Tem pessoas que chamam as mães de mãezinha, mas será que a mulher quer ser chamada assim? A psicanalista Eva Wongtschowski nos traz uma reflexão sobre o tema
Eva Wongtschowski* Publicado em 21/05/2021, às 09h00
Por que se tornou prática corrente nomear as mulheres, mães de bebês, de mãezinha? Nas instituições de atendimento a gestantes e mães com recém-nascidos, o profissional que recebe este público sempre tem em mãos, necessariamente, o nome completo da mãe e da criança.
Não podemos localizar, em nenhum outro âmbito, o costume de chamar um cliente, um aluno, um cozinheiro, um funcionário de clientinho, aluninho, cozinheirinho ou funcionarinho. Por que então mãezinha?
A troca do nome da pessoa com quem falamos por sua função é frequente: guarda, motorista, padre, doutor. Quando nos dirigimos a uma pessoa, usando sua identidade funcional, não há estranheza nem entre os que chamam, nem entre os que são assim chamados. Mas se não usamos a expressão motoristinha, o que nos dá a liberdade de chamar nossa cliente de mãezinha? Temos a mesma liberdade quando se trata dos pais? Bom dia, “paizinho”?
O uso do substantivo mãe e mais que isso, no diminutivo, chama por uma mulher doce, desarmada, inofensiva. "Inha" talvez seja uma vontade de transformar a mãe em pequena, retirar dela qualquer vestígio dela ter um tamanho grande ou qualquer agressividade.
Mãe, e não o nome de uma mulher, busca a garantia de que não fuja da sua função. Onde há um bebê deve haver uma mãe. Penoso para quem teve que crescer sem mãe ou pessoa substituta que fizesse sua vez.
A mulher que acabou de ter um bebê continua mantendo sua identidade anterior e chamá-la de mãezinha desconsidera isso. Soma-se à sua identidade anterior uma nova função, a de mãe. Ela tem uma história, viveu uma relação mais ou menos amorosa, passou pelo processo de gestação e parto, e tem agora uma criança para cuidar e criar, função que se soma as já exercidas anteriormente.
*Eva Wongtschowski é psicanalista
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