Nutrição materna e infantil

Roberta Manreza Publicado em 25/09/2016, às 00h00 - Atualizado às 10h39

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25 de setembro de 2016


Por Dr. Miguel Curto*, Nutrólogo da ABRAN – Assoc. Bras. de Nutrologia

Num dos últimos programas as mamães mencionaram suas preocupações sobre o que colocar na “malinha para a maternidade”. Não acho que isso deva ser uma preocupação. O que se coloca nesta “malinha” depende de cada um, das suas expectativas, sonhos e ilusões. De modo geral, a própria maternidade fornece uma lista de materiais sugeridos. A Mala indispensável a se levar para a maternidade é uma mamãe e um feto saudáveis. Para isso é necessário, somente, uma boa alimentação, bons hábitos de higiene e serenidade, o resto é resto.

A base para uma gestação feliz e saudável é o amor, o respeito, o carinho e os cuidados com a higiene e com a alimentação. Estes ingredientes são os mesmos necessários para uma família bem sucedida. Higiene, banho, roupas e casa limpa são essenciais, não importa se um palácio ou um barraco.

Em um dia destes, andando pela vizinhança, encontrei uma família de moradores de rua, filhos limpinhos, cachorro c/ fitinha na orelha e a mãe lavando a calçada com água e sabão, elogiei a senhora dizendo: – “uma boa dona de casa é boa em qualquer circunstância” – emocionei-me com o agradecimento da mulher.

Alimentação variada e saudável é fundamental para o bom êxito da maternidade e do parto. Nada de excepcional, apenas buscar uma alimentação natural, de produtos locais, não há necessidade de sofisticação ou de importados. Deve incluir verduras, legumes, frutas, cereais integrais e proteínas de alto valor biológico. Não necessariamente nesta ordem e nem numa única refeição, mas há que se variar os alimentos no decorrer da semana ou do mês.

As proteínas de alto valor biológico incluem as carnes (de boi, aves, peixe, porco), ovos, leite, laticínios. As verduras devem ser o mais frescas possíveis, cruas ou abafadas. As frutas frescas. Deve-se evitar os alimentos excessivamente processados e que contenham aditivos, conservantes, colorantes e aromatizantes. Uma guloseima depois da missa de domingo é permitida.

Com estes cuidados minimizam-se as carências de nutrientes essenciais, diminui-se a absorção dos inúmeros tóxicos ambientais a que estamos expostos nos dias atuais e, ainda, o organismo funciona e se defende melhor, como uma máquina bem azeitada.

Costumo dizer que um automóvel não anda apenas com o combustível, ele necessita de lubrificação e cuidados para não nos deixar na mão, assim também o nosso corpo precisa de energia (carboidratos e gorduras) e aditivos (os minerais e vitaminas das verduras, frutas e legumes) e pneus em boas condições (exercícios físicos).

Uma gestante bem alimentada (em qualidade e suficiência, não em quantidade – não há necessidade de comer por 2) terá menos intercorrências na gravidez e um bebê saudável. A alimentação equilibrada evita muitas das complicações da prenhez, como o enjoo, a hipertensão, a eclâmpsia entre outras.

É claro que existem situações especiais, nas quais há a necessidade da orientação médica de um nutrólogo. Nestes casos podem ser necessárias suplementações alimentares, vitamínicas e minerais, eventualmente medicamentosa.

Nestes anos de prática nutrológica tenho tido a satisfação de acompanhar mamães e crianças desde antes da concepção. Tenho orientado e acompanhado, nutrologicamente, casais que não conseguiam engravidar, mulheres com hiperemese gravídica (excesso de vômitos na gestação), hipertensão, diabete, pré-eclâmpsia, aliviando e muitas vezes suprimindo estas complicações. É óbvio que com o acompanhamento do obstetra.

Do mesmo modo acompanho os bebês recém-nascidos, alguns destes pacientes, já adultos, acompanho até hoje. A título de ilustração vêm-me à mente alguns casos.

O primeiro de uma criança com atraso neuropsicomotor e muita dificuldade em acompanhar a escola. Com orientação e suplementação nutricional conseguimos fazê-lo aproveitar melhor os recursos que lhe restaram, conseguiu terminar o ensino fundamental, descobriu sua capacidade de desenhar e hoje é desenhista profissional bem ajustado socialmente.

Outro exemplo muito ilustrativo da eficiência de uma suplementação alimentar bem conduzida é o de uma menina deficiente, inicialmente tida como deficiente mental, que não falava (e ainda não fala), mas que com o tratamento nutrológico parou de se mutilar, passou a se comportar melhor e em uma consulta posterior a mãe contou- me ter descoberto que ela sabia ler, aprendeu sozinha, apontando algumas palavras e fazendo sinais.

Hoje esta garota, agora uma mulher, ainda vem ao consultório, sempre com uma revista nas mãos, confia em mim (antes não permitia que a examinasse) e conseguimos nos comunicar, ela me entende e eu, nas minhas limitações, entendo o que ela quer me mostrar.

São amostras mais dramáticas, mas, talvez, os próximos dois casos, mais comuns e recentes, sejam mais ilustrativos. São duas crianças que trato nutrologicamente, uma desde antes da concepção e outra desde uma complicação gestacional com risco de aborto.

No primeiro caso, a mãe já fazia o tratamento ortomolecular desde a infância, quando apresentava otites de repetição. Quando percebeu-se grávida, adequei a prescrição para uma fórmula materna. A criança nasceu muito bem, sem intercorrências, recebeu aleitamento materno exclusivo durante um ano e, então, passei a formular um sachê para uso em sua mamadeira (já que a criança deixou o seio materno – lembro que a mãe recebia suplementação, então seu leite não apresentava as carências típicas das restrições do CEASA = mercado). Hoje, com 2 anos de idade, é uma menina perfeitamente saudável, alegre, inteligente, esperta e tagarela.

O segundo bebê, prematuro de 7 meses, por insuficiência placentária, viveu o primeiro mês em uma UTI, foi desmamado no terceiro mês e apresentou exantema alérgico importante (“urticária” no corpo todo).  Passei a orientar e tratar toda a família nutrologicamente e hoje também é um bebê saudável, forte, com 1 ano de idade, um tourinho bem humorado.

Costumo dizer que, como nutrólogo, sinto-me “mais médico”, percebo no dia a dia a eficácia de uma boa alimentação e da suplementação alimentar, fico gratificado com a melhora dos pacientes, os saudáveis e os enfermos, estes usando menos medicamentos do que usavam antes da abordagem ortomolecular.

*Dr. Miguel Curto – Médico Nutrólogo da ABRAN – Assoc. Bras. de Nutrologia. Autor do livro: Medicina Ortomolecular – Fundamentos e Prática – Editora Atheneu

Assista ao Papo de Mãe sobre o conceito dos “mil dias” com a participação do Dr.Miguel Curto.




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