Microcefalia e vacinas, uma falsa associação

Roberta Manreza Publicado em 29/03/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h24

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29 de março de 2016


Academia Brasileira de Pediatria

A internet e as redes sociais criaram muitos benefícios, mas há alguns aspectos negativos, como a circulação de notícias falsas e opiniões fantasiosas. Quando se trata de vacinas, isso pode gerar dúvidas, ansiedade, e até mesmo fazer com que muitas pessoas deixem de vacinar seus filhos e de se vacinar.

Não há ação médica com melhores benefícios do que as vacinações. Graças a elas, estamos livres da varíola, estamos prestes a erradicar a poliomielite do mundo, a rubéola (que pode causar lesão fetal) foi eliminada das Américas, e doenças como difteria, tétano, sarampo, meningites por hemófilo, entre várias outras, tornaram-se raras.

Com a diminuição dessas doenças, muitos pais perderam o medo delas e tendem a relaxar sobre as vacinações. Isso é um erro grave, pois sem as vacinas as doenças voltarão, exceto quando erradicadas em todo o mundo, caso atualmente só aplicável à varíola.

As vacinas podem ser acompanhadas de reações ou eventos adversos, em geral de curta duração e benignos, como dor local e febre, mas a comparação com as doenças mostra que o benefício é imenso. Por outro lado, quando se vacinam milhões de pessoas, outras doenças podem acontecer após as vacinações, pois obviamente vacinas não protegem contra todas as doenças. Associação temporal não é sinônimo de associação causal.

O aumento de microcefalia observado inicialmente no Nordeste do Brasil, e depois em outros estados, deu margem à suposição no público leigo de que as vacinas aplicadas na gestação poderiam causar a microcefalia.

A influenza na gravidez é mais grave, e o aumento nos últimos anos da coqueluche em recém-nascidos e crianças nos primeiros meses de vida, levaram à recomendação de vacinar contra influenza e coqueluche na gestação. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos tem vasta bibliografia e informação sobre a aplicação das vacinas de influenza e coqueluche na gravidez, mostrando a sua importância e segurança. A Organização Mundial de Saúde também recomenda a vacina de influenza na gestação.

A contraindicação à vacina de rubéola na gestação deve-se ao fato de que é vacina viva, e assim, por medida prudencial e risco teórico, aconselha-se não usá-la na gravidez. O Brasil, em virtude de suas campanhas de vacinação em massa, é um dos países que tem mais experiência no assunto, com vários estudos publicados em revistas internacionais indexadas. A aplicação inadvertida das vacinas contendo o componente rubéola, ou de quaisquer outras, em mulheres grávidas, não acarretou consequências nocivas para o feto. À mesma conclusão chegaram a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial de Saúde.

Há várias causas de microcefalia, mas muitas evidências apontam o vírus Zika como o responsável pelo aumento de casos no Brasil. Numa série de 35 casos investigados, todos foram negativos para agentes microbianos que podem causar infecção congênita, inclusive rubéola.

Em resumo, os dados científicos disponíveis não justificam a suspeita de associação entre microcefalia e vacinas e apontam para o vírus Zika como o responsável pelo surto de microcefalia.

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