O que é epilepsia?

pmadmin Publicado em 30/06/2014, às 00h00 - Atualizado em 25/03/2015, às 09h13

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30 de junho de 2014


Por Letícia Pereira de Brito Sampaio*

O que é epilepsia? 

A epilepsia é uma condição neurológica que acomete o cérebro e torna as pessoas suscetíveis a ter convulsões (crises epilépticas). É uma das doenças mais comuns do sistema nervoso e afeta pessoas de todas as idades, raças e origens étnicas. Quando uma pessoa tiver duas ou mais convulsões, ele ou ela é considerada como tendo a epilepsia. Existem muitas causas possíveis de epilepsia, incluindo tumores, derrames e lesões cerebrais decorrentes de várias doenças. Em muitos casos, pode não haver nenhuma causa detectável para a epilepsia.

O que é uma convulsão (crise epiléptica)?

O cérebro é o orgão central que controla e regula todas as respostas voluntárias e involuntárias do corpo. É composto por células nervosas que normalmente se comunicam umas com as outras através de atividade elétrica. A convulsão ocorre quando parte (s) do cérebro recebe uma explosão de sinais elétricos anormais, interronpendo temporariamente a função elétrica cerebral normal.

Quais são os diferentes tipos de convulsões?

Existem diferentes tipos de convulsões em crianças, incluindo:

Convulsões focais: Convulsões focais ocorrem quando a atividade elétrica cerebral anormal ocorre em uma ou mais áreas de um dos lados do cérebro. As convulsões focais também podem ser chamados de crises parciais. Nas convulsões focais, particularmente nas crises focais complexas, a criança pode experimentar uma aura antes da convulsão. Uma aura é um sentimento estranho, consistindo de alterações visuais ou alterações auditivas ou alterações no sentido do olfato.

Os dois tipos de convulsões parciais incluem:

Convulsões focais simples:   As crises geralmente duram menos de um minuto. A criança pode apresentar sintomas diferentes, dependendo de qual área do cérebro é envolvida. Se a atividade elétrica cerebral anormal é no lobo occipital (a parte de trás do cérebro que está envolvida com a visão), a visão da criança pode ser alterada. Na criança, os músculos são comumente frequentemente afetados. A atividade da convulsão pode ser limitada a um grupo muscular isolado, como dedos, ou acometer grupos musculares maiores, como braços e pernas. A consciência não é perdido neste tipo de convulsão. A criança também pode apresentar sudorese, palidez e náuseas.

Convulsões focais complexas: Este tipo de convulsão geralmente tem origem no lobo temporal do cérebro, a área que controla a emoção e a memória. Esta convulsão geralmente dura entre um a dois minutos. A consciência é alterada durante essas crises e uma variedade de comportamentos podem ocorrer na criança, que podem variar de engasgos, estalar os lábios, correr, gritar, chorar e / ou rir. Quando a criança recupera a consciência, pode queixar-se de estar cansada ou sonolenta após a convulsão. Este é o chamado período pós-ictal.

Convulsões generalizadas: Crises generalizadas envolvem ambos os lados do cérebro. A consciência é perdida e um estado pós ictal é observado. Tipos de crises generalizadas incluem:

Crises de ausência (também chamada de pequeno mal):  Estas crises são caracterizadas por episódios breves de alteração da consciência e olhar fixo. Normalmente a postura da criança é mantida durante crise. A boca ou a face podem se mover, os olhos podem piscar. A crise geralmente não dura mais do que 30 segundos. Quando a crise é longa, a criança pode não lembrar o que acabou de acontecer e continuar com suas atividades, agindo como se nada tivesse acontecido. Esses ataques podem ocorrer várias vezes por dia. Este tipo de ataque é muitas vezes confundido com um problema de aprendizagem ou problemas comportamentais. Crises de ausência quase sempre começam entre as idades de 4 a 12 anos.

Crise atônica (também chamado de crises de queda): Nas crises atônicas, há uma perda súbita do tônus muscular e a criança pode cair da posição em pé ou, de repente, apresentar queda da cabeça. Durante a crise, a criança fica flácida e sem resposta.

Crises generalizadas tônico-clônicas (também chamadas de convulsões de grande mal): Esta convulsão é caracterizada por cinco fases distintas que ocorrem na criança. Flexão (contração) do corpo, braços e pernas, extensão (endireitar o corpo), tremores (agitação), clonias (contração e relaxamento dos músculos), seguido pelo período pós-ictal. Durante o período pós-ictal, a criança pode apresentar sono, problemas de visão ou da fala, dor de cabeça, cansaço ou dores no corpo.

Crises mioclônicas: Neste tipo de convulsão ocorrem movimentos rápidos ou bruscos de um grupo de músculos. Estas crises tendem a ocorrer em grupos, o que significa que elas podem ocorrer várias vezes por dia ou, por vários dias seguidos.

Espasmos infantis:  Este tipo de epilepsia ocorre em crianças geralmente a partir dos seis meses de idade. A ocorrência destes espasmos é frequente quando a criança está despertando, ou quando elas estão tentando dormir. A criança apresenta contrações rápidas do pescoço, tronco ou pernas, que tem a duração de alguns segundos. Os bebês podem ter centenas destas convulsões por dia. Isto pode ser um problema grave e pode ter complicações a longo prazo.

