Onde é que foi parar a brincadeira que estava aqui?

A pandemia de Covid-19 pode ter sido um catalizador. Mas a verdade é que já faz tempo que as crianças estão com menos tempo e espaço para o brincar ativo

Patricia Camargo* Publicado em 10/09/2021, às 15h23

Uma boa brincadeira ativa precisa de tempo e espaço, duas coisas que estão sumindo da vida das crianças -
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Quais os impactos na vida de uma criança que não brinca? Esta é uma listagem que não caberia neste espaço. Porque a brincadeira está diretamente relacionada a todos os aspectos de desenvolvimento de uma criança.

Seja o cognitivo – que é o mais fácil para os adultos entenderem, porque está relacionado a saber falar, ler, escrever, raciocinar logicamente, contar -, seja o sócio-emocional, que está na moda hoje em dia.

Mas tem um aspecto em particular que, por ser tão natural da criança, às vezes só prestamos atenção quando algo está errado. O desenvolvimento físico-motor.

Quando temos bebês em casa, uma das grandes atenções dos pais no pediatra é se o filho está crescendo, se ganha peso. Também ficamos aliviados ao perceber que ele já senta, começa engatinhar e até a dar seus primeiros passinhos.

Mas depois disso, ufa! Aquele bebezinho tão quietinho parece que ganha um motorzinho ligado no 220! Ele só pensa em correr, pular, correr, rolar, correr, dar cambalhota, correr, subir. Eu esqueci de falar de correr? Pois é. Eles correm.

E secretamente agradecemos pelos 10 minutos que eles finalmente sentam ou quando, no fim do dia, eles dormem. Haja energia.

Pois exercitar seu corpo, movimentar-se é também parte fundamental do desenvolvimento e da saúde das crianças. E elas adquirem isso brincando. Brincadeiras livres, ativas e amplas. Que permitem que eles explorem este corpo em desenvolvimento. Tanto por fora, quanto internamente.

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Porém, uma boa brincadeira ativa precisa de duas coisas: tempo e espaço. E justamente estas duas coisas estão sumindo da vida moderna. E sumindo mais ainda da vida das crianças.

Pesquisas de comportamento já apontaram que em média as crianças norte-americanas têm menos horas de tempo livre para brincar, que um presidiário.

O pega-pega, polícia-e-ladrão e pular corda ficam cada vez mais espremidos em intervalos das escolas de 15 minutos ou menos.

Depois da escola, as atividades extras vão se acumulando uma trás da outra, a maioria sentada numa sala.

Cadê mesmo, o brincar que estava aqui?

E espaço? Bom, vivemos em mais e mais prédios, o medo nos tira os quintais. As praças públicas não são conservadas e os parques estão restritos a um punhado de grandes cidades.

Brincar na rua hoje soa como papo de louco e andar de bicicleta só se for no condomínio fechado, restrito a umas poucas vielas.

A pandemia mostrou com todas as cores aos adultos que as crianças precisam de espaço e tempo para brincadeiras ativas. Porque finalmente nós vimos o quanto é duro ficar o dia todo sentado na frente das telas.

E entendemos o quanto faz mal às crianças viverem restritas, com toda a sua energia contida. Fez mal para elas. Faz mal para a gente.

Mais, então, do que esperar a pandemia passar, precisamos aproveitar este momento e proporcionar às crianças possibilidades de brincar ativamente, mesmo dentro de casa, mesmo em espaços pequenos. E sem criar um caos de desordem para nós, adultos.

Quem sabe a gente não se anima e brinca também? Uma boa corrida de saco de lixo pelo corredor pode fazer maravilhas contra nosso sedentarismo – adulto- moderno.

É só buscar, que você encontra brincadeiras ativas que cabem na sua situação com as crianças que estão com você.

E, depois que isso passar, vamos lembrar que as crianças vão continuar precisando de tempo e de espaço para serem ativas. Mesmo quando a gente não estiver olhando.

Patricia Camargo e os filhos Henrique, Sofia e  Larissa. 

*Patricia Camargo, mãe de Henrique, Sofia e Larissa, é sócia do Tempojunto, um projeto que quer apresentar a Parentalidade brincante, mostrando aos adultos a importância da brincadeira para as crianças e trazendo soluções práticas para ter mais tempo de qualidade com os filhos.

Tempojunto.

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil. 

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas. 

Conheça mais no site do programa

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