Roberta Manreza Publicado em 09/12/2015, às 00h00 - Atualizado às 19h41
Por Bruna Ramos Fonte: Portal EBC
Apesar de o Youtube ter classificação etária de 18 anos, seu público é composto, também, por adolescentes, crianças e bebês. Não é preciso navegar muito pelo site de compartilhamento de vídeos para se deparar com uma enorme quantidade de canais consumidos e até produzidos por crianças.
Apesar de se encontrarem na penúltima posição, os vídeos de unboxing são um fenômeno, na opinião da pesquisadora. No recorte de audiência dos 15 maiores canais infantis, de 0 a 2 anos de idade, seis abordam essa narrativa, atingindo uma audiência de mais de 1 bilhão de visualizações. “Os dados apontam que o crescimento destes canais está em uma curva ascendente e muito acentuada”, ressalta Corrêa.
Para Fernanda Furia, fundadora do Playground da Inovação e mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes, com relação às crianças, especialmente aquelas entre 0 e 2 anos, os vídeos unboxing não apresentam muitos benefícios. “Ao contrário, eles acabam tendo efeitos polêmicos no desenvolvimento de uma criança: geram mais expectativa para comprar um determinado brinquedo, estimulam a vontade de ter mais coisas e, muitas vezes, incentivam uma ostentação entre as crianças para ver quem possui mais. Além disso, este tipo de vídeo acaba estimulando um tipo de brincar pouco criativo”.
A descoberta mais impactante da pesquisa, segundo Luciana, confirma uma tendência já apontada em estudos da Europa, que indica que quanto mais cedo a criança é inserida na plataforma, maior será o seu consumo quando for mais velha. “O consumo no Youtube será muito maior daqui a alguns anos. Está havendo uma migração da programação infantil da TV para a web”.
Impactos
A psicóloga Fernanda Furia considera a revolução digital importantíssima, e diz que ela deve ser abraçada, porém, com cautela, bom senso e consciência. “Precisamos desenvolver uma cidadania digital, ou seja, um uso responsável, ético e consciente das redes sociais e da tecnologia”, defende. Na sua opinião, a tecnologia não é, em si, nem vilã nem heroína. “A função e o impacto que ela tem na vida de uma pessoa é que precisam ser analisados com cuidado”, pondera.
Apesar da recomendação de especialistas de que aparelhos tecnológicos sejam usados apenas depois dos 2 anos de idade e, por no máximo, duas horas por dia, é o conteúdo consumido pelas crianças que deve merecer uma atenção especial dos pais, na avaliação de Fernanda. “O mais preocupante em todo este contexto é o tipo de jogo com o qual ela está brincando, com quem ela está se comunicando nas redes sociais e, principalmente, qual é a função que o uso das tecnologias está tendo na vida daquela criança e daquela família”. Neste sentido, Corrêa endossa que sua pesquisa serve como um alerta para que os responsáveis nunca deixem de acompanhar o que a criança está vendo e ouvindo. “Tem que existir o cuidado com a mediação, afinal o Youtube é para maiores de 18 anos”, recomenda.
Youtuber mirim
Ian Pinheiro de Souza, de 11 anos, grava vídeos para o canal Hey Ian desde o ano passado. Autodidata, ele pensa o tema que quer abordar, grava, edita e manda para a plataforma.
Apesar de afirmar que faz por diversão, ele espera lucrar com a atividade dentro de dois anos. “Para viver a vida do Youtube, é necessário confiança, carisma e foco”, ensina o pequeno, que pretende seguir gravando vídeos para a plataforma por tempo indeterminado.
Os pais de Ian não só acompanham seu trabalho, como o apoiam integralmente. Esta mediação é fundamental na opinião de Furia, que entende que os adultos devem ter mais consciência dos benefícios e, principalmente, dos riscos e abusos inerentes à internet. “Só assim poderemos ajudar as nossas crianças a crescer desenvolvendo uma visão crítica sobre os diferentes conteúdos online”, argumenta ela.
Na opinião da psicóloga, a exposição de crianças não é um tema novo. Nas últimas décadas, há vários casos de celebridades mirins que fizeram sucesso em programas de TV e filmes. Porém, segundo ela, a internet proporciona uma dimensão bem maior. “Crianças e jovens que se expõem demais na internet podem ser uma porta de entrada para abusos de vários formatos, como pedofilia, estímulo excessivo ao consumismo, exploração por parte das grandes marcas para vender mais… Além disso, como todo este conteúdo produzido pelas crianças ficará registrado para sempre na internet não sabemos como elas vão lidar com isso quando crescerem”, alerta.
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