O médico Edmo Atique Gabriel faz um alerta: ainda estamos numa pandemia e o carnaval é um risco
Edmo Atique Gabriel* Publicado em 24/02/2022, às 06h00
Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que existem tragédias anunciadas ? Seriam situações óbvias quanto ao risco de algo não correr bem, de ocorrer insucesso ou mesmo uma catástrofe. Uma tragédia anunciada significa correr riscos sem que haja nenhuma justificativa plausível para isto.
Já estamos em 2022, o terceiro ano da pandemia do coronavirus, muitas pessoas e muitas crianças ainda necessitando de vacinação e estamos cogitando realizar as festas de carnaval. O carnaval é uma tradição brasileira e ninguém irá mudar isto. O carnaval não é só festa, também é um negócio muito amplo, que movimenta muitos setores, ou seja, sabemos que a realização desta festa implica em aspectos comerciais imensuráveis.
A questão crucial é que a pandemia do coronavirus ainda não acabou. Todos nós queremos que ela acabe, todos nós queremos acordar e ler nos jornais que a pandemia acabou, tal como quando uma grande guerra acaba. Não é possível querer o fim da pandemia e também querer que tenhamos festas de carnaval. Por um motivo muito simples - novamente a tragédia anunciada.
Realizar as festas de carnaval em 2022 seria anunciar, de forma antecipada, que iremos enfrentar e vivenciar uma grande tragédia. Uma festa de aglomeração e de contato físico não cabe neste atual momento e, no caso das crianças, ainda temos baixos índices de vacinação. Esta clara concepção acerca do risco que correremos é o que me motiva a destacar que o carnaval é fundamental para nossa saúde. Fundamental não como festa em si, mas como exemplo incontestável de uma tragédia anunciada, de um cenário tenebroso de altíssimo risco, particularmente para as crianças.
Mas existem diferenças, quanto ao risco, de realizar as festas de carnaval em locais fechados e ao ar livre ? Sim, certamente existe esta distinção, provavelmente com maior risco no caso das festas de rua. Entretanto, qual seria a lógica de insistir em realizar as festas de carnaval, simplesmente por existir uma situação de um risco supostamente menor ? Diante da iminência de uma tragédia, com risco de vida, exposição excessiva das crianças e sobrecarga dos hospitais, justificaria apostar em risco menor ?
Todos nós já estamos vendo que a situação da pandemia apresentou uma piora recente, causada pelas variantes como a ômicron e também pela falta de precaução durante as festas de fim ano. Ainda que esta variante ômicron aparentemente não ofereça letalidade, sua capacidade de incrementar a transmissão do coronavirus é muito significativa. Paralelamente, estamos também enfrentando uma verdadeira pandemia da gripe influenza H3N2, que não está sendo simples de controlar e tem causado lotações nos hospitais públicos e privados.
Nesta conjuntura de pandemias, temos acompanhado uma outra realidade que se destaca - muitas pessoas contaminadas simultaneamente pelo coronavirus e influenza H3N2 - os chamados “fluronas”. Considerando estas contaminações simultâneas, basta incentivarmos a aglomeração e o contato físico para gerar uma verdadeira explosão de casos de “fluronas “.
Para quem ainda não percebeu, estamos numa nova fase da pandemia ou das pandemias - mais de um vírus presente nas gotículas respiratórias, muitas variantes de cada vírus sendo sazonalmente descobertas, a estrutura de saúde pública e privada ameaçada por um “arrastão “ de casos que cada vez mais aumenta, a busca pela vacinação sendo retomada em caráter emergencial.
Para piorar tudo isto, as crianças ainda estão numa fase inicial de vacinação! O carnaval de 2022 será fundamental para nossa saúde, será um marco em melhorar as perspectivas ou eventualmente sepultar as esperanças de um ano mais leve. O carnaval de 2022 será uma mudança de paradigma, não pela festa em si e suas nuances lúdicas, mas por estar anunciando, desde os primórdios de 2022, a tragédia que poderemos estar vivenciando.
Temos de manter atenção direcionada especialmente para as crianças, as quais também são envolvidas neste universo do carnaval e acabam sendo extremamente expostas, sem a devida proteção por parte das vacinas.
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