Roberta Manreza Publicado em 07/08/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h18
Por Anna Mehoudar*, psicanalista
No final da gestação parece que o tempo não passa: os dias são longos e as noites intermináveis. Além da falta de posição para dormir, a cena do parto é povoada de fantasias, medos e histórias, muitas histórias. Quem já não as ouviu?
As dúvidas se multiplicam: – Como será que o meu filho vai nascer? Ele nascerá com saúde? – Terei as dificuldades da minha mãe, ou serei tão boa parideira como minha avó?
E mesmo no melhor cenário de assistência à saúde, mesmo com informações confiáveis, e o apoio de pessoas queridas, o medo do desconhecido comparece, ele é inevitável.
Em algum momento – nem que seja por uma fração de tempo – a gestante teme:
Esses receios nem sempre se justificam, mas é importante que a mulher possa reconhecê-los e verbalizá-los. E que as pessoas próximas possam apenas escutá-las.
Assim como a confirmação da gravidez causa surpresa, e o querer e o não querer ter um filho, ao mesmo tempo, a aproximação do parto é marcada por sentimentos e emoções contraditórias. – Não vejo a hora, mas tenho medo! – Podia ser um pouco mais tarde, preciso de tempo!
Todas as mulheres vivem essas ansiedades e cá entre nós, seria estranho que a gestante não as tivesse em momento tão significativo quanto a aproximação do nascimento de um filho. Ser mãe é sempre uma grande aposta!
Sabemos que parir não é instintivo, nem natural, mas é certo que toda mãe já passou por isto! A maioria passou bem e, muitas vezes, percebemos que estes temores se relacionam mais com fantasias, histórias familiares e, principalmente, o temor do novo!
O tornar-se pai, mãe e filho exige tempo e transformações. O corpo, histórias, experiências mudam! A menina, torna-se mulher que se torna mãe, só entenderemos isto vivendo! Ao se tornar mãe é preciso aprender a observar, a cuidar, a dar banho, a trocar fraldas, a dar de mamar e, principalmente é preciso traduzir. E cada bebê tem um tempo próprio para chegar e se aconchegar. Ele precisa ser recebido com alguma calma…
*Anna Mehoudar é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e autora do livro “Da gravidez aos cuidados com o bebê: um manual para pais e profissionais”, Editora Summus.