PLANTÃO PAPO DE MÃE – POR MARIANA KOTSCHO
pmadmin Publicado em 12/10/2010, às 00h00 - Atualizado às 21h35
12 de outubro de 2010
Por pouco não foi uma tragédia!Hoje tenho um motivo a mais para comemorar com meu marido e meus 3 filhos este dia das crianças…Domingo passado, 4 horas da tarde. Eu, meu marido e meus 3 filhos Laura (7), Isabel(4) e André (3) pegamos a estrada rumo à praia para aproveitar o feriado. Fazia um tempão que a gente não viajava e deixamos para pegar a estrada no domingo para ir no contra-fluxo, com calma. Cada criança na sua cadeirinha, cinto de segurança. Tudo direitinho.Ao pegar a estrada Mogi-Bertioga começou a chover, tinha muita neblina, escureceu. Eu dirigia bem devagar, com cuidado, assim como os carros na minha frente, mantendo distância. Um pouco antes do quilometro 88, a Laura vomitou (é papo de mãe, né???? quem já não passou por isso de um filho vomitar na descida da serra?). Bom….paramos, limpamos a Laura, o carro. Chovia e estava frio. As crianças não viam a hora de chegar à praia onde já estavam os avós.De volta para a estrada, eu ia conversando com meu marido e com as meninas, já que o André, meu caçula, estava dormindo. E na curva do quilometro 88 aconteceu aquilo que a gente nunca imagina que vai acontecer quando está fazendo tudo certo. Um carro desgovernado que subia a serra perdeu o controle na curva. Foi tudo muito rápido. Ele se chocou no primeiro carro, destruiu o segundo e só parou quando bateu de frente no nosso carro. Estava escuro, chovendo. Só a luz dos faróis iluminava aquilo que poderia ter sido uma verdadeira tragédia. Realmente só não foi pior porque os carros que desciam iam muito devagar. Quando ele bateu de frente no meu carro eu, inclusive, já tinha brecado, estava parada vendo aquilo acontecer na minha frente e o carro desgovernado vindo em minha direção. Foram poucos segundos. O motorista do carro que causou o acidente saiu andando e caiu no chão. Estava completamente bêbado – assim como o amigo dele no banco do carona.O desastre só não foi maior porque, de fato, os 3 carros que foram vítimas do motorista bêbado estavam dirigindo com muita cautela. Eu e meu marido mantivemos a calma para que as crianças não ficassem assustadas. Mas começou a sair fumaça do carro que bateu na gente e eu nem conseguia me mexer de tanto que estava tremendo. Saí do carro e o Fernando conseguiu dirigir até um local mais seguro – se é que isso era possível. A estrada estava movimentada, o DER e o resgate levaram uns 10 minutos para chegar. O que num momento como este é uma eternidade.O responsável pelo acidente foi o único que precisou ser socorrido pelo resgate. Quando ele percebeu o que tinha provado começou a se fazer de vítima dizendo que não sentia as pernas. Mas eu vi quando ele saiu andando normalmente do carro. Foi só perceber o tamanho do estrago que ele caiu no chão…..Mas a nossa noite ainda teria muitos outros acontecimentos. Pouco antes do DER chegar um outro carro foi desviar do acidente, rodou na pista e foi parar no matagal. Neste instante eu já nem sabia se era mais seguro ficar dentro ou fora do carro. Nenhum veículo envolvido no acidente tinha condições de sair do lugar.Decidimos então ficar fora do carro com as crianças. Estava frio, cheio de lama (pelo menos não era um precipício). Fernando e eu tentávamos animar as crianças: “Puxa, que aventura” e eles de fato estavam achando aquilo divertido… Ainda faltava chegar a polícia, o guincho….Liguei para meus pais e pedi que fossem buscar as crianças. Por maior que fosse a “aventura”, estavam com frio, com fome, assustados.O acidente foi às 18h30. A polícia chegou 2 horas depois. DUAS HORAS DEPOIS!Daí chegou um policial com aquela enorme vontade de trabalhar. Um policial só. Já chegou reclamando do DER que, por sua vez ,reclamava da polícia rodoviária. Daí também reclamaram dos guinchos….enfim, ninguém, estava muito afim de trabalhar. Neste momento eu já tinha aprendido algumas coisas naquela noite: 1) de fato não dá pra beber e dirigir, muito menos pegar a serra, não é mesmo senhor motorista do Celta azul??????? É PROIBIDO BEBER E DIRIGIR!2) mamães e papais: Graças a Deus existe cadeirinha de segurança para as crianças e o cinto de segurança é obrigatório TAMBÉM NO