Cada dia se torna mais comum a ovodoação entre pacientes em tratamentos para engravidar. Ela é legal, contanto que não haja fins comerciais e seja anônima.
Roberta Manreza Publicado em 22/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h32
Por Dr. Arnaldo Cambiaghi*, médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva
Cada dia se torna mais comum a ovodoação entre pacientes em tratamentos para engravidar. E é interessante lembrar que a primeira gestação resultante de uma ovodoação ocorreu em 1984. A paciente tinha falência ovariana prematura, ou seja, entrou precocemente na menopausa. A doação de óvulos é realizada no país há mais de uma década. Ela é legal, contanto que não haja fins comerciais e seja anônima. Portanto, a doadora não saberá a identidade da receptora e vice-versa – é o que determinam a lei e a ética. Chamamos de doadora a mulher que será estimulada para um ciclo de fertilização in vitro, que resultará a coleta de vários óvulos, dos quais metade (doação compartilhada) será doado para uma outra mulher que não tem mais capacidade de produzi-los – esta é a receptora.
“A doação de óvulos não consiste em um simples ato de entrega descontrolada, mas, sim, em uma atitude pensada e generosa, com o objetivo maior de proteger, preservar, eternizar, restaurar e conservar a família e o amor”, comenta o médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor doCentro de Reprodução Humana do IPGO.
É importante lembrar que a receptora precisa ter seu útero preparado com hormônios (estradiol e progesterona) antes de receber o(s) embrião(ões), que serão mantidos até o terceiro mês de gestação, quando a placenta passa a ser a responsável pela manutenção da gravidez. Após o terceiro mês, a gestação evolui normalmente, sem a necessidade de suporte hormonal. O pré-natal é igual ao de uma gravidez concebida naturalmente e a mãe poderá amamentar sem nenhuma diferença de uma gravidez espontânea.
A doação deve ser voluntária e considerada uma generosidade da paciente doadora. Óvulos não podem ser vendidos.
Graças a essa solidariedade a doadora ajuda:
Com a vitrificação de óvulos, hoje é possível que pacientes que precisam receber óvulos não precisem aguardar que se encontre uma doadora para realizar o tratamento. Os óvulos podem ficar armazenados até que alguém que precise possa usá-los.
1 – Um dos mais frequentes questionamentos é o número de vezes que uma mulher pode doar óvulos. O número de ciclos, que são feitos na clínica, depende de diversos fatores. Legalmente não está determinado um número especifico de doações. A doação de óvulos não tem efeitos secundários. Não causa aumento de peso, não acelera a menopausa, não aumenta a incidência de câncer e nem existe um aparecimento súbito de acne ou pelos, como alguns acreditam. Doar óvulos não significa que se esgotem ou que se acelere a menopausa. Uma mulher nasce com uma quantidade de óvulos ao redor 2 milhões. Na ocasião da primeira menstruação (menarca) essa quantidade diminui para 300 a 400 mil óvulos. Os óvulos vão se perdendo com o passar dos meses das menstruações. Em cada ciclo normal começam a crescer cerca mil óvulos, mas no final só um alcança o desenvolvimento suficiente para chegar a ovular. Com o tratamento, conseguimos que vários óvulos alcancem o tamanho adequado para poderem amadurecer sem que isso afete o total de óvulos que a mulher possui. Portanto, independente da estimulação ovariana e o número de óvulos que serão retirados, a perda mensal permanecerá a mesma, mil óvulos por mês. A reserva ovariana permanecerá idêntica independente de ter doado ou não parte dos seus óvulos. Apenas o ‘desperdício’ será evitado.
2 – A doadora não conhece a identidade das crianças nascidas por meio da Reprodução Assistida: “O anonimato é total. A lei proíbe expressamente que se revele a identidade das crianças nascidas por meio dessa técnica. Portanto, nem as doadoras podem conhecer as crianças, nem estas as doadoras. A equipe médica realiza a seleção da doadora de óvulos que procura garantir a maior semelhança fenotípica com a receptora. Nunca poderá selecionar–se pessoalmente a doadora a pedido da receptora”, afirma Cambiaghi.
3 – Durante a estimulação dos ovários até a nova menstruação, depois da punção folicular, não é aconselhável manter relações sexuais, tanto pelo risco de gestação múltipla, como pelo risco de torção dos ovários. A doadora não pode usar contraceptivos.
4 – A punção folicular é realizada em sala estéril, especializada, com a paciente sob sedação, mas só é necessário permanecer na clínica durante 2 a 3 horas. Não é necessário internação. O processo é geralmente bem tolerado e só excepcionalmente comporta algum risco, como a síndrome da hiperestimulação dos ovários, o que, hoje em dia, não acontece graças à combinação de medicamentos antagonista/agonista. “Outros riscos também descritos, como a infecção, sangramentos abdominais ou a torção dos ovários, ocorrem raramente. De qualquer forma, o tratamento é individualizado o e a doadora é acompanhada periodicamente para minimizar qualquer risco”, explica o médico.
5 – A doação de gametas e pré–embriões é definida como um contrato gratuito, formal e confidencial acordado entre a doadora e o centro autorizado que sejam respeitados os três requisitos da doação;
*Arnaldo Schizzi Cambiaghié diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.