13 de novembro de 2012
Mãe suficiente ou mãe ideal?
Por Michele Mesnik*
Sempre soube que seria mãe. Mas, o que eu não sabia era que “ser mãe” começaria antes de o bebê nascer, fazendo-me refletir e questionar minhas escolhas, especialmente as de carreira.
Trabalhei em período integral enquanto estava grávida do meu primeiro filho. E, nos Estados Unidos, onde morava e trabalhava, eu estava distante da família e não contava com a rede de apoio e ajuda que normalmente se tem no Brasil.
Pensei durante meses sobre as vantagens e desvantagens de continuar trabalhando, projetando como eu me sentiria ficando “somente” em casa: se cuidar exclusivamente dos filhos me deixaria completa; como seria não ter mais independência financeira e desafio intelectual; o impacto financeiro dessa decisão; o que meu marido acharia de mim, pois me conheceu como executiva embarcando para fazer o MBA. Agora eu questionava meus valores e tinha medo de ele não me reconhecer. Na verdade, eu tinha medo de não me reconhecer.
Assim, durante a gravidez do meu segundo filho, resolvi propor para minha chefe trabalhar em regime de meio período até o bebê nascer. A empresa em que eu trabalhava não oferecia essa opção, mas eu resolvi tentar. Apresentei-lhe as vantagens dessa proposta, explicando como comandaria meu time, como ela poderia contar comigo remotamente, se precisasse, que a qualidade do trabalho não mudaria e que, se ela não gostasse desta experiência, poderia voltar ao modelo antigo ou terminar o meu contrato. E….. ela aceitou!
Considero o tempo em que trabalhei parte em casa e parte no escritório como uma fase muito rica e produtiva. Sentia-me leve e sem culpa por não estar “em outro lugar”.
Após o nascimento do meu segundo filho resolvi demitir-me e cuidar exclusivamente das crianças, estando presente em momentos fundamentais, curtindo cada filho e sua individualidade e tendo muito, muito trabalho em casa: não era “trabalho em período integral”, era trabalho 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem remuneração (financeira) ou dias de descanso.
Mudamos para o Brasil e acabei encontrando o “coaching”, que me permite conciliar carreira e maternidade. Ao longo dos encontros apaixonei-me pela profissão. Hoje tenho um trabalho que me permite ser uma mãe suficiente e feliz: para ser a melhor mãe do mundo – aquela que eu achava que deveria ser –, seria uma pessoa incompleta, pois adoro trabalhar e ao fazê-lo, sou uma melhor mãe, esposa, filha, amiga.
Aprendi que o que vale não é a quantidade de tempo que passamos com os filhos e sim quão presente estamos em cada um dos momentos. Ou seja,
qualidade é sim melhor do que quantidade. Aprendi também que
as crianças sabem respeitar as nossas escolhas quando somos honestas com elas e principalmente conosco.E digo com orgulho: sou uma mãe suficientemente boa. Ouvi do pediatra que
quando as crianças tem muito amor, limites e suas necessidades básicas supridas, não aproveitam aquele esforço a mais que fazemos, pois já estão satisfeitas.Isso mexeu muito comigo. Assim, abandonei a ideia de ser a mãe ideal ou a melhor mãe do mundo para ser a mãe que eu posso ser. E você: que mãe você escolhe ser?
* Michele Mesnik [mimesnik@gmail.com] é coach de mães. Participou como especialista convidada do Papo de Mãe sobre MALABARISMOS DE MÃE, exibido em 11.11.12. Blog: http://michelemesnik.com.br.