BANCO TRASEIRO.3) a polícia demorou duas horas pra chegar porque era troca de plantão e o que estava saindo preferiu esperar o que estava entrando……Bom, se você leu até aqui se prepare porque mais emoções aconteceram naquela noite do dia 10/10/10.Entre as outras vítimas estavam um casal mais velho que deu o tom religioso para o acidente pois agradeciam a Deus por estarem vivos a todo momento (bem, eu também fazia isso, mas em silêncio….) e um casal de namorados. Só não sei quem tremia mais, eu ou a Renata – que estava no carro da frente – e veio me ajudar a dar a mão para as crianças. Uma lanterninha que eu tinha na bolsa fez o André se sentir muito corajoso naquele momento.Um detalhe importante: nossos celulares não funcionavam ali. Apenas o celular do senhor do primeiro carro é que funcionava e que foi a nossa salvação. Liguei a cobrar pra minha mãe e fiquei imaginando o susto que ela ia levar….”Mãe, tá tudo bem….a gente se envolveu numa acidente na estrada, vc pode vir pegar as crianças????” Minha mãe estava a 2 horas do local do acidente……Bem, quando a polícia chegou, chegou também o primeiro guincho. Fomos os primeiros por causa das crianças. Nossa, elas acharam o máximo ir de guincho até o fim da serra – onde nos deixaram no posto policial……Quando vovô e vovó chegaram foi um alívio. As crianças iam poder ir pra casa. Nossa, eles estavam cheios de histórias para contar. Ainda bem que pra eles aquele horror todo tinha virado uma história para contar. “Vovó, eu vi a ambulância”, “Vovô, eu vi um pneu voando e o carro bateu no nosso carro”, “Vovô foi uma aventura, a gente andou no guincho”. Me lembrei do filme “A Vida é Bela”.Crianças a salvo, ia começar a segunda parte daquela noite. Depois que todos os carros chegaram guinchados, o policial responsável pela ocorrência disse que os “condutores” dos veículos deveriam seguir com ele até o hospital e depois pra delegacia. Desta vez eu não estava como jornalista fazendo a cobertura de um acidente. Estava como vítima. Um bêbado quase tinha acabado com a vida da minha família numa curva da estrada.Devo aqui agradecer ao meu amigo Marcos Aidar que estava de plantão na redação da TV Globo SP e me atendeu naquele momento. O que estava acontecendo poderia até virar notícia.O policial explicou pra gente que se a gente quisesse pedir teste de teor alcoólico no causador do acidente e desse negativo nós seriamos processados por constrangimento ilegal. Eu já não estava entendendo mais nada. O sujeito quase matou 9 pessoas e a gente é que corria o risco de ser processado?????Pra resumir a história daqui pra frente: no hospital, o policial pegou os documentos do motorista que, segundo ele, ficaria paralítico. E disse que ele não estava bêbado. Como já eram 23 hs, mais de 4 horas depois do acidente, podia até ser que ele não estivesse mais. Daí eu pergunto: POR QUE NÃO SE PODE FAZER O TESTE DO BAFÔMETRO NO RESGATE???? Não pode, é a lei. Até porque o sujeito pode se recusar. Isso quer dizer que se ele não ficar paralítico (como não deve ficar já que saiu andando do carro), ele vai beber de novo, pegar a serra de novo e colocar em risco outras vidas de novo.Do hospital pra delegacia: podem imaginar a vontade de trabalhar do delegado de plantão num domingo à noite com chuva???? “Mas se a única vítima é o causador do acidente vocês nem precisavam vir aqui. Pode fazer tudo lá no posto da polícia rodoviária”…Então voltamos para o posto da polícia rodoviária, recebi lá um número de protocolo e os policias disseram que daqui a 10 dias eu tenho que ir até Guaecá com o número do protocolo pra retirar o boletim de ocorrência pra acionar o seguro. MAS EU NÃO VOU ESTAR NEM PERTO DE GUAECÁ DAQUI A 10 DIAS!!!!!!!!Só estou calma (?) e conseguindo escrever porque ninguém se machucou. Mas quantas famílias já não tiveram outros desfechos e foram vítimas também deste sistema QUE É UMA PORCARIA?????? Vítimas de motoristas bêbados e de funcionários de má vontade???De fato, como diz uma figura maravilhosa que conheço,” isso aqui não é um país, é um acampamento” – uma grande avacalhação.Aqui está não o relato da Mariana Kotscho, a jornalista. Mas da Mariana mãe e cidadã. Um desabafo. Se você alguma vez já se sentiu assim escreva pra nós também a sua história.