Convulsões febris:  Este tipo de crise está associada com a febre. Estas crises ocorrem em crianças entre 6 meses e 5 anos de idade e, pode haver uma história familiar deste tipo de convulsão. Convulsões febris que duram menos de 15 minutos são chamados de “simples”, e, normalmente, não têm efeitos neurológicos a longo prazo. As convulsões que duram mais de 15 minutos são chamados de “complexa” e pode haver alterações neurológicas a longo prazo na criança.

O que causa um ataque? A criança pode ter uma ou muitas convulsões. Embora a causa exata da convulsão possa não ser conhecida, as convulsões mais comuns são causados pelo seguinte:

Em recém-nascidos e crianças:

Em crianças, adolescentes e adultos jovens:

Outras possíveis causas de convulsões podem incluir:

Quais são os sintomas de um ataque? 

A criança pode ter diferentes graus de sintomas, dependendo do tipo de convulsão. São alguns dos sintomas ou sinais de alerta de que seu filho possa estar sofrendo convulsões:

Durante a convulsão, os lábios da criança podem tornar-se azulados e respiração pode não ser normal. Os movimentos são muitas vezes seguido por um período de sono ou desorientação. Os sintomas de uma crises podem assemelhar-se a outros problemas médicos. Sempre consulte o médico do seu filho para um diagnóstico.

Como são diagnosticadas as convulsões? 

O diagnóstico da epilepsia pode não ser completamente esclarecido imediatamente após o início dos sintomas, devendo ser realizado uma avaliação médica global e exames para diagnóstico. O diagnóstico de uma convulsão é feito com exame físico, exame neurológico e exames complementares. O médico deve obter o histórico médico completo da criança e da família e perguntar quando as crises ocorreram. As convulsões podem ser devido a problemas neurológicos e requerem acompanhamento médico.  Os exames para diagnóstico podem incluir:

Tratamento da epilepsia: 

O tratamento específico para a convulsão será determinado pelo médico do seu filho com base em:

O objetivo do tratamento da convulsão é controlar, parar ou diminuir a freqüência das crises, sem interferir com o crescimento e desenvolvimento normal da criança. Os principais objetivos do tratamento da epilepsia incluem o seguinte:

O tratamento pode incluir:

Medicamentos 

Existem muitos tipos de medicamentos usados no tratamento das convulsões e epilepsia. Os medicamentos são selecionados com base no tipo de ataque, na idade da criança, nos efeitos colaterais, no custo do medicamento, e na aderência ao uso da medicação. Medicamentos usados em casa são normalmente tomados por via oral (como cápsulas, comprimidos ou xarope), mas alguns podem ser dadas por via retal (no reto da criança). Se a criança está no hospital com convulsões, medicação por injecção intravenosa (IV) pode ser utilizada. É importante dar ao seu filho a medicação na hora certa e como prescrito pelo médico. Diferentes pessoas absorvem o mesmo medicamento de forma diferente, de modo que ajustes (horário e dosagem) podem ser necessários para um bom controle das crises. Todos os medicamentos podem ter efeitos colaterais, embora algumas crianças possam não apresentar efeitos colaterais. Discuta os efeitos colaterais dos medicamentos do seu filho com o seu médico. Enquanto seu filho estiver tomando medicamentos, exames podem ser feitos para monitorar a eficácia da medicação. Estes exames podem ser: • exames de sangue – necessário para verificar o nível do medicamento no organismo. Com base neste nível, o médico pode aumentar ou diminuir a dose do medicamento para alcançar o nível desejado. Este nível é chamado de “nível terapêutico” e, é quando a medicação funciona de maneira mais eficiente. O exame de sangue pode também ser feito para monitorizar os efeitos de medicamentos sobre o organismo.
• eletroencefalograma (EEG) – um procedimento que registra de forma continua a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos afixados ao couro cabeludo. Este exame é feito para controlar a forma como o medicamento esta ajudando no controle das alterações elétricas do cérebro.

Dieta cetogênica 
Algumas crianças que estão tendo problemas com medicamentos ou, cujas convulsões não estão sendo bem controladas, podem ser colocadas em uma dieta especial chamada de dieta cetogênica. Esta dieta é pobre em carboidratos e rica em proteínas e gordura.

O que é uma dieta cetogênica? 
A dieta cetogênica pode ser oferecida para as crianças que continuam a ter convulsões, apesar de receberem a medicação. Quando os medicamentos não funcionam, a dieta cetogênica pode ser considerada. Ninguém sabe exatamente como a dieta funciona, mas algumas crianças se tornam livres de crises quando colocadas na dieta. No entanto, a dieta não funciona para todos.

