Nove meses de palpites

Roberta Manreza Publicado em 29/11/2015, às 00h00 - Atualizado em 04/08/2016, às 17h14

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29 de novembro de 2015


Junto com o teste positivo de gravidez, deveria vir o aviso: “Parabéns, você está grávida! Tire suas dúvidas com profissionais habilitados e não dê ouvidos às comadres”

Por Carolina Ambrogini*, ginecologista e sexóloga.

Revista Crescer **

Queridas leitoras grávidas, preparem-se para a enxurrada de comentários sobre a SUA gravidez, que despertará o bichinho do “eu acho que…” até na caixa do supermercado. Vão dizer que sua barriga está pequena ou muito grande e que você deveria repetir o ultrassom para confirmar se não são gêmeos. Vão deixar você em pânico ao falar que sua barriga está baixa antes da hora e que o bebê vai nascer prematuro. Também vão contar tragédias que aconteceram na gravidez de uma conhecida da prima do cunhado. Ou do bebê que nasceu com o “cordão enforcando o pescoço”. Suas “amigas” vão dizer que nunca mais na vida você vai dormir, transar com marido ou ir no shopping. Happy hour, então, nem na próxima encarnação!

Sei que este texto tem um certo tom de exagero, mas estou cansada desses comentários que deixam grávidas ansiosas sem um motivo real. Para nós, médicos que trabalham com dados objetivos, como idade gestacional, exame físico e resultados de testes laboratoriais, é muito desgastante lidar com a opinião da sua sogra. Claro que não podemos prever tudo e que imprevistos podem acontecer, porém, na maioria esmagadora dos casos, a natureza faz tudo muito bem feito e dá tudo certo.

Entendo que a gravidez é um evento familiar, pois um novo integrante está a caminho. Isso gera emoções variadas e sua mãe, que estava doida por um neto, vai querer acompanhar de perto. Mas é importante estabelecer um limite.

Já vi muitas pacientes desistirem de ter parto normal por pressão da familiar, ao escutarem repetidamente que “vai passar da hora”. Nesse momento, entra em jogo o laço de confiança que você e seu companheiro estabeleceram com o médico. Se a relação for boa, é para ele que vocês irão desabafar as angústias e os dilemas.

Essa conversa também é válida depois do nascimento. Antes de ser convencida de que seu “leite está fraco”, vá ao pediatra. Ele irá pesar a criança e descobrirá, realmente, se ela chora de fome ou de cólica. Não compare o desenvolvimento do seu filho com o de outras crianças. Cada um tem o seu tempo e sempre vai existir uma mãe orgulhosa falando dos maravilhosos feitos do seu bebê de 3 meses.

Ser mãe é algo desafiador, mas, ao mesmo tempo, muito instintivo. Na verdade, quem sabe o que é melhor para o seu filho é você mesma. Antes de dar ouvidos às vizinhas, preste atenção na sua conexão com a criança, e então, ela lhe dará as melhores respostas. Dentro ou fora da barriga, essa ligação é a mais pura manifestação da natureza. As leoas vivem em bandos, mas quem protege o filhote é só a mãe dele. Confie nos seus instintos e saiba separá-los do medo. Das opiniões alheias, fique só com os elogios!

*Dra. Carolina Ambrogini é obstetra, sexóloga e mãe de 2 filhos. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo e é colaboradora do Portal Papo de Mãe. 

**Este texto foi originalmente publicado na Revista Crescer e autorizado pela autora para reprodução.

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