Se aprofundando em pedagogia, Vinicius Campos, colunista do Papo de Mãe, questiona a educação no Brasil e defende o investimento na primeira infância
Vinicius Campos* Publicado em 28/05/2021, às 09h22
Na última semana comecei uma pós-graduação em Pedagogias das Infâncias na Universidade Caxias do Sul. Há tempos queria fazer uma especialização na área da educação e desta vez foi possível. Tive somente duas aulas por enquanto, mas já fiquei encantado com alguns pensadores que criaram maneiras eficazes de acompanhar nossas crianças em seu desenvolvimento. Nos primeiros textos fui apresentado a um pedagogo italiano: Malaguzzi. Ele propõe uma educação básica forte, centrada na criança, com o trabalho dos professores e apoio dos pais. Uma educação que não busca resultados ou aprovações, uma educação que prepara para a vida. (Ah, se disser alguma bobagem me corrijam que ainda estou só começando.)
Também na última semana lancei um projeto novo. Um financiamento coletivo para produzir uma versão em audiolivro, moderna e diversa do clássico Branca de Neve. Projeto aplaudido pela minha bolha, porém virou notícia, chegou a muita gente, e não demorou aparecerem os "haters". Um perfil de um homem branco, se autointitulando conservador de direita, disse que só gente do "meu tipo" poderia destruir um conto lindo desses. (Ele ainda nem leu o texto.)
Fiquei pensando depois de trocar algumas mensagens com o tal fulano: esse homem acredita no que me diz? Ou escreve somente para destilar ódio?
Quando vejo gente defendendo a cloroquina, pessoas de festas em festas apesar do número alto de mortos, quando vejo quem apoia o presidente nefasto, ou todos aqueles que lhe deram o voto, penso: é maldade? Ou acreditam realmente?
Óbvio que existe uma porcentagem de fascistas, tem em todo canto. Mas cada vez mais, principalmente agora contagiado pelo bichinho da pedagogia, estou convencido que isso tudo, o ódio às minorias, a falta de respeito pelo próximo, e até a eleição do abominável, é tudo resultado dessa má educação que damos ao nosso povo. E não estou falando só dos mais pobres que frequentam escolas públicas conhecidas por seu suposto baixo nível. Digo a educação de todos nós. Educação que tem como objetivo preparar a criança para provas, para reter conhecimento, pra passar no vestibular.
Essa educação sem graça, mecânica, vazia, querendo o resultado pelo resultado, é a normalidade no nosso país. Tirando pequenas exceções, eu, você, quase todo brasileiro foi educado segundo essa visão de mundo. Incluindo a elite.
Não me lembro se escutei ou li, acho que escutei, no dia em que ela lançou seu livro de memórias. Era época de eleições, segundo turno entre o nefasto e o professor Haddad. A jornalista Bárbara Gancia contou que sua família às vezes recebia seus familiares europeus de visita. Jantares, drinks, coisa de gente grã-fina, e parece que os parentes ficavam abismados com a falta de livros na casa dos ricos brasileiros. Numa casa de pobre era natural, mas em casa de rico? E hoje continua assim, a única diferença é que agora os arquitetos colocam no projeto da casa sonhada uma estante cheia de volumes caríssimos que possivelmente nunca serão abertos.
Então quando você encontrar um sujeito desagradável, agressivo, nas redes sociais ou na vida. Quando tiver que lidar com alguém aparentemente racista, a favor da pena de morte, da ditadura, quando você encontrar uma defensora da Cloroquina, ou um imbecil que pensa que a Terra é plana, pense que talvez ele seja sim, um imbecil, facista, estúpido, mas também existe uma enorme probabilidade dele ser mais uma vítima de um sistema educacional precário que vai muito além da classe sócioeconômica.
É preciso investir na primeira infância, numa formação humanista, preparando nossas crianças para que sejam seres éticos e empáticos, capazes de ler, mas não só livro de autoajuda. Pessoas que leiam de verdade, entendendo que ler é se desafiar a percorrer o mundo e questioná-lo a partir do olhar de um autor. Que ler é olhar para aquele personagem, fictício ou não, e se permitir por um instante aprender e absorver algo novo. É permitir sentir a vulnerabilidade que significa se colocar no lugar do outro.
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