Jovens se cortando: Estamos negligenciando nossas crianças

Alguém tem que se preocupar com as crianças. Teremos uma geração de adultos doentes (do corpo e da mente) e ninguém está enxergando. Se quisermos um futuro temos que nos preocupar com o presente!

Roberta Manreza Publicado em 26/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 15h37

-
26 de novembro de 2020


Pediatras se posicionam a respeito da ausência de escolas



Comecei o dia ontem com uma mensagem assustadora. Uma amiga me mandou uma foto do enteado adolescente com cortes no braço, me dizendo que havia sido internado para avaliação psiquiátrica. Eu havia preparado um texto sobre outro tema para ser publicado hoje, mas como deixar passar um assunto tão importante?

Estamos negligenciando nossas crianças e adolescentes! Passei o final de semana vendo nas redes sociais adultos curtindo casamentos, shows, happy hours, viagens. E as crianças? Onde estão nisso tudo? Assistem incólumes às noticias de uma possível segunda onda sendo que nem viram o fim da primeira. Impedidos de conviver com amigos, forçados ao universo virtual e às cansativas horas atrás de telas, tiveram sua rotina totalmente alterada.

Essa semana alguns pediatras resolveram se posicionar a respeito da ausência de escolas. Fizeram um texto com referências cientificas sobre o assunto. Viralizou. Vai virar petição ao ministério público, já com assinatura de  cerca de 1500 médicos até o momento. Os pontos citados são importantes. Dados epidemiológicos mostram que crianças infectam menos outras crianças ou adultos. No Brasil, casos detectados em escolas foram na sua maioria por contaminação em ambiente domiciliar. Assintomáticas na maioria das vezes, as crianças não são super espalhadoras da doença.  Crianças se infectam menos que os adultos, com baixo risco de complicações pela doença.

Obesidade, transtornos de ansiedade e danos do uso prolongado de telas são muito mais prejudiciais do que a Covid para esses jovens. Vacinas para crianças não são uma realidade próxima pois estudos estão sendo feitos prioritariamente em adolescentes (faixas etárias menores não são o grupo de risco e portanto não são prioridade para as vacinas!). Uma das pediatras autoras do texto, Florência Fuks, diz que a intenção inicial do manifesto foi de que fosse compartilhado com as referências como uma evidência científica. Muito se fala sobre as crianças na cadeia de transmissão mas são esses trabalhos que mostram o que realmente aconteceu no Brasil e no mundo com o retorno das aulas. Será que estamos nos baseando na ciência nesse assunto? Parece que não…

Alguém tem que se preocupar com as crianças. Teremos uma geração de adultos doentes (do corpo e da mente) e ninguém está enxergando. Se quisermos um futuro temos que nos preocupar com o presente!

Sigo lembrando da foto que recebi ontem de manhã. O braço machucado, a alma dilacerada. 2021 está chegando! Vamos continuar fingindo que não vemos? Não seria possível retomar a rotina das crianças, com protocolos de segurança assim como foi feito para as outras atividades?

Por Ana Laura Kawasaka, mãe, pediatra do Saúde4kids e cardiologista infantil

Saúde4kids

O amor à medicina uniu as médicas: Fernanda, Rafaella e Ana. Além da vocação em servir aos pequenos, elas tinham outra certeza: precisavam ajudar as mamães. Perceberam que muitas estavam perdidas nesse caminho cheio de novidades e incertezas que é a maternidade e, na busca por informações, as mamães se perdiam ainda mais.




crianças com depressãocrianças e a COVID-19Crianças sem aulajovens com depressãojovens e a COVID-19Jovens sem aulas