Mariana Kotscho Publicado em 04/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h04
Sempre me preocupei com a imagem das garotas nas publicidades, no cinema, na tv e nas revistas. Em algum momento li que era injusto porque antigamente as mulheres se esforçavam para se parecer com modelos lindas, magras e perfeitas, porém reais. Com a chegada do photoshop a luta se tornou impossível. Agora elas precisavam se esforçar para se parecer com as imagens criadas em computadores, figuras fictícias, carregadas de efeitos e luzes.
Quando adotei meus filhos, uma menina e dois meninos, comecei o trabalho pesado. Sempre que víamos uma capa de revista, ou alguma mulher linda na TV eu repetia que aquela imagem não era real, que beleza não importava, e que o valor da minha filha estava em seu interior. Parece livro de autoajuda, mas sim, acredito de verdade nisso.
Hoje minha filha tem dezessete anos. E diferentemente dos meninos, apesar de todo meu trabalho, se olha no espelho quinhentas vezes por dia, está o tempo todo nos perguntando se é bonita, inventa uma dieta a cada semana, se acha gorda, se vê feia. E com esse comportamento, a triste realidade: na disputa entre a pressão dos meios e minha educação, eu perdi. Ela perdeu. Perdemos todos.
Um dia, no instagram, vi um material que me chamou a atenção. Uma influencer jovem contava que, no mundo todo, o mercado de beleza e estética movimenta trilhões de dólares por ano. Me impressionou a cifra. Pesquisei um pouco mais e descobri que só no Brasil são mais de 100 bilhões de reais de faturamento todos os anos. E então tudo ganhou sentido.
Essa insistência em fazer nossas meninas se sentirem feias tem um único objetivo, continuar movimentando essa indústria. Ora, se sou feia e gorda preciso de dietas, de cosméticos, de tratamentos, de intervenções. Custe o que custar.
E isso não acontece com os meninos. É praticamente exclusivo com as meninas e é perverso. Porque são elas que acabam sendo anoréxicas, bulímicas, inseguras, são elas que acabam com a auto estima destruída facilitando a chegada de namorados violentos, de homens que as maltratam. São elas que têm a pressão de estar sempre lindas, depiladas, perfumadas, sem celulites…
Essa loucura começa na infância. Ligue a tv, abra um livro, veja quem são as protagonistas da vida de mentira. Mulheres magras, loiras, perfeitas, princesas, Barbies, essa pressão estética aparece até mesmo nos brinquedos que compramos para nossas crianças.
A Avon, uma empresa que também fatura com a insatisfação feminina, fez um documentário há algum tempo falando que precisamos repensar o elogio, porque meninos sempre escutam que são inteligentes, corajosos, e fortes, e meninas só escutam que são lindas, princesas e educadas. A criança escuta isso desde pequena, dos pais, dos avós, dos professores, e depois nas capas de revista confirma que para ser aceita e amada precisa cumprir certos padrões, senão ela será descartada.
Estamos destruindo a autoestima de nossas meninas com o único intuito de sustentar um mercado mais que lucrativo. Precisamos fazer algo enquanto há tempo. Mas será que ainda há tempo?
*Por Vinicius Campos, escritor e pai de 3