Roberta Manreza Publicado em 03/05/2016, às 00h00 - Atualizado às 12h15
Para reinventar o modelo de ensino, não basta comprar lousas digitais e computadores. Inovar, como já está provado, não é só adotar novas tecnologias. É mudar a cultura do ensino e a forma de se organizar. Inovação não é apenas tecnologia, é pensar diferente
Ana Maria Diniz – Estadão
Na sala de aula, só a professora fala e se movimenta. As crianças, sentadas em fila, cada uma em sua carteira, devem ficar quietas, em silêncio – quem conversar leva advertência. Copiam, ouvem, ouvem, copiam, copiam, ouvem. Muitas não entendem o que está sendo dito (e não aprendem). As aulas são um tédio. Interação, entusiasmo e criatividade zero. A única coisa que importa é memorizar o conteúdo para ir bem na prova e passar de ano. Afinal, aprender é uma chatice.
A grande maioria das instituições de ensino funciona da maneira descrita acima – a mesma de dois séculos atrás e a anos-luz dos alunos e da realidade. Educadores e especialistas em Educação concordam pelo menos nesse ponto: as escolas precisam, urgentemente, se reinventar. A questão é como fazer isso. Seria simples se investir em lousas digitais, computadores e tablets resolvesse o problema. Não resolve. Inovar, como já está provado, não é só adotar novas tecnologias. É mudar a cultura do ensino e a forma de se organizar. É pensar diferente.
Abaixo, listei algumas características das escolas que conseguem bons resultados com a adoção de novas práticas:
Professores bem preparados. Sem um bom professor, não há ensino de qualidade. Entre as várias habilidades necessárias a um professor, destacam-se:
– Clareza ao ensinar. Ao entrar na classe, o professor precisa ter clareza do que quer ensinar e do objetivo que quer atingir naquela aula. Cada (e toda) aula exige uma preparação do professor. Esses dois recursos permitem ao professor criar, com facilidade, conexões entre os temas estudados e a realidade das crianças. Contextualizar e trazer o tema à vida dá sentido ao aprendizado, tornando-o muito mais efetivo.
– Ser um bom observador. O professor precisa treinar sua capacidade de observar seus alunos para detectar os diferentes perfis de crianças e suas peculiaridades – algumas mais visuais, mais auditivas, desatentas. Dessa forma, poderá planejar suas aulas de modo mais eficiente, intercalando recursos que atendam a todos. E prestar atenção nos estudantes com maior dificuldade de aprendizado, criando estratégias para apoiá-los
– Capacidade de planejamento. Tanto no ensino quanto na vida, quem não sabe o que quer e aonde vai chegar não vai a lugar algum. O educador precisa ter em mente qual suas metas para planejar as etapas necessárias para alcançá-las.
Espaços físicos integrados. Em vez de salas delimitadas por paredes e portas, os estudantes, divididos por interesses e não por séries tradicionais, podem ocupar um espaço único onde todos podem se manifestar, interagir, contribuir, questionar, divergir. As escolas mais inovadoras têm ambientes assim e crianças aprendendo os conteúdos por projetos. Dessa forma é possível incentivar a experimentação, o debate, a colaboração e a criatividade. Se derrubar paredes e abolir disciplinas às vezes pode ser inviável, uma opção é dar ênfase a projetos dividindo a classe em pequenos grupos.
Currículos flexíveis. Diversas matérias conversam entre si, em projetos ou atividades comuns, desenvolvendo competências cognitivas e socioemocionais necessárias para a vida no século 21, entre elas:
– Pensamento crítico e inovador, criatividade, resolução de problemas e tomada de decisões;
– Respeito a valores universais, como igualdade, democracia, liberdade individual, tolerância;
– Empatia, colaboração, aptidão para o trabalho e a vida em rede, proatividade e engajamento;
– Autoconhecimento, autonomia, cidadania, visão de futuro e gestão da própria vida, preocupação com os outros e com o planeta.
Metodologias ativas. Um aprendizado eficiente se dá a partir de uma combinação de várias metodologias. Muitas escolas inovadoras se apoiam no chamado ensino híbrido, integrando elementos da sala de aula tradicional com recursos tecnológicos. Combinados, esses elementos permitem o aprendizado antecipado (a chamada aula invertida, na qual o aluno aprende o básico sozinho, com auxílio de plataformas digitais). Na escola, o professor trabalha o conteúdo com profundidade, auxiliando o aluno na construção do conhecimento.
Avaliações abrangentes e variadas. As avaliações compreendem habilidades cognitivas e socioemocionais e acontecem de diferentes maneiras. Elas servem muito mais para acompanhar de perto a evolução de cada aluno, orientar o professor e ajudá-lo a definir estratégias para melhorar o processo de aprendizado.
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