Uma pesquisa realizada pela AVG, empresa especializada em segurança online, revelou alguns dados importantes – e preocupantes – sobre como a tecnologia está afetando o relacionamento entre filhos e pais. O estudo foi feito em escala global e, segundo diretor de Marketing da AVG Brasil, Mariano Sumrell, nosso país apresenta números maiores que os demais: “O brasileiro é mais conectado com a internet do que o resto do mundo. Usamos mais o Facebook, filhos e pais usam demais o computador”, explica. Para se ter uma ideia, no Brasil, 71% dos pais acreditam checar demais seu smartphone e 87% dos filhos concordam que eles, de fato, exageram na quantidade de vezes que olham os aparelhos. Enquanto isso, a média global dos pais que acreditam checar demais o celular é de 54%.
Dentre os piores hábitos reportados pela pesquisa no Brasil estão: distração enquanto conversam com os filhos (65% dos pais o fazem, 50% das crianças concordam e 74% delas têm o mesmo comportamento); usar celular durante o jantar (48% dos pais o fazem, 28% das crianças concordam e 49% fazem o mesmo), usar o smartphone enquanto brincam com os filhos (29% dos pais fazem isso, 33% das crianças concordam e 59% também o fazem).
Tecnologia na dose certa
Segundo a pesquisa, 29% dos pais assumem não dar um bom exemplo aos filhos em relação ao uso de dispositivos móveis e 24% das crianças concordam. Para a psicopedagoga Elizabete Duarte, do colégio Nossa Senhora do Morumbi, a missão dos pais não é apenas impor algumas regras sobre o uso de gadgets, mas também incentivar a convivência com as pessoas: “A tecnologia está aí: nossas vidas são organizadas por esses aparelhos, por isso eles precisam fazer parte do cotidiano da criança, assim como de todos nós. Mas cabe aos pais mostrar e incentivar o outro lado: o da conversa, de olhar no olho, da presença”, explica.
Outro dado surpreendente do estudo é que 40% dos pais e 47% das crianças mandam mensagens de texto para pessoas que estão na mesma casa. Pode parecer clichê, mas é esse o grande paradoxo da tecnologia: ela consegue aproximar aqueles que estão fisicamente distantes e acaba afastando quem está mais próximo. “Percebe-se um distanciamento entre as pessoas: o uso da tecnologia torna o contato de criança com os pais e com os amigos mais restrito. Por isso, algumas regras para o uso dos aparelhos são necessárias, tanto dentro de casa quanto no relacionamento com os amigos”, explica Elizabete.
Um bom começo para tornar o relacionamento com esses aparelhos mais saudável é avaliar se a criança realmente precisa ter um para chamar de seu. A psicopedagoga, que já observou crianças de 2 e 3 anos com seus próprios tablets, orienta: “Os pais devem pensar em qual é a porcentagem do aparelho que a criança pode aproveitar. Se o seu filho vai usar apenas um joguinho do smartphone, então ele ainda não está pronto para ter um aparelho desses”. Vale lembrar que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que esses dispositivos só sejam utilizados por crianças maiores de 2 anos.
Outra dica é estabelecer algumas horas do dia para ficar 100% livre das telas, como durante as refeições e na hora de brincar – e isso vale para adultos e crianças! É claro que se desvencilhar desses aparelhos, pelo menos por algumas horas, de fato não é uma tarefa fácil. Enquanto para as crianças o lazer está associado ao uso de tecnologia, para grande parte dos adultos, a internet é uma ferramenta de trabalho e, por esse motivo, há necessidade de checar e-mails e mensagens frequentemente. Nesse caso, a dica não é fazer um jejum virtual, mas tentar reduzir a frequência. Em vez de ficar com o celular na mão ao chegar em casa do trabalho, estabeleça alguns momentos para checá-lo: depois do jantar e antes de dormir, por exemplo. Aos fins de semana, dê uma olhada pela manhã e outra à noite se o trabalho permitir.
Algumas vezes, o uso exagerado da tecnologia acaba prejudicando não só os relacionamentos sociais e afetivos como também a saúde e até a segurança da família. Um dos dados mais perturbadores registrados no estudo é que 59% dos pais usam seu smartphone enquanto dirigem – e 32% das crianças concordam que eles fazem isso. De acordo com uma pesquisa realizada pelo NHTSA, o departamento de Trânsito dos Estados Unidos, o uso de celulares na direção aumenta cerca de 400% o risco de acidentes. Já imaginou colocar sua vida em risco só para responder uma mensagem pelo Whatsapp?
Mariano lembra também dos riscos envolvidos quando os filhos têm um acesso precoce à internet: “Crianças pequenas não deveriam acessar a internet desassistidas porque podem encontrar conteúdo impróprio, ser assediadas, sofrer bullying”. Para os maiores, uma conversa sobre os perigos na web é muito válida: eles devem ter a noção clara de que todo mundo pode se passar por outra pessoa no mundo virtual.
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