O Capacitismo e o Abismo Inexistente entre Nós

Roberta Manreza Publicado em 03/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 09h39

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3 de dezembro de 2020


03 de Dezembro – Dia Internacional da Pessoa com Deficiência

Estudante, atriz, cantora, atleta de nado artístico, Ana Laura Cotrim Rebouças, mais conhecida como Lau Cotrim, tem 18 anos e, como qualquer adolescente, muitos sonhos e planos. Pretende prestar vestibular para Psicologia e se especializar em Psicodrama, além de continuar no teatro e com o trabalho que faz pela conscientização das questões que envolvem a vida das pessoas com deficiência. Por ser cadeirante, Lau tem propriedade para falar sobre o assunto.

Ana Laura Cotrim Rebouças (Lau). Foto: Instagram @lau.cotrim

Paixão pela arte

O primeiro contato com o teatro aconteceu ainda muito pequena. Os pais, no desejo de que a filha pudesse se espelhar em exemplos alegres e positivos, passaram a frequentar a Oficina dos Menestreis, que produz espetáculos inclusivos em São Paulo. Não demorou muito para que Lau passasse a fazer parte do elenco. Foi também na Oficina que a bela garota de cabelos cacheados descobriu seu talento para cantar.

Lau Cotrim em cena, na Oficina dos Menestreis. Foto: Instagram @lau.cotrim

Oficina dos Menestreis -SP. Foto: Instagram @lau.cotrim

A veia artística influenciou também no esporte.  Apesar de já ter feito natação, ballet e remo, foi no nado artístico que a adolescente se encontrou. Hoje, ela faz parte da equipe de nado artístico adaptado do Inspara – Instituto Inspiração Paradesportiva, também em São Paulo.

Nado artístico no Instituto Inspara – SP. Foto: Instagram @lau.cotrim

Equipe de nado artístico adaptado. Instituto Inspara – SP. Foto: Instagram @lau.cotrim

Apesar do amor e dedicação à arte, Lau lamenta que as oportunidades para as pessoas com deficiência sejam quase inexistentes no ramo. Na TV ou no cinema, por exemplo, dificilmente você  se depara com um personagem com deficiência sendo interpretado por um ator com deficiência. “É muito mais fácil pegar alguém que já está lá e colocar numa cadeira de rodas, do que contratar um ator cadeirante”, pontua.

O Abismo Inexistente entre Nós

Recentemente, Lau teve oportunidade de levantar outra questão: o preconceito que gira em torno dos relacionamentos afetivos das pessoas com deficiência. No documentário que produziu para a escola, entitulado “O Abismo Inexistente entre Nós”, Lau questiona a invisibilidade e a indiferença: “Como você se sente quando invalidam todos os seus sentimentos só porque você está em cima de uma cadeira de rodas?” O objetivo,  segundo ela, é levar a uma reflexão. Será que existe diferença quando o assunto é sentimento, relacionamento ou orientação sexual? “Esse abismo é, na verdade, ilusório e por isso é necessário romper esse preconceito, de todas as maneiras possíveis. E o caminho que escolhi para tentar diminuir este abismo foi por meio da arte”, explica Lau.

O documentário está disponível em seu Instagram. Clique AQUI para assistir.

Imagem do documentário ” O Abismo Inexistente entre Nós”.  Instagram @lau.cotrim

Capacitismo Estrutural

As questões levantadas por Lau, assim com tantas outras, são apenas a ponta do iceberg de um problema estrutural que tem nome:  CAPACITISMO. Tanto é que, quando questionada se algum dia já haviam duvidado da sua capacidade de fazer alguma coisa, a resposta da jovem veio de pronto: “o tempo todo“.

O capacitismo consiste numa forma de preconceito contra as pessoas com deficiência e pode ser expresso de diferentes maneiras. Uma visão capacitista tende a reduzir a pessoa à sua deficiência, colocando em dúvida sua capacidade, seus valores e aptidões. É como se somente a deficiência existisse na pessoa e o seu impedimento, seja ele físico, sensorial ou intelectual, pudesse definir sua personalidade, suas potencialidades e a sua capacidade de viver e produzir.

O capacitismo parte da ideia de que um corpo ou mente fora dos padrões considerados “normotípicos” não seja capaz de atividades comuns do cotidiano. É capacitismo, por exemplo, ficar surpreso com as realizações da pessoa com deficiência como quando ela obtém um diploma universitário, se casa e forma uma família, tem um bom emprego e/ou uma vida social intensa.  É capacitismo também subestimá-la, usando uma linguagem infantilizada, dirigindo-se ao acompanhante e não a ela ou esperar que ela vá sempre precisar de ajuda, mesmo que não solicite. Por um outro viés, elevar a pessoa com deficiência a um patamar super-humano, considerando-a como heroína, vencedora ou exemplo de superação também é considerado capacitismo. O próprio termo  “especial”,  apesar de ainda muito utilizado, não é bem-vindo porque desumaniza a pessoa.

Campanha “Capacitismo não tem vez”

Por ocasião do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (03 de Dezembro), o Senado Federal lançou a campanha “Capacitismo não tem vez”, com intuito de promover o esclarecimento da população sobre  o preconceito e uso de expressões pejorativas contra as pessoas com deficiência (o chamado “capacitismo”).  Assista aqui ao primeiro vídeo da campanha que vai até o dia 06/12.

Clarissa Meyer é mãe, advogada, mediadora familiar e trabalha com comunicação e inclusão. Apresenta o Podcast Pinheiros Inclui e é colunista do Portal Papo de Mãe.  Instagram: @clarissa.meyers

Dica: Clique AQUI e ouça a entrevista sobre Capacitismo de Lau Cotrim e sua mãe para o Podcast Pinheiros Inclui do Esporte Clube Pinheiros. Veja ainda a reportagem sobre teatro inclusivo que o Papo de Mãe fez na Oficina dos Manestreis.




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