O que consiste a dieta?
A dieta cetogênica é muito rica em gordura (cerca de 90 por cento das calorias provenientes de gordura). A proteína é determinada em quantidade adequada para promover o crescimento. Uma quantidade muito pequena de carboidrato é incluída na dieta. Uma dieta com alto teor de gordura e pobre em carboidratos faz com que o organismo produza cetonas. As cetonas se tornam a fonte de energia para o corpo, enquanto ele não recebe carboidratos suficientes para a produção energia. Se o seu filho come muito carboidrato, o seu corpo não pode produzir cetonas. A presença de cetonas é importante para o sucesso da dieta.
Alimentos com alto teor de gordura:  manteiga, creme de leite, óleo, maionese, queijo cremoso, bacon, queijo. Alimentos ricos em carboidratos:  frutas e suco de frutas, pães e cereais, vegetais (milho, ervilhas e batata), feijões, leite, soda, salgadinhos (chips, lanche, bolos, biscoitos), doces.  O médico de seu filho irá determinar se esta dieta é ideal para ele. O preparo da dieta cetogênica pode ser um desafio e exige que todos os alimentos sejam pesados usando uma balança digital de alimentos. A dieta cetogênica não é nutricionalmente equilibrada, portanto, suplementos vitamínicos e minerais são necessários. Alguns medicamentos e outros produtos, tais como creme dental e enxaguatório bucal, contêm carboidratos. É importante evitar esses produtos durante a dieta cetogênica. Seu filho pode não apresentar cetonas na urina se muitos carboidratos são incluídos na dieta.

Quanto tempo dura o tratamento com a dieta?
As crianças costumam ficar na dieta por cerca de dois anos.

Opções de tratamento adicionais:

Estimulação do nervo vago (VNS):    Algumas crianças, cujas convulsões não estão sendo bem controladas com medicamentos anti-convulsivos podem se beneficiar de um procedimento chamado de estimulação do nervo vago (VNS). VNS é atualmente usado apenas para crianças com mais de 12 anos de idade que têm crises parciais não controladas por outros métodos. A VNS tenta controlar as convulsões enviando pequenos pulsos de energia para o cérebro pelo nervo vago, que é um grande nervo no pescoço. Isto é feito através da colocação cirúrgica de uma pequena bateria na parede do tórax. Pequenos fios são então ligados à bateria e colocado sob a pele e, em torno do nervo vago. A bateria é então programada para enviar impulsos de energia a cada poucos minutos para o cérebro. Quando a criança sente uma convulsão chegando ela pode ativar os impulsos, segurando um pequeno ímã sobre a bateria. Em muitas pessoas isso vai ajudar a parar a convulsão. Existem alguns efeitos colaterais que podem ocorrer com a utilização da VNS. Alguns deles podem ser:  rouquidão, dor ou desconforto na garganta, mudança na voz.

Cirurgia: Outra opção de tratamento para as convulsões é a cirurgia. A cirurgia pode ser considerada em uma criança que:  tem convulsões que são incapazes de serem controladas com medicamentos; tem convulsões que sempre começam em uma mesma área do cérebro; tem convulsão em uma parte do cérebro que pode ser removido sem alterar funções importantes como a fala, a memória ou a visão. A cirurgia para epilepsia é uma cirurgia muito complicada realizada por uma equipe cirúrgica especializada. A cirurgia pode remover a parte do cérebro onde os ataques ocorrem, ou, por vezes, a cirurgia ajuda a impedir a propagação das correntes eléctricas anormais através do cérebro. Uma criança pode ser acordada durante a cirurgia, pois o próprio cérebro não sente dor. Com a criança acordada e capaz de obedecer a comandos, os cirurgiões são capazes de se certificar de que áreas importantes do cérebro não serão danificadas. A cirurgia não é uma opção para todos com epilepsia. Converse sobre isso com o médico do seu filho para obter mais informações.

Mais informações sobre a criança com convulsões ou epilepsia:
Certifique-se de que você e seu filho (se a idade permitir) saibam o tipo de crise epileptica e o tipo de medicamento (s) que são necessários. Esclareça a dose, o horário e todos os efeitos colaterais dos medicamentos. Consulte o médico do seu filho antes de dar outros medicamentos. Medicamentos para convulsões podem interagir com muitos outros, fazendo com que passem a funcionar de forma inadequada e / ou causar efeitos colaterais. As mulheres jovens em idade fértil, que estão em uso de medicamentos anti-convulsivos, precisam ser informadas de que medicamentos anti-convulsivos são prejudiciais ao feto e a medicação também pode diminuir a eficácia dos contraceptivos orais. Se uma criança tem um bom controle das crises, apenas restrições mínimas precisam ser colocadas as suas atividades. A criança deve sempre usar um capacete em esportes como andar de bicicleta, patinar, andar de skate. A criança também deve ter sempre um amigo ou a supervisão de um adulto enquanto estiver nadando. O acompanhamento específico de cada criança será determinado pelo médico do seu filho. Pode ser que a medicação para as convulsões seja necessária para toda a vida da criança. Algumas crianças podem ser retiradas da medicação quando ficarem livres de crises por um a dois anos. Isso será determinado pelo médico do seu filho.

*Dra. Letícia Pereira de Brito Sampaio é neurologista e participou como especialista convidada do Papo de Mãe sobre Epilepsia, exibido em 16.06.2013.




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