falta tempo para acompanhar todas as conversas, não me sinto obrigada e nem cobrada a participar de todos os bate-papos. Amizade é assim: liberdade, compreensão, respeito e carinho. E os parabéns para a minha amiga Cacá? No ano que vem vou ligar para ela, como fazia antigamente, vai ser muito mais gostoso falar ao telefone, saber as novidades e quem sabe, se der, marcar um encontro na vida real. E se não der tudo bem também. O mundo virtual, no meu ponto de vista, também aproximas as pessoas.
Entrevista
Nomes dos filhos e idades?
Gabriela, 15 anos e os gêmeos Helena e Ricardo, de 13.
Quantos grupos de WhatsApp você participa?
Participo de inúmeros grupos de Whatsapp e também do Telegram, aplicativo de uso semelhante, que existe há bastante tempo, mas se popularizou nas vezes em que o Whatsapp foi bloqueado por decisão judicial.
São muitos integrantes no grupo da família?
Meus pais são separados, portanto, tenho o grupo da família do meu marido, da minha mãe, do meu pai, dos tios e primos. São cerca de 20/30 pessoas em cada um deles e todos eles, bastante ativos!!
Como você vê esses grupos?
Os grupos de família são pura diversão e acho que só agregam na minha vida. Se os grupos não existissem, não saberíamos do que acontece na vida dos que, ainda que parentes, não têm um dia a dia tão próximo! Tenho uma cunhada que mora fora do Brasil e que vem para São Paulo apenas uma vez por ano! Certamente o whatsapp aproximou ela e as meninas do resto da família, pois ao invés de termos notícias apenas quando falávamos ao telefone ou quando ela estava por aqui, conseguimos acompanhar o dia a dia delas sempre que elas têm vontade de compartilhar algo. Vimos os dentinhos caírem, soubemos quando mudaram de escola, vimos as apresentações de balé e de música, soubemos quando estavam doentes ou foram para o hospital e pudemos mandar boas energias e mensagens de carinho, mesmo morando tão longe! A distância fica menor, definitivamente.
Mesmo para os que moram por aqui, o Whatsapp tem essa característica. Tenho primas com as quais convivo pouco pelo meu lado paterno. Assim como tios do lado materno que viria apenas em reuniões de família esporádicas. Hoje, com os grupos, conseguimos saber quando viajam, em quem votam, o que estão comemorando, quando precisam de ajuda, podemos dividir mensagens ou piadas e, logicamente, estar presente nos aniversários com os recadinhos de parabéns!! Acho que isso não tem preço.
Com os grupos de trabalho e das ONGs e trabalhos voluntários, o Whatsapp e o Telegram são de incrível utilidade!!! Facilitam, encurtam distâncias e poupam tempo! Uma ferramenta difícil de abrir mão hoje!
Como você administra todos esses grupos?
Já tive várias fases!! No começo, quando ainda eram poucos grupos e a utilidade da ferramenta ainda não era tão evidente, lia todos e os respondia no mesmo momento! Hoje, isso mudou bastante! Houve uma fase em que estava tão envolvida com todos que praticamente passava o dia no telefone. Desenvolvi uma LER no punho de tanto digitar, rsrsrs. Mas, depois de um período de detox, depois de as crianças e meu marido me darem um ultimato, revi tudo!
Esses grupos de WhatsApp não te deixam louca?
Já me deixaram muito mais que hoje em dia, apesar de hoje ter muito mais grupos do que no passado. Acho que tudo é uma questão de disciplina! Agora que estou respondendo a essas perguntas, não olho para o celular. Só quando terminar. Dessa forma, sem ser interrompida, consigo terminar, focar e executar a tarefa a qual estou dedicada. Lógico que se o que estou fazendo não exige foco nem atenção, ele fica, sim, bem pertinho e vou acompanhando o que está acontecendo… Depende do dia, do momento e do grau de demanda da tarefa.
Você faz questão de ler tudo e participar de tudo? (Na minha opinião, você é a pessoa mais participativa de todos os meus grupos. Apesar de tantas funções, você sempre faz questão de ajudar todo mundo, mesmo que isso tome mais do seu tempo)
Pode não parecer, mas sou bem seletiva! Por exemplo, ontem teve um evento da ONG em que sou diretora. Logicamente, minha atenção redobra nos grupos da ONG.
Isso não significa que nem os vejo, mas que reservo a hora do almoço ou o fim do dia, antes do jantar, para dar uma passada em todos e responder o que for preciso. Durante o dia, a atenção fica voltada para o que está acontecendo naquele momento.
A ajuda é pontual e fácil de fazer. Passar uma foto, uma informação ou algum contato é rápido e custa muito pouco do meu tempo, então, acabo fazendo mesmo, mas tudo o que demanda mais tempo vai para a minha lista de pendências no próprio celular. No fim do dia, tento resolver o que é possível antes de sair do escritório ou anoto para depois. Na maioria das vezes, a demanda é rápida, dá pra resolver no momento da solicitação!
Você coloca todos ou alguns grupos no modo silencioso?
TODOS os meus grupos e o telefone celular ficam SEMPRE no modo silencioso. Sou uma pessoa agitada, sim, mas sou zero ansiosa!! Quando estou ocupada com trabalho, na hora das refeições com outras pessoas à mesa ou quando estou dirigindo, não atendo e não respondo mensagem de ninguém. O telefone fica ao meu lado, mas nem olho e, como não apita e não toca, olho quando posso. É uma postura mais ativa que passiva, o que me permite comandar o sistema de mensagens, em vez de ser comandada por ele. Isso me liberta totalmente!!
Já mandou mensagem para o grupo errado?
Já!!!! Mas, quem nunca, né? Ainda mais sendo uma usuária tão intensa, muitas vezes, estou digitando uma resposta num grupo e outra mensagem entra no mesmo momento. Se der um enviar, pronto, seguiu pro destinatário errado! Vejo que acontece com todo mundo, vira e mexe a gente recebe algo que não tem nada a ver com o tema do grupo e, logo em seguida, a pessoa aparece dizendo ‘ grupo errado, desculpem’! Mas, já teve episódios de vergonha absoluta, quando falei de dinheiro em grupo de trabalho com quem tinha enorme cerimônia ou quando, por conta do auto-corretor, sai um palavrão horrível no grupo de tios!!! Até acontece o pedido de desculpas ou alguma retratação, mas, o estrago já está feito!!! Só resta triplicar a atenção e ir mais devagar na resposta. Tem vezes que eu fico na dúvida de qual grupo estou e a resposta está toda digitada já. Não tenho dúvidas: copio tudo, saio e checo se estou no lugar certo! Daí, volto e colo o texto copiado para enviar… Já me salvou de outros foras – rsrsrs.
Você acredita que esse tipo de tecnologia aproxima as pessoas ou acaba afastando, já que muitas conversas são virtuais?
Sinceramente, acho que aproxima muito! Não deixei de ver minhas amigas da escola por causa das conversas do Whatsapp. Também as festas de família ou as reuniões presenciais de trabalho não terminaram. Acho até que ficou muito mais fácil agendar encontros com a facilidade de comunicação do Whatsapp!
Acha que os grupos, os da escola principalmente, funcionam como uma rede de apoio?
Certamente são um grupo de apoio. Nos grupos que frequento já debatemos de posição política dos professores da escola a empréstimo de livro. De conversas sobre educação sexual a namoricos das crianças, de hora e forma certa para falar sobre qualquer assunto a carona para festas. Antigamente, crianças e jovens argumentavam com o velho “Por que eu não posso? Todo mundo vai!” ou “Todo mundo pode”. Hoje, é fácil checar se o todo mundo é todo mundo mesmo ou não! Uma super rede de conexões que só agrega.
Na sua opinião, a maioria das pessoas sabe usar essa ferramenta de forma positiva ou ainda tem muita gente que passa dos limites?
Pois é, já vi muita briga em grupo de Whatsapp. Os de política são os piores, por razões óbvias. Mas, de uma maneira geral, acho que as pessoas aprendem a se comportar. Para mim, vale o bom senso. O mesmo que se tem offline tem de valer para os grupos de Whatsapp. Nao citar nomes, não fazer fofocas, não provocar, não responder às provocações, não discutir temas polêmicos onde haja diversidade de perfis. Se em um grupo sabe-se que todos são de uma mesma corrente idologica, ok falar do assunto. Do contrário, não se deve publicar posts tendenciosos de forma nenhuma. Em grupo de trabalho, falar de política, por exemplo, é proibido.
Seus filhos e o seu marido têm muitos grupos também? O que você acha quando são eles que não largam o celular para dar conta de todas as mensagens?
Tenho infinitamente mais grupos que eles. E eles cobram muuuuito mais de mim do que eu deles. Hoje, aprendi que o melhor a fazer é pegar o fone e sair de perto. Resolver tudo o que é preciso e depois voltar para perto de todo mundo! Assim, eles não se incomodam e consigo responder a tudo… Com as crianças, não admito que usem nas refeições. De resto, vamos regulando conforme a situação. Quando o papo do jantar está bom, por exemplo, eles até esquecem do celular. Em dias mais burocráticos ou quando está acontecendo algum papo chato (tipo notas rsrsrs), o apelo dos grupos é quase absoluto!
Ano passado fiz uma resolução de ano novo: deixar o telefone carregar no banheiro para não ter a tentação de ficar olhando a toda hora. Durou uma semana a resolução e já abandonei o combinado que tinha feito comigo mesma. Sou dependente dos grupos mesmo e o que eu tenho tentado é me disciplinar com os horários e os assuntos mais do que me livrar deste hábito. Daí, eu controlo mais do que sou controlada. Tem dado mais certo do que o corte radical.
O pior, com os filhos adolescentes, é quando as mensagens começam a pipocar antes das sete horas da manhã, horário que todos os estudantes já estão acordados saindo para a escola, não é? Ainda bem que existe o modo silencioso!!!
Eu sempre acordo no mesmo horário, portanto, essa questão até não existe para mim. E eles trocam mesmo mil mensagens de manhã. Do tempo que vai fazer à nota da prova… da fofoquinha ao programa do fim de semana. Tudo tem de ser pra ontem, não podem esperar um horário mais normal… passam o trajeto todo de casa pra escola digitando….