Roberta Manreza Publicado em 14/10/2017, às 00h00 - Atualizado em 15/10/2017, às 08h03
Por Prof. Dr. Mario Louzã*, médico psiquiatra e psicanalista
O câncer de mama é o mais comum dos tumores malignos na mulher, e o terceiro mais comum na população em geral. A cada ano, surgem cerca de 1,7 milhões de casos novos. Atinge a mulher em qualquer faixa etária, mas sua incidência tende a aumentar com a idade.
Há tipos diferentes de câncer de mama, e quando o diagnóstico é feito, é também avaliada sua gravidade, o chamado estadiamento. Conforme o estadiamento, os procedimentos cirúrgicos, radioterápicos e quimioterápicos são efetuados de modo diferente. Sabe-se hoje que a detecção precoce do câncer de mama aumenta as chances de sobrevivência em cerca de 90%.
E qual é o impacto emocional do câncer da mama na vida da mulher? Aqui, seguem alguns exemplos:
– Mulheres que têm na história familiar parentes próximos que tiveram câncer de mama sabem do risco aumentado para desenvolver a doença. Assim, vivem sob o peso desse risco (que, atualmente, pode ser avaliado, pelo menos parcialmente, com exames genéticos) e, muitas vezes, devem tomar a decisão de fazer mastectomia bilateral preventiva (o caso da atriz Angelina Jolie).
– Quando detectado precocemente, o procedimento cirúrgico é mais conservador, muitas vezes, retirando parte da glândula mamária, sem modificar a aparência externa da mama (mamilo e aréola preservados). Se detectado em fase mais avançada, pode ser necessário remover a mama em sua totalidade, além da retirada dos linfonodos da axila. Qualquer que seja a cirurgia, deixará marcas ou deformações na mama, requerendo posteriormente reconstrução plástica. Muitas vezes, será necessário o uso de próteses no lugar da mama, nem sempre mantendo a sua forma natural. Quimioterapia e/ou radioterapia, na maioria das vezes, serão necessárias após a cirurgia.
– Dependendo do tipo de câncer, será necessário o uso de medicamentos inibidores dos hormônios femininos, induzindo uma menopausa precoce, com os sintomas característicos da menopausa. Esta traz desconforto e pode diminuir a libido, influenciando no comportamento sexual da mulher.
– Durante alguns anos, serão necessários exames periódicos para controle do tratamento, visando monitorar eventual recidiva.
– Mesmo quando considerada curada do câncer, a preocupação e os exames periódicos continuarão a acompanhar a mulher.
Em cada etapa acima descrita, a mulher pode apresentar ansiedade e depressão. Muitas vezes, tem sua autoimagem comprometida, achando-se “menos mulher”, por não ter mais a mama ‘original’. A vida sexual pode ser prejudicada, trazendo a preocupação de não ser mais tão atraente para o parceiro (novamente, “menos mulher”).
O ajustamento à circunstância de ter (ou ter tido) um câncer de mama é um processo que demanda elaboração de todos os sentimentos desencadeados pela doença. Sabe-se que cerca de 50% a 70% das mulheres terão reações emocionais negativas à situação; tais reações negativas podem contribuir para que o tratamento não seja seguido corretamente, o que aumenta o risco de recidiva.
O apoio psicoterápico é importante para auxiliar no longo processo de elaboração da doença, na busca de estratégias positivas de enfrentamento. Muitas vezes, é necessário também o uso de medicamentos, se o quadro de depressão e/ou de ansiedade forem intensos, comprometendo a vida da mulher.
*Prof. Dr. Mario Louçã é médico psiquiatra e psicanalista. Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. (CRMSP 34330)