Perrengue de mãe que virou negócio

Perrengue se transformou em um negócio voltado para crianças na readaptação ao ensino presencial, no contraturno e para os pequenos

Marcella Cohen* Publicado em 30/11/2021, às 12h57

Os primeiros anos da vida de uma criança são fundamentais para seu desenvolvimento -

Sabe aquele “corre corre” tradicional acompanhado da frase “Vai nascer”!? Era eu naquela tarde, com 41 semanas, bolsa estourada, quase nada de dilatação e com pouquíssima evolução: era o meu estado quando a minha obstetra falou uma das frases mais importantes da minha vida, um ensinamento que vai além da maternidade e que carrego como lema.

Estava desabafando com ela o quanto queria e havia me planejado para um parto normal, por todo meu empenho e planejamento físico e psicológico e ela me respondeu “Marcella, agora você vai virar mãe, para de querer planejar e controlar tudo, nada mais está sob seu controle” – um chacoalhão  para quem estava dado a luz e necessário para mãe de primeira viagem.

Assista ao Papo de Mãe sobre Plano de Parto: 

Ser mãe é lidar com frustrações e realinhamento de expectativas de uma forma tão constante e repetitiva que a palavra frustração perde até o sentido, ela passa ser um simples “recalcular rota”. A própria concepção da Olívia foi um “recalcular rota”: fiquei gravida no meio do meu programa de trainee, o qual precisava estar pronta para me tornar gerente em 3 anos. Imagina, aqueles 3 anos que você se prepara para dar seu sangue pela empresa e conquistar o seu lugar ao sol, eu ainda ficaria 9 meses grávida com mais 6 meses de licença, praticamente faria meio programa sendo estigmatizada como a “trainee mãe”.

A própria concepção da Olívia foi um “recalcular rota”, Marcella Cohen

Mas o “perrengue” realmente começou na minha volta da licença-maternidade. Carioca, sem rede de apoio em São Paulo, não me animava muito com a ideia de uma babá e a empresa tinha um berçário no prédio como benefício para as mães. Não pensei duas vezes e coloquei a Oli lá.

Em um mês ela já estava voltando para casa com nariz escorrendo, espirrando, com virose, febre, tudo que você pode imaginar. Eu estava totalmente atolada de trabalho e ter que gerenciar carreia mais bêbe doente não era uma opção. Nesse momento pensei: “preciso pensar e agir rápido, mas como?”. E nesse dilema de qual caminho seguir, durante consulta pediatrica, levei mais um chacoalhão: “o melhor lugar para uma criança estar até seus 2 anos de idade é em casa, colocá-la e outro lugar é assumir que seu filho vai ficar doente muitas vezes”. Aquela afirmação me fez questionar como minha filha teria um desenvolvimento cognitivo satisfatório sem as atividades propostas na creche. Afinal, uma babá daria conta de estimular as capacidades da Olívia? 

Foi neste momento que a semente da POPPINS foi plantada. Depois de algumas tentativas frustradas de  adaptar Olívia na escola sem que ela ficasse doente e de tentar encontrar uma bába que tivesse um olhar para o desenvolvimento da minha filha, comecei a desenvolver uma rota ideal, uma alternativa que pudesse dar mais conforto para mães, como eu, que estavam esgotadas de precisar sempre de um plano B.

Após alguns pilotos, apostei num modelo de negócio impulsionado pela pandemia e mudança do perfil corporativo de grande parte dos profissionais. Criei uma empresa especializada em educação domiciliar, lançada no começo deste ano para pais e mães aflitos com a Covid-19, que foram colocados em home office às pressas, em um cenário de incerteza e com escolas fechadas. 

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O foco é atender crianças de 4 meses a 4 anos, até atingirem idade de obrigatoriedade escolar. Levamos a experiência da escola para dentro da casa das famílias, por meio de um planejamento pedagógico personalizado, materiais e educadora exclusiva, responsável por conduzir todas as atividades com a criança de forma presencial. O negócio, cujo nome foi inspirado no clássico da Disney "Mary Poppins", está no mercado há seis meses e já temos mais de 300 famílias cadastradas em nosso banco de dados.

Hoje, tenho um time multidisciplinar de profissionais, incluindo psicólogas, pedagogas e professoras bilingues que atuam como especialistas atendendo crianças na readaptação ao ensino pós-isolamento social, contraturno e desenvolvimento em casa para quem ainda não está na idade obrigatória escolar. Ofereço para as famílias a rede de apoio que tanto me fez falta no passado. Uma rota que foi recalculada com sucesso e que agora traz paz de espírito para várias mães.

Mercado mostra necessidade desse tipo de serviço

Atualmente, há cerca de 20 milhões de crianças de 0 a 6 anos no Brasil, e metade delas sequer estão matriculadas em alguma instituição de Ensino. Algumas por uma questão financeira e de acesso, outras por uma falta de conhecimento de alguns pais da necessidade de estímulo da primeiríssima infância.

Os primeiros anos da vida de uma criança são fundamentais para seu desenvolvimento. Diversos estudos demonstram que a evolução do cérebro acontece a uma velocidade incrível nesse período – a 1 milhão de conexões entre neurônios por segundo – sobretudo com estímulos e interações com os pais, cuidadores, demais membros da família e outras crianças. Pouco a pouco, o cérebro se desenvolve por meio da nutrição e de cuidados adequados, mas também pela continuidade dessa interação da criança com outras pessoas e com o ambiente.

Este é o período em que o cérebro mais precisa de estímulos, uma vez que 90% das conexões cerebrais são estabelecidas até os 6 anos. Em outras palavras, as interações sociais contribuem para impulsionar a atividade cerebral.  Se a criança for negligenciada, muitas ligações entre os neurônios deixam de acontecer, o que pode afetar o seu potencial de aprender e se desenvolver.

Para que o processo de desenvolvimento pleno do bebê e da criança ocorra, são fundamentais estímulo adequado, vínculo e afeto. O cérebro, auxiliado pelos órgãos que compõem os sentidos (visão, olfato, audição, paladar e tato), se apropria da informação por meio de um estímulo adequado – vindo do ambiente – e, na maioria das vezes, realizado pelos pais/adultos de referência da criança e cuidadores.

Experiências positivas na primeira infância contribuem para o desenvolvimento saudável do cérebro, permitindo que a arquitetura cerebral seja sólida e tenha uma estrutura mais apta a superar dificuldades.

É comprovado que o cérebro humano é plástico o suficiente para possibilitar o aprendizado até o fim da vida. Mas o ritmo de apreensão de conteúdos diminui muito após a fase da primeira infância.

*Marcella Cohen CEO & Fundadora da POPPINS Micro-schools

@poppinsedu (Instagran)

https://poppinsedu.com.br